9.11.06

José Gil: "QUEM SE IMPORTA COM OS PROFESSORES?"

Acabo de ler o artigo de José Gil na VISÃO de hoje, com este título.
Chamo a atenção para ele. Felizmente aparece alguém prestigiado, a dizer o que, sendo óbvio, se tornou "politicamente incorrecto": os professores trabalham! E muito!
Mas o que está na moda é dizer mal dos professores.
Pessoas que não conseguem "controlar" em casa um miúdo de cinco anos, arrogam-se o direito de atacar quem tem de trabalhar com dezenas de crianças e jovens todos os dias.
Pessoas que não conseguem motivar um filho para ajudar em casa, não percebem o trabalho dos professores que procuram todos os dias motivar dezenas de jovens para aprendizagens difíceis.
Pessoas que não pegam num livro para estudar um assunto qualquer, que vivem numa constante preguiça mental, desvalorizam o trabalho dos professores que lutam quase sozinhos contra a incultura geral, contra o vazio de valores e de saberes em que se tornou a Televisão, contra o consumismo desenfreado em que se atolam mais as suas criancinhas.
Pessoas que não têm tempo para amar os filhos, ou que os estragam com privilégios absurdos, esperam dos professores que estes sejam capazes de restaurar as personalidades deformadas das crianças.
Aos vinte e três anos tive uma entrevista num Banco e era só dizer que sim para iniciar uma carreira bancária. Como muitos colegas meus que já estão reformados há anos e a receber o dobro do que ganho. Não quis e escolhi o ensino. Jamais me arrependi.
Em cada manhã penso: e se, em vez de ir ao encontro dos jovens que me esperam, eu tivesse de caminhar para a agência bancária, passar o dia a manipular dinheiro, cheques, promissórias, vales, financiamentos, etc.?
E os jovens lá estão. Custa-lhes, porque o esforço custa. Mas se eu estiver alegre, eles ficam alegres. Se eu me esforçar, eles esforçam-se. Todos os anos faço dezenas de amigos.
O que me custa agora é ver, ao fim de trinta e cinco anos de carreira, uma equipa do Ministério da Educação que ultraja os professores com um tratamento absolutamente injusto, revoltante.
E que essa equipa não reconheça o meu trabalho e contribua para o agravamento das condições em que se realiza.
Ninguém ignora que a incultura geral dos portugueses tende a desvalorizar a escola e que o insucesso escolar, em grande parte, tem origem aqui. Pois o ME não encontra melhor saída para esse problema do que tratar os professores como se fossem um bando de inúteis.
Espero pelo futuro com impaciência. Porque esta equipa do ME será desalojada - mas as escolas continuarão, com seus jovens e seus professores.

1 comentário:

avelaneiraflorida disse...

OS alunos VALEM mais do que meras estatísticas!!!!!
Deixem-nos Aprender, Fazer, Usar Cursos Tecnológicos A SÈRIO!!!!
Não lhes neguem o direito aos PORQUÊS?
A ignorância já serviu, demasiadamente, interesses e poderes na HISTÒRIA HUMANA!!!!!