29.12.06

Mais uma página LUGAR ONDE

No Badaladas, semanário regional de Torres Vedras, 29 de Dezembro:


Desta vez foi o tema dos blogues. E uma pequena homenagem ao amigo poeta torriense Fernando Jorge Fabião, a propósito do seu belíssimo "Lamento da Artesã"



COISA RARA...

Hoje um amigo mandou-me alguns poemas, numa carta à antiga. Maneira de me dizer:"Ei, como vai isso por aí?" Receber uma carta na caixa do correio! Coisa rara, hoje.
Li e gostei. Trata-se de um pequeno conjunto de poemas intitulado “LAMENTO DA ARTESÔ, o qual recebeu em Setembro deste ano o 1º Prémio do Concurso Literário Irene Lisboa.
“Fala de um outro ritmo e, se calhar, de um tempo que está a acabar” – diz-me o autor, Fernando Fabião, torriense nosso bem conhecido desde a primeira página LUGAR ONDE. Que diz ainda: “Face aos tempos infaustos do presente é necessário, cada vez mais, o poder da literatura para abrir janelas, criar instrumentos de felicidade”. Concordo e subscrevo. E aqui deixo alguns poemas soltos deste belíssimo “Lamento da Artesã”.


Primeiro

I
Abro a porta
e a manhã veste-se de alvoroço
vou bordar ( a sépia ) o teu nome
aprendi que sob uma letra
há sempre outra letra
atavio uma frase:
- um retalho de mar no teu recato

I I
um talento irredimível
viajar pelo tacto
acariciar a pele do céu


Último

I
Fecho a oficina:
o irreparável de uma vida
aprendi que o corpo é o não rasurável
um incêndio
na ardósia da noite

I I
Outra lição
o lado táctil da luz:
- os pássaros.

Fernando Fabião

BLOGUES: A NOVA ORDEM SOCIAL

Uma nova realidade está a impor-se no mundo da escrita: a chamada blogosfera, o
mundo dos blogues. O que é isto?

“Fundamentalmente, os blogues servem para as pessoas comunicarem umas com as outros.” – escreve Paulo Querido, professor universitário especialista nesta área.
Como a maior parte das coisas ligadas aos computadores, trata-se de uma realidade que no princípio mete medo e repele mas depois atrai e é útil.
O que é um blogue? É uma forma de escrever na Internet em que se cria um espaço pessoal que funciona como um caderno de apontamentos. Mas com vantagens infinitamente superiores. O que se escreve pode ser facultado ao público, basta que o desejemos e que alguém saiba – ou descubra casualmente – o nosso endereço e tenha interesse em ler. Nesse espaço, cuja leitura pode ser pública mas em que só o autor pode escrever mediante a introdução de uma palavra-chave, vão ficando arquivados todos os textos e imagens que se forem publicando. A forma de cada um criar o seu blogue é muito simples, basta seguir as instruções que abundam em muitos lugares da Net, como o SAPO, por exemplo, ou o CLIX.
Num mundo em que a escrita estava a cair em desuso, a “blogomania” veio introduzir um novo fascínio nesta forma de comunicação. As pessoas deixaram de escrever cartas, bilhetes-postais, mensagens longas. Reduziram-se às mensagens dos telemóveis com seus textos mal ortografados e repletos de abreviaturas. Mas agora, com a generalização dos blogues, a escrita está de novo a reinar. Há textos longos e curtos. Intercalados de fotos, de vídeos ou de outros recursos mais complexos. Cada blogue cria um mundo próprio, personalizado e variado.
Esta realidade é de tal modo avassaladora que todos os jornais estão a aderir a ela, incorporando-a nas suas páginas e usando-a regularmente. Os cépticos alegam que este é mais um modo de agarrar as pessoas ao teclado, afastando-as do convívio com os outros. Seria mau se essa fosse uma realidade recente. Mas não é. Cada época tem os seus espaços de convívio e não adianta ficarmos presos a uma visão romântica do passado. Até porque estas novas tecnologias estão a criar novos laços de comunicação entre as pessoas, sem limites de tempo ou distância.
Não há que ter medo. Estas novidades são para nosso uso, gozo e comodidade. Fazer delas veículos de aproximação entre os homens, vias de diálogo e de enriquecimento interior, é um desafio para todos.

A página do BADALADAS que o leitor está a ler neste momento também já tem o seu blogue desde há alguns meses. Com uma marca pessoal do seu autor, como não podia deixar de ser, e contribuindo para evidenciar que os jornais e a Internet podem ser complementares.

CRIAR O SEU BLOGUE

Desde que tenha uma prática mínima de navegação na Internet qualquer pessoa pode criar o seu blogue. Um caminho pode ser este: aceder ao site www.blogger.com. Aberta esta página, basta fazer as opções pretendidas, numa base de tentativas que podem levar ao fim pretendido em mais ou menos tempo.
Há muitos blogues acessíveis a qualquer pessoa. Basta clicar nos endereços que aparecem frequentemente em blogues conhecidos. Se tiver o Google como motor de busca poderá digitar “O JUMENTO” e verá o que sucede: entra num dos blogues mais interessantes, com comentários à vida portuguesa actual, fotos, etc. Pode ir a outros, como o “Blog da Sabedoria”. Ou “O Sizandro”, blogue de crítica ao universo autárquico de Torres Vedras. Ou ao LUGAR ONDE, passe a publicidade em casa própria.
Divirta-se e actualize-se, caro leitor. E que o ano de 2007 lhe traga dias bons e bonitos.



23.12.06

FESTAS FELIZES?

Numa altura em que tantos vão para o desemprego e milhares de jovens procuram o primeiro trabalho sem o encontrarem, como desejar Festas Felizes?

Não! Não quero paz e alegria para mim, enquanto estes dias são negros e tristes para muitos.

Um abraço de solidariedade para quem não tem motivos para festejar.

22.12.06

EVIDÊNCIAS

Porque é que há evidências que custam tanto a ser vistas?

Pode ler-se hoje no "Diário Digital" esta página:


Portugueses mais ricos deviam pagar mais impostos


Portugal tem a distribuição de rendimento mais desigual na União Europeia. Mas há formas de alterar isso e uma delas «é a introdução de mais progressividade no imposto sobre rendimento», afirma Richard Eckaus, um professor do MIT que acompanha a economia portuguesa desde 1973.
Numa entrevista publicada esta sexta-feira no Diário de Notícias, a qual foi concedida à margem da conferência «Challenges Ahead for the Portuguese Economy», organizada pela Gulbenkian, FLAD e Banco de Portugal, o professor do MIT reconhece que o país enfrenta actualmente «escolhas muito difíceis».
Sistema fiscal mais progressivo, contenção salarial, reforma na educação e regulação mais amiga do investimento são alguns dos conselhos do economista que, na semana passada, foi condecorado pelo Presidente da República pelo papel de conselheiro que desempenhou a seguir à revolução.
A aplicação de uma taxa de imposto negativa que providencie fundos às pessoas situadas nos escalões mais baixos de rendimento é uma dos remédios que Eckaus prescreve e classifica como medida «muito importante porque para Portugal é fundamental garantir uma maior igualdade no sistema».
«Com mais igualdade, as pessoas estão mais disponíveis para aceitar os fardos do ajustamento. E esse ajustamento, de facto, é necessário em Portugal. Além disso, se houver mais progressividade nos impostos sobre o rendimento das pessoas e, com ela, vier também uma subida da receita, passaria a ser possível reduzir a carga ao nível dos impostos sobre a produção», e isso beneficiaria, por exemplo, as empresas que exportam.

Natal?

Que os Governos façam o que devem! Este ou outro, sempre prontos a falar nos desprotegidos. Ainda ontem José Sócrates se pavoneava com o estado actual da nossa economia ( "Há confiança! Há bons resultados!), enquanto no telejornal se noticiava o fecho da fábrica da Azambuja ( 1 400 para o desemprego!), e uma outra fábrica no norte ia pelo mesmo caminho. J. Sócrates pode estar contente com alguns dados gerais da economia mas não pode deixar de falar, simultaneamente, no resto.


21.12.06

Terra que gira

Faz agora uma ano que um grupo de jovens iniciou um blogue de divulgação científica:

terraquegira.blogspot.com

Jovens cientistas, diga-se. Chegados ao mundo da investigação, olham a realidade que os cerca e ficam inquietos. O mundo não é, afinal, o paraíso dos passarinhos felizes que a infância lhes sugeriu. Mas sabem, também, que a Ciência é a porta do conhecimento.
Sabem também que há ignorantes que o são sem culpa. E que há outros cuja ignorância se deve ao comodismo, à cegueira voluntária, porque "o saber dói sempre".
Aos meus amigos sugiro a leitura do blogue destes jovens. É uma porta aberta para o conhecimento fundamentado, tão necessário para melhorar este desgraçado mundo em que vivemos e onde tantos morrem todos os dias devido à nossa ignorância.
Aqui transcrevo o seu mais recente "post", com a devida vénia:

Que a Terra gira sobre si mesmo e à volta do Sol, já todos nós sabemos. Mas nem sempre foi assim. Muitos foram aqueles que se questionaram, que em determinados momentos duvidaram e com paixão investigaram. Muitas descobertas foram feitas desde que a ciência se tornou uma estrutura sólida. Pelo caminho, muitos se calaram ou foram calados, muitos morreram no processo… numa batalha sem igual … Pela primeira vez, que se saiba, a matéria ganhou consciência de si própria… consciência que lhe deu a capacidade de duvidar, de questionar e assim aprender… ”e no entanto ela move-se”, desabafou Galileu no final de uma batalha perdida. Mas agora, mais do que nunca, novos desafios se levantam. Cientistas continuam a fazer novas descobertas todos os dias. Cientistas que têm a coragem de se questionar e de explorar o mundo em que todos vivemos, de ir mais além atravessando as fronteiras do mundo conhecido e partindo à procura de novas terras por esse universo fora.O interesse por estas questões alargou-se, e através daqueles que albergam um espírito crítico e científico, as notícias das novas descobertas chegam a um público cada vez maior, curioso, que as segue com entusiasmo.Os tempos são outros! Começa a desflorar uma nova consciência ambiental sem precedentes. Hoje as pessoas têm a noção de que os recursos da Terra não são inesgotáveis e de que há um risco real de sermos nós a destruir o sistema que nos permitiu chegar até aqui. É preciso fazer passar a mensagem, de uma forma clara.

Uma Terra Que Gira nasceu com esse objectivo, o de divulgar, o de dar a conhecer a Terra, aquilo que nos rodeia e as pessoas que vão fazendo a diferença, para que não assistamos com a indiferença habitual à vitória da ignorância sobre o conhecimento.Aqui faz-se divulgação científica e dá-se a conhecer quem o faça. Pelo menos tenta-se.
Para preservar, é preciso primeiro explorar, investigar e aprender, mas cabe também a nós, cientistas de alma ou profissão fazer chegar esse conhecimento a toda a sociedade, para que todos possamos viver de uma forma sustentável e responsável nesta Terra que gira.

Terra que gira, Dezembro 2006

MULAS...salvo seja







Na imprensa regional de Torres Vedras têm aparecido, desde há mais de um ano, denúncias diversas sobre aspectos negativos de actuação da Câmara Municipal.
Deixando de lado as queixas mal formuladas ou mal fundamentadas, recordo-me de outras que faziam pensar. Denúncias sérias, bem apresentadas, a exigir resposta cabal.
Qual a reacção da nossa Câmara? O silêncio.
A ideia subjacente é esta: «deixá-los falar que eles calarão-se-ão-se!!»- como dizia o Zé da Balbina . A nossa Câmara espera, assim, que a opinião pública esqueça rapidamente as denúncias.
Isto parece uma atitude inteligente, mas não é. Porque se aparenta demasiado com desprezo pelos cidadãos. Porque se confunde com sobranceria, arrogância. Porque parece dar razão à célebre frase que diz: « O poder corrompe; e o poder absoluto corrompe absolutamente!»
A nossa Câmara Municipal, do PS, tem uma maioria absoluta. E sabe-se como essa realidade pode ser perversa. Todos os partidos com poder absoluto têm reacções idênticas. As Câmaras CDU no Alentejo fazem o mesmo, os PSD no norte idem. E veja-se o caso extremo da Madeira.
Não se trata de atacar ninguém: a questão é de princípio democrático. E o PS que, com razão, foi o grande garante da democracia nos pós 25 de Abril, não pode esquecer isto e comportar-se como os outros. Quando os partidos se tornam barricadas de interesses particulares o caminho fica aberto aos ditadores.
Voltando ao Zé da Balbina. A quem se calava quando devia falar ele rosnava entre dentes: «parece que são Mulas !!!»

16.12.06

O ALEXANDRE 0' NIELL também sabia ...





TOMA LÁ CINCO

Encolhes os ombros, mas o tempo passa...
Ai, afinal, rapaz, o tempo passa!

Um dente que estava são e agora não,
Um cabelo que ainda ontem preto era,
Dentro do peito um outro, sempre mais velho coração,
E na cara uma ruga que não espera, que não espera...

(...)

Grande asneira, rapaz, grande asneira seria
Errar a vida e não errar a pontaria...

Talvez te deixes por uma vez de fitas,
De versos de mau hálito e mau sestro,
E acalmes nas feias o ardor das bonitas
( Como mulheres são mais fiéis, de resto...)

Saudação a Daniel Sant'Iago




Aliás, José António Gomes. Aliás: brincosdepalavra.blogspot.com
Um blogue dedicado à poesia "brincada": palavras viradas e reviradas do avesso - e do direito! - fotos / reproduções / pre - textos, percorridas com os olhos (in)brincados nas palavras, partilha com gente anónima que dá opinião e manda sempre beijinhos, respondidos sempre com "outro". Um mundo!
Agora em livro.
Evoéh, Zé António: já tinhas feito os filhos... já tinhas plantado árvore (s)...
Um abraço

12.12.06

Memória recentes

Num lago sereno toda a alegria da vida que diariamente se renova




Longe, em Timor, uma querida amiga enfrenta a dor de um amor destroçado. A mim chegam apenas os ecos da derrocada. Partilho essas horas com quem de mim fez seu confidente.

De longe, querida Isadora: o meu abraço.

Dias melhores virão.

11.12.06

Morreu...

Sim, esse. Morreu finalmente.
«Se fosse bom...já cá não estaria há muito tempo!» -dizia o Ti Augusto, quando morria algum canalha lá da terra. Razão tinha.
Este, que assombra a nossa memória desde que assaltou o poder democrático no Chile há trinta e tal anos - com ajuda e apoio dos EUA - só agora abalou. E, como quase todos os ditadores, morreu na sua cama.
Mas há gente a chorar por ele!!! Há quem se recolha diante do homem morto e faça o sinal da cruz!
Como dizia Wilhelm Reich nas "Psicologia de Massas do Fascismo": que haja poder fascista, explica-se facilmente: os poderosos não hesitam em recorrer à força para defender os seus privilégios; o que é preciso compreender é por que razão os fascistas conseguem arregimentar grandes faixas da população anónima para o seu lado.
Foi assim com Mussolini, com Franco, com Salazar... Gentinha do povo a gritar "vivas".
Eu vi-os! Ouvi-os! Uma semana antes do 25 de Abril de 1974 um estádio de futebol aplaudiu de pé Marcelo Caetano. Esses mesmos que, uma semana depois, gritavam que "o povo unido jamais será vencido"...
Que a sua alma - se a tinha..- pague a dívida que ninguém lhe cobrou!

7.12.06

JÁ É TEMPO DE REGRESSAR À POESIA...




Sebastião da Gama


1924 - 1952




Meu País Desgraçado

Meu país desgraçado!...
E no entanto há Sol a cada canto
e não há Mar tão lindo noutro lado.
Nem há Céu mais alegre do que o nosso,
nem pássaros, nem águas ...

Meu país desgraçado!...
Por que fatal engano?
Que malévolos crimes
teus direitos de berço violaram?

Meu Povo de cabeça pendida, mãos caídas,
de olhos sem fé
— busca, dentro de ti, fora de ti, aonde
a causa da miséria se te esconde.

E em nome dos direitos
que te deram a terra, o Sol, o Mar,
fere-a sem dó
com o lume do teu antigo olhar.

Alevanta-te, Povo!
Ah!, visses tu, nos olhos das mulheres,
a calada censura
que te reclama filhos mais robustos!

Povo anêmico e triste,
meu Pedro Sem sem forças, sem haveres!
— olha a censura muda das mulheres!
Vai-te de novo ao Mar!
Reganha tuas barcas, tuas forças
e o direito de amar e fecundar
as que só por Amor te não desprezam!



"A sua poesia romântica, singela, carregada de candura, traz-nos um culto do passado e da paisagem que o modernismo desacreditara, e desenvolve a imagem de um Paraíso Perdido Infantil, um local de pureza inicial que estaria para além da vida e da morte."

( in: Cem Poemas Portugueses sobre Portugal e o Mar, Selecção e organização de José Fanha e José Jorge Letria, ed. Terramar, 2003)


6.12.06

Ah! Bom! Haja quem diga em voz alta depois de governar em voz baixa...

UMA ENTREVISTA A LER






Joaquim Azevedo foi Secretário de Estado do Ensino Básico e Secundário e é, actualmente, coordenador do debate nacional de Educação lançado pelo Conselho Nacional de Educação.
Numa entrevista no Público de 4 de Dezembro (e que foi transmitida dias antes pela Rádio Renascença) diz coisas interessantes. No fundamental defende o esvaziamento do Ministério de Educação e a "devolução da escola aos seus actores".


Frases em destaque:

"Em Portugal até saiu legislação sobre o formato dos cacifos nas escolas..."

"Estamos ao mesmo tempo a descredibilizar a escola e a mandatá-la para fazer tudo o que a sociedade e as famílias não fazem. É suicidário."

"Carregamos a escola com todos os fardos da educação e das debilidades sociais e depois deixamo-la sozinha a resolver todos os problemas."

Acrescento:

Dar voz e autonomia às escolas? Tudo bem, desde que haja acompanhamento regular da parte de um órgão central. Não uso propositadamente a palavra "inspecção" porque tem uma carga pejorativa.

O acompanhamento destina-se a dissuadir as perversões da autonomia. É que há por aí muitos Albertinhos Jardinzinhos disfarçados, que só esperam a oportunidade de poderem mandar em alguém. E eu não queria acabar a minha carreira profissional a aturar ditadores de trazer por casa...Mal por mal, antes a Dona Milu, que não preciso de ver todos os dias...

5.12.06

TROQUEMOS AS VOLTAS AO CALENDÁRIO

VIVÓ CARNAVANATAL !!!






Com a obcessão comercial e consumista pelo Natal, apetece mandar tudo ao ar, gozar esta treta até ao absurdo. "Abaixo os vendilhões!!!"

Qual menino jesus, qual quê! Vamos mas é vender tralhas, decorações, mesas de consoada, motivos natalícios - e outros panarícios! Tudo tão bonito, tão verde e rubro, tantas luzinhas, tanto espírito natalício - tanto mretrício!

Apetece ir já pró Carnaval! E vou mesmo! Caraças, estamos em Torres Vedras!







E para animar, aí vai o texto que o LUGAR ONDE escreveu para a revista O BARRETE, editada no Carnaval deste ano pela Associação para a Defesa e Divulgação do Património Cultural de Torres Vedras, revista que fez dez anos de publicação (« O BARRETE! Dez anos a metê-lo!» ).

TESTAMENTO DO CARNAVAL DE 2006

Saibam quantos esta lerem
Que me vou não tarda nada
Deste carnaval da vida
Mais pobrinho que à entrada.
Já me chamaram Entrudo
Mas agora, é como tudo:
Mais por vós do que por mim,
É mister chegar ao fim...

A vida que me foi dada
Está nas lonas podem crer
E para não me arrepender
Vou ditar o testamento
Que no derradeiro alento
Deixo a quem o quiser ler

Aos torrienses velhinhos
Deixo lares e seus santinhos
Orações e devoções
Para aconchegar as almas
Agora que já estão salvas
E não podem mais pecar.
No tempo da juventude
Foi brincar à fartazana
Comer, beber e fazer
Mil patifarias sem ver
Que o fim havia de vir,
Porque a última a rir
É a morte, grande sacana,
Que todos temos em sorte
Ninguém consegue fugir.

Aos torrienses mais novos
Deixo para consumir
Em todas as estações:
Boletins do euromilhões
Para terem a ilusão
De que vão enriquecer
Só com um euro na mão.
E como sou bué de roto
Também deixo o totoloto
P’ra se entreterem a pôr
cruzinhas nos quadradinhos
convencidos, coitadinhos,
que vão ser todos ricos.

A todos os professores
Vou deixar em testamento
Muitos alunos reguilas
Burrinhos e atrasados,
Meninos finos, mimados
E outros chamados “carentes”...
Deixo uma praga de calões
Muitos deles repetentes
E mais os paizinhos deles
P’ra se poder comprovar
Que eram piores do que os filhos
Quando andaram a estudar.

Aos médicos de Torres Vedras
Que nos tratam da saúde
A quem recorro amiúde
Para mal dos meus pecados,
Deixo os ossos empenados
Mais um grande panarício
Resultado do meu vício
De descascar rebuçados.
Deixo horas extraordinárias
Para mudarem de carro
E comprarem a última bomba...
O Zé Povinho é quem alomba
Quando vai para as urgências
E lá fica, horas mil,
Dando o corpo ao manifesto
Até esticar o pernil
À espera do senhor doutor
Que acabará com o resto...

Aos políticos locais
Deixo promessas fecundas:
Dinheiro para gastar
Em mais setenta rotundas;
Casitas para morarem
No mais rico loteamento
Que ajudaram a aprovar
Para o desenvolvimento.

Ó Torres Vedras! Ditosa
Terra que me viu nascer:
Prepara-te que eu vou morrer
Falta pouco, tarda nada...
Digo adeus ao belo vinho
De onde te vem a fama
Que bebia de manhã
Até à noite, ao ir p’rá cama.

Adeus, ó belas carcaças
A lancharem no Império...
Adeus velho Torriense
Que resiste por mistério...
Adeus, ó velhas indústrias
E quem nelas trabalhou...
Agora só dais rendimento
A quem de vós mais roubou!

Adeus ó Jardim da Graça
Cujo grande obelisco
Deu um enorme trabalho
A ser ali construído
E agora parece um paspalho
À espera de ser removido...

Adeus, ó Serra da Vila,
De encosta tão verdejante,
Retalhada de betão
Por causa da “Variante”...

Adeus, escritores locais,
De obras tão afamadas
Que eu tanto adorava ler
até as não publicadas...

Adeus,artistas da terra
Criadores tão geniais
Que ninguém consegue entender
As obras que vós obrais...

Adeus, mil vezes adeus,
Mas não o digo a chorar:
A vida foi divertida
Fartei-me aqui de brincar.

Foliões e matrafonas,
Deste nosso carnaval
Provaram mais uma vez
Que este é o mais português
Que se faz em Portugal.

A minhas viúvas já gritam
Aos quatro ventos a sorte
De se verem livres de mim
Por causa da minha morte.
A verdade é para ser dita:
Acabou-se o corropio
Agora estou por um fio,
Preciso de descansar,
Podem-me já enterrar...

Mas p´ró ano, queiram ou não,
Eu hei-de ressuscitar!



















4.12.06

Começa a semana...


Tenho trabalho, muito trabalho. Não me queixo. É bom ter (muito) trabalho - penso nos que se queixam do contrário.

E regresso à escola, com a alegria de re-encontrar amigos. Tenho uma turma difícil, é verdade. Mas cada dia é um desafio.








Este é o lugar onde me encontro todos os dias com os meus amigos: alunos, colegas...

"Um bom professor é o que mostra alegria por estar com os alunos" - escreveu um dia uma aluna numa avalição que lhe pedi.

Procuro não me esquecer disso, todos os dias.