15.1.07

A VIDA É UMA PERPÉTUA DESPEDIDA











ANTOLOGIA Poemas de despedida



Meditação do Duque de Gandia
sobre a morte de Isabel de Portugal

Nunca mais
A tua face será pura e viva
Nem o teu andar como onda fugitiva
Se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.

Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.

Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre,
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória, a luz e o brilho do teu ser,
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência,
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para te não ver.

Nunca mais servirei senhor que possa morrer.

(Sophia de Mello Breyner Andresen)

Este poema toma como referente a história ligada ao Duque de Gandia, futuro S. Francisco de Bórgia (1510-1572) que, depois de enviuvar de uma fidalga portuguesa, D. Leonor de Castro, se terá apaixonado pela esposa do rei de Espanha, a princesa D. Isabel de Portugal – que morreu muito nova.

==*==

Quando o último pássaro morrer
na última oliveira a ocidente
opõe o peito ao que acontecer
e levanta a cabeça dignamente

Despede-te da terra onde nascer
tu nascias enfim continuamente
repara no nascente e no poente
que muito em breve deixarás de ver

Não valem cinco pássaros apenas
dois asses e deus não os reconhece
no meio das demais coisas terrenas?

Levanta-te. Coragem coração
o espírito nas coisas comparece
aproxima-se a libertação
(Ruy Belo)

==*==

(...)
Chegou enfim o tempo do adeus
Oiço a canção efémera das coisas
despeço-me da terra da alegria
(...)
A despedida súbita do sol
despedida dos dias e estações
crepúsculo propício ao adeus
a esta vida frágil é que aspiro
triunfo sobre a vida fugitiva
ave entregada ao decisivo voo
pensamentos de terna nostalgia
jardim de harmoniosos pensamentos
dou-te de toda alma o nome da ausente
árvore em flor no bosque fonte no deserto
(Ruy Belo)

2 comentários:

Anónimo disse...

Além destes exemplos, lindíssimos, apenas( para mim!!)falta uma "coisa"de lá de trás... A cantiga " Partindo-se" do meu amigo Joham Rodrigues de Castel-Branco...
Lembrá-la é sempre uma nova "despedida"!!!!
"Senhora, partem tão tristes..."[...]

Joaquim Moedas Duarte disse...

Ficará para a próxima. tem um "registo" diferente...
Mas também gosto muito.
Obrigado por apareceres, Avelã.

Bjos