Monumento a Antero de Quental.
31.12.10
23.12.10
LUGAR ONDE Nº 101 - Semanário BADALADAS de 24 DEZ 2010
NATAL
SAUDADE OU ESPERANÇA?
Natal, centro histórico da nossa infância. Fascínio da memória, saudade do lume antigo. E choramos as ruínas e os escombros dos anos, agora que não há luzes e as baladas se calaram. Quem pode falar de Natal a quem tem fome e sede de justiça? A quem perdeu um filho, um pai? Que Natal podemos convocar a quem tudo falta? Natal: saudade ou esperança?
Teixeira de Pascoaes: “Vemos somente recordações, memórias, da divina Esperança. Somos lembranças de Deus; e é por isso que temos a faculdade de o perceber ou inventar…”
Que resta de tantos natais de esperança para quem perdeu a esperança do Natal?
Que o lume se ateie! Que a luz ilumine! Que a esperança renasça!
*
HISTÓRIA ANTIGA
Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava, e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava, e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.
E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da Nação.
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da Nação.
Mas,
Por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.
Por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.
MIGUEL TORGA
*
NATAL À BEIRA-RIO
É o braço do abeto a bater na vidraça?
E o ponteiro pequeno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,
A trazer-me da água a infância ressurrecta.
Da casa onde nasci via-se perto o rio.
Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!
E o Menino nascia a bordo de um navio
Que ficava, no cais, à noite iluminado...
Ó noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra a terra me envolvia
E quanto mais na terra fazia o norte de quem erra.
Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
À beira desse cais onde Jesus nascia...
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
Precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?
DAVID MOURÃO-FERREIRA
*
FALAVAM-ME DE AMOR
Quando um ramo de doze badaladas
se espalhava nos móveis e tu vinhas
solstício de mel pelas escadas
de um sentimento com nozes e com pinhas,
menino eras de lenha e crepitavas
porque do fogo o nome antigo tinhas
e em sua eternidade colocavas
o que a infância pedia às andorinhas.
Depois nas folhas secas te envolvias
de trezentos e muitos lerdos dias
e eras um sol na sombra flagelado.
O fel que por nós bebes te liberta
e no manso natal que te conserta
só tu ficaste a ti acostumado.
NATÁLIA CORREIA
*
NATAL CHIQUE
Percorro o dia, que esmorece
Nas ruas cheias de rumor;
Minha alma vã desaparece
Na muita pressa e pouco amor.
Hoje é Natal. Comprei um anjo,
Dos que anunciam no jornal;
Mas houve um etéreo desarranjo
E o efeito em casa saiu mal.
Valeu-me um príncipe esfarrapado
A quem dão coroas no meio disto,
Um moço doente, desanimado...
Só esse me pareceu Cristo.
VITORINO NEMÉSIO
*
OS PROFETAS
Assombra, esta verdade que trazemos.
Aterra, a nitidez com que falamos.
Mas nós, mais do que vós, nos aterramos
Da certeza que temos.
Porque há distâncias que ninguém transpôs
E predizer é ser no Tempo - Aquém.
Correm palavras, como um rio, em nós:
A Verdade é Belém.
REINALDO FERREIRA
*
PRECE DE NATAL
Menino Jesus
De novo nascido,
Baixai o sentido
Para a nossa cruz!
Vede que os humanos
Erros e cuidados
Nos são tão pesados
Como há dois mil anos.
A nossa ignorância
É um fardo que arde.
Como se faz tarde
Para a nossa ânsia!
Nós somos da Terra,
Coisa fria e dura.
Olhai a amargura
Que esse olhar encerra.
Colai o ouvido
À alma que sofre;
Abri esse cofre
Do sonho escondido.
Pegai nessa mão
Que treme de medo;
Sondai o segredo
Da minha oração.
Esta pobre gente
Que mal é que fez?
Nós somos, talvez,
Um povo «inocente»...
Menino Jesus
Que andais distraído
Baixai o sentido
Para a nossa cruz!
(…)
Carlos Queiroz (1907-1949)
Presépio de Machado de Castro - Basílica da Estrela, Lisboa
*
CEM LUGARES! ONDE?
Foi em Julho de 2002 que teve início esta página mensal LUGAR ONDE que atingiu em Novembro o número 100. Espaço de outras leituras, literaturas, escritas e dizeres das nossas vivências culturais. Intenção de aqui trazer contrapontos, outros pontos de vista, as intuições dos poetas, a expressão da arte escrita, ou outras artes. Um projecto a partir da verificação de que “a escuridão que cobre tantos recantos do nosso tempo se deve ao gasto excessivo das palavras, tornadas irrelevantes.” E a partir da ideia cada vez mais arreigada em nós de que a literatura é o LUGAR em que o homem encontra as palavras essenciais da vida, do mundo. E também da interrogação: ONDE?
LUGAR ONDE: venham mais cem!
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Presépio. Poemas de Natal. Lugar Onde
16.12.10
ACONTECE
Adiante. Pinto Coelho e a cultura que ele tão bem serviu pertencem a um mundo bem diferente, onde as viagens não se contabilizam. Nunca dei pela falta do Sarmento mas pela do Carlos sim, e muito.
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Acontece,
Carlos Pinto Coelho
13.12.10
CHEGÁMOS A 100!
Teve início em Julho de 2002 e sai mensalmente.
É um espaço de livros, leituras, autores e, por vezes, de alguns comentários na área cultural.
Um pequeno contra-peso para compensar algum excesso de páginas dedicadas ao desporto...
Realço a autonomia absoluta que sempre me foi dada pela Direcção do jornal.
Não tenho retorno dos leitores, é um facto. As pessoas lêem e deitam fora, jornal é assim mesmo. Mas sei de algumas pessoas que gostam, e isso sabe-me bem...
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chegámos a 100,
LUGAR ONDE
5.12.10
LUGAR PARA SOPHIA
Maria de Sousa Tavares, filha de Sophia
A ler na revista ÚNICA, Expresso de 4/12/2010:
---> a entrevista à filha mais velha de Sophia de Mello Breyner, Maria de Sousa Tavares, que se tem dedicado à organização do importante espólio da poetisa, doado à Biblioteca Nacional.
A ter em conta:
---> o Colóquio sobre Sophia em 27 e 28 de Janeiro de 2011. Ver AQUI.
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Maria Sousa Tavares,
Sophia de Mello Breyner Andersen
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