“O grande intérprete da sociedade portuguesa”
EDUARDO LOURENÇO, O PENSADOR AFÁVEL
Nos anos 60 houve um
livro que nos abriu horizontes inesperados: Mitologias, de Roland
Barthes. Lembro-me bem do fascínio que me provocou, a mim e a tantos cuja
formação se fez na escola de pensamento francês. Abalo semelhante só vim a
tê-lo, anos mais tarde, quando descobri Eduardo Lourenço.
Vive em França há mais de 50 anos, onde desenvolve atividade
docente universitária mas detesta que o considerem estrangeirado. É por estar lá fora que se sente muito mais cá dentro,
num desses paradoxos que são marca da sua escrita ensaística. É a distância,
que não significa afastamento, que lhe permite a análise profunda, a visão
inteligente, instrumentos de observação lúcida mas sempre carregada de afetos.
Leitor voraz e atento, observador arguto das Artes, os seus
inúmeros ensaios convidam-nos a uma apaixonante viagem pela nossa Cultura
contemporânea. Fiel a um apurado e exigente sentido cívico, situando-se no
campo das esquerdas, tem sido um incansável analista dos fenómenos políticos e
sociais que aborda com argúcia e lucidez.
Mas Eduardo Lourenço não se arvora em juiz da pátria, em
profeta de mensagens salvíficas, como vimos fazer a outros. Filósofo de
formação, leva a sério a velha mensagem do templo grego - “conhece-te a ti
mesmo” - e é nessa linha que ele nos lê,
nos olha, nos entende. E no final de cada um dos seus textos é como se
dissesse: eu sou um de vós, sei isto porque sou isto também.
Tal como no livro de Barthes, encontrámos em Eduardo
Lourenço o sentido crítico, a análise fulgurante e a reflexão iluminadora sobre
os nossos desgastados quotidianos.
JMD
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Biografia
EDUARDO LOURENÇO
(DE FARIA) nasceu a 23 de Maio de 1923, em S. Pedro de Rio Seco, concelho de
Almeida, distrito da Guarda. É o filho mais velho (de sete) de Abílio de Faria,
oficial do Exército, e de Maria de Jesus Lourenço. Frequenta a Escola Primária
na sua terra natal. Depois ingressa no Liceu da Guarda e termina os seus
estudos secundários no Colégio Militar em Lisboa. Frequenta o Curso de
Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra onde
conclui a Licenciatura no dia 23 de Julho de 1946, com uma Dissertação com o
título O Sentido da Dialéctica no Idealismo Absoluto. Primeira parte.
Assume as funções
de Professor Assistente nessa Universidade, cargo que desempenha até 1953.
Desde então e até 1958 exerce as funções de Leitor de Língua e Cultura
Portuguesa nas Universidades de Hamburgo, Heidelberg e Montpellier. Nos anos de
1958 e 1959, rege, na qualidade de Professor Convidado, a disciplina de
Filosofia na Universidade Federal da Baía (Brasil). Ocupa depois o lugar de
Leitor a cargo do Governo francês nas Universidades de Grenoble e de Nice.
Nesta última Universidade irá desempenhar posteriormente as funções de
Maître-Assistant, cargo que manterá até à sua jubilação no ano lectivo de
1988-1989.
Publica, em edição
de autor, o seu primeiro livro Heterodoxia I em Novembro de
1949. Casa com Annie Salomon em 1954. Em 1966, nasce o seu filho adoptivo, Gil.
Ao seu livro Pessoa Revisitado – Leitura Estruturante do Drama em Gente é
atribuído o Prémio Casa da Imprensa (1974). Em 10 de Junho de 1981, é
condecorado com a Ordem de Sant’Iago d’Espada. Pelo seu livro Poesia e
Metafísica recebe, no ano de 1984, o Prémio de Ensaio Jacinto Prado
Coelho. Dois anos mais tarde, é distinguido com o Prémio Nacional da Crítica
graças a Fernando, Rei da nossa Baviera. Por ocasião da publicação
da sua obra Nós e a Europa – ou as duas razões, é galardoado com o
Prémio Europeu de Ensaio Charles Veillon, que distingue o conjunto da sua obra.
Dirige, a partir do Inverno de 1988, a revista Finisterra - Revista de
Reflexão e Crítica. É nomeado Adido Cultural junto da Embaixada de Portugal
em Roma. É condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique (Grande Oficial).
Recebe, no dia 1 de Julho de 1992, o Prémio António Sérgio. Participa no
Parlamento Internacional de Escritores que decorre entre 28 e 30 de Setembro de
1994 em Lisboa. Pela sua obra O Canto do Signo recebeu em 1995
o Prémio D. Dinis de Ensaio.Nos últimos anos, Eduardo Lourenço recebeu inúmeras
distinções, entre as quais se destacam: Prémio Camões (1996), Officier de
l’Ordre de Mérite pelo Governo francês (1996), Chevalier de L’Ordre des Arts et
des Lettres pelo Governo francês (2000), Prémio Vergílio Ferreira da
Universidade de Évora (2001), Medalha de Ouro da Cidade de Coimbra (2001),
Cavaleiro da Legião de Honra (2002), Prémio da Latinidade (2003), Grã-Cruz da
Ordem Militar de Sant’Iago da Espada (2003), Prémio Extremadura a la Creación
(2006), Medalha de Mérito Cultural pelo Governo português (2008), Medalha de
Ouro da Cidade da Guarda (2008) e Encomienda de Numero de la Orden del Mérito
Civil pelo Rei de Espanha (2009).
Eduardo Lourenço é
ainda Doutor Honoris Causa pelas Universidades do Rio de Janeiro (1995),
Universidade de Coimbra (1996), Universidade Nova de Lisboa (1998) e
Universidade de Bolonha (2006). Desde 2002 exerce as funções de administrador
não executivo da Fundação Calouste Gulbenkian.
Em Dezembro de
2011, foi-lhe atribuído o Prémio Pessoa.
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Eduardo Lourenço vence Prémio Pessoa 2011
Eduardo
Lourenço é o 25.º distinguido com o Prémio Pessoa. O anúncio foi feito no
Palácio de Seteais em Sintra por Francisco Pinto Balsemão, Presidente do júri,
constituído por Fernando Faria de Oliveira, António Barreto, Clara Ferreira
Alves, Diogo Lucena, João Lobo Antunes, José Luís Porfírio, Maria de Sousa,
Mário Soares, Miguel Veiga e Rui Magalhães Baião.
"Num
momento crítico da História e da sociedade portuguesa, torna-se imperioso e
urgente prestar reconhecimento ao exemplo de uma personalidade intelectual,
cultural, ética e cívica que marcou o século XX português", escreveu o
júri em comunicado sobre a escolha de Eduardo Lourenço, homenageando "a
generosidade e a modéstia desta sabedoria, que tendo deixado uma marca
universal nos Estudos Portugueses e nos Estudos Pessoanos, nunca desdenhou a
heterodoxia nem as grandes questões do nosso tempo e da nossa identidade".
Para
o júri, do qual Eduardo Lourenço foi membro até 1993, este prémio pretende
prestigiar o filósofo e a sua intervenção na sociedade, "ao longo de
décadas de dedicação, labor e curiosidade intelectual, que o levaram à
constituição de uma obra filosófica, ensaística e literária sem paralelo".
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PRÉMIOS LITERÁRIOS ?
«Não acho que os prémios tornem alguém melhor ou pior, mas
regozijo-me quando são justos. A atribuição do Prémio Pessoa a Eduardo Lourenço
não o faz maior do que já é, mas a publicidade que envolve atrairá mais gente à
sua magnífica obra. Os verdadeiros vencedores do Prémio Pessoa são todos os
curiosos que através do prémio tomarão pela primeira vez contacto com a obra
maior daquele que é um dos pouquíssimos intelectuais a pensar Portugal em
profundidade.»
CITAÇÕES
“Que o português médio conhece mal a sua terra
– inclusive aquela que habita e tem por sua em sentido próprio – é um facto que
releva de um mais genérico comportamento nacional, o de viver mais a sua existência do que compreendê-la.”
“Os Portugueses vivem em permanente representação, tão obsessivo é neles o sentimento de fragilidade íntima inconsciente e a correspondente
vontade de a compensar com o desejo de fazer boa figura, a título
pessoal ou coletivo.”
(in: O
Labirinto da Saudade, Gradiva,
2005.)