27.5.12

EDUARDO LOURENÇO - O pensador afável (BADALADAS, maio 2012)



“O grande intérprete da sociedade portuguesa”

EDUARDO LOURENÇO, O PENSADOR AFÁVEL

Nos anos 60 houve um livro que nos abriu horizontes inesperados: Mitologias, de Roland Barthes. Lembro-me bem do fascínio que me provocou, a mim e a tantos cuja formação se fez na escola de pensamento francês. Abalo semelhante só vim a tê-lo, anos mais tarde, quando descobri Eduardo Lourenço.

Vive em França há mais de 50 anos, onde desenvolve atividade docente universitária mas detesta que o considerem estrangeirado. É por estar lá fora que se sente muito mais cá dentro, num desses paradoxos que são marca da sua escrita ensaística. É a distância, que não significa afastamento, que lhe permite a análise profunda, a visão inteligente, instrumentos de observação lúcida mas sempre carregada de afetos.
Leitor voraz e atento, observador arguto das Artes, os seus inúmeros ensaios convidam-nos a uma apaixonante viagem pela nossa Cultura contemporânea. Fiel a um apurado e exigente sentido cívico, situando-se no campo das esquerdas, tem sido um incansável analista dos fenómenos políticos e sociais que aborda com argúcia e lucidez.
Mas Eduardo Lourenço não se arvora em juiz da pátria, em profeta de mensagens salvíficas, como vimos fazer a outros. Filósofo de formação, leva a sério a velha mensagem do templo grego - “conhece-te a ti mesmo”  - e é nessa linha que ele nos lê, nos olha, nos entende. E no final de cada um dos seus textos é como se dissesse: eu sou um de vós, sei isto porque sou isto também.
Tal como no livro de Barthes, encontrámos em Eduardo Lourenço o sentido crítico, a análise fulgurante e a reflexão iluminadora sobre os nossos desgastados quotidianos.
JMD

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Biografia

 EDUARDO LOURENÇO (DE FARIA) nasceu a 23 de Maio de 1923, em S. Pedro de Rio Seco, concelho de Almeida, distrito da Guarda. É o filho mais velho (de sete) de Abílio de Faria, oficial do Exército, e de Maria de Jesus Lourenço. Frequenta a Escola Primária na sua terra natal. Depois ingressa no Liceu da Guarda e termina os seus estudos secundários no Colégio Militar em Lisboa. Frequenta o Curso de Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra onde conclui a Licenciatura no dia 23 de Julho de 1946, com uma Dissertação com o título O Sentido da Dialéctica no Idealismo Absoluto. Primeira parte.

 Assume as funções de Professor Assistente nessa Universidade, cargo que desempenha até 1953. Desde então e até 1958 exerce as funções de Leitor de Língua e Cultura Portuguesa nas Universidades de Hamburgo, Heidelberg e Montpellier. Nos anos de 1958 e 1959, rege, na qualidade de Professor Convidado, a disciplina de Filosofia na Universidade Federal da Baía (Brasil). Ocupa depois o lugar de Leitor a cargo do Governo francês nas Universidades de Grenoble e de Nice. Nesta última Universidade irá desempenhar posteriormente as funções de Maître-Assistant, cargo que manterá até à sua jubilação no ano lectivo de 1988-1989.

Publica, em edição de autor, o seu primeiro livro Heterodoxia I em Novembro de 1949. Casa com Annie Salomon em 1954. Em 1966, nasce o seu filho adoptivo, Gil. Ao seu livro Pessoa Revisitado – Leitura Estruturante do Drama em Gente é atribuído o Prémio Casa da Imprensa (1974). Em 10 de Junho de 1981, é condecorado com a Ordem de Sant’Iago d’Espada. Pelo seu livro Poesia e Metafísica recebe, no ano de 1984, o Prémio de Ensaio Jacinto Prado Coelho. Dois anos mais tarde, é distinguido com o Prémio Nacional da Crítica graças a Fernando, Rei da nossa Baviera. Por ocasião da publicação da sua obra Nós e a Europa – ou as duas razões, é galardoado com o Prémio Europeu de Ensaio Charles Veillon, que distingue o conjunto da sua obra. Dirige, a partir do Inverno de 1988, a revista Finisterra - Revista de Reflexão e Crítica. É nomeado Adido Cultural junto da Embaixada de Portugal em Roma. É condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique (Grande Oficial). Recebe, no dia 1 de Julho de 1992, o Prémio António Sérgio. Participa no Parlamento Internacional de Escritores que decorre entre 28 e 30 de Setembro de 1994 em Lisboa. Pela sua obra O Canto do Signo recebeu em 1995 o Prémio D. Dinis de Ensaio.Nos últimos anos, Eduardo Lourenço recebeu inúmeras distinções, entre as quais se destacam: Prémio Camões (1996), Officier de l’Ordre de Mérite pelo Governo francês (1996), Chevalier de L’Ordre des Arts et des Lettres pelo Governo francês (2000), Prémio Vergílio Ferreira da Universidade de Évora (2001), Medalha de Ouro da Cidade de Coimbra (2001), Cavaleiro da Legião de Honra (2002), Prémio da Latinidade (2003), Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada (2003), Prémio Extremadura a la Creación (2006), Medalha de Mérito Cultural pelo Governo português (2008), Medalha de Ouro da Cidade da Guarda (2008) e Encomienda de Numero de la Orden del Mérito Civil pelo Rei de Espanha (2009).

Eduardo Lourenço é ainda Doutor Honoris Causa pelas Universidades do Rio de Janeiro (1995), Universidade de Coimbra (1996), Universidade Nova de Lisboa (1998) e Universidade de Bolonha (2006). Desde 2002 exerce as funções de administrador não executivo da Fundação Calouste Gulbenkian.

Em Dezembro de 2011, foi-lhe atribuído o Prémio Pessoa.

 http://www.eduardolourenco.uevora.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=51&Itemid=57&lang=pt

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Eduardo Lourenço vence Prémio Pessoa 2011

Eduardo Lourenço é o 25.º distinguido com o Prémio Pessoa. O anúncio foi feito no Palácio de Seteais em Sintra por Francisco Pinto Balsemão, Presidente do júri, constituído por Fernando Faria de Oliveira, António Barreto, Clara Ferreira Alves, Diogo Lucena, João Lobo Antunes, José Luís Porfírio, Maria de Sousa, Mário Soares, Miguel Veiga e Rui Magalhães Baião.
"Num momento crítico da História e da sociedade portuguesa, torna-se imperioso e urgente prestar reconhecimento ao exemplo de uma personalidade intelectual, cultural, ética e cívica que marcou o século XX português", escreveu o júri em comunicado sobre a escolha de Eduardo Lourenço, homenageando "a generosidade e a modéstia desta sabedoria, que tendo deixado uma marca universal nos Estudos Portugueses e nos Estudos Pessoanos, nunca desdenhou a heterodoxia nem as grandes questões do nosso tempo e da nossa identidade".
Para o júri, do qual Eduardo Lourenço foi membro até 1993, este prémio pretende prestigiar o filósofo e a sua intervenção na sociedade, "ao longo de décadas de dedicação, labor e curiosidade intelectual, que o levaram à constituição de uma obra filosófica, ensaística e literária sem paralelo".





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 PRÉMIOS LITERÁRIOS ?

«Não acho que os prémios tornem alguém melhor ou pior, mas regozijo-me quando são justos. A atribuição do Prémio Pessoa a Eduardo Lourenço não o faz maior do que já é, mas a publicidade que envolve atrairá mais gente à sua magnífica obra. Os verdadeiros vencedores do Prémio Pessoa são todos os curiosos que através do prémio tomarão pela primeira vez contacto com a obra maior daquele que é um dos pouquíssimos intelectuais a pensar Portugal em profundidade.»




CITAÇÕES

 “Que o português médio conhece mal a sua terra – inclusive aquela que habita e tem por sua em sentido próprio – é um facto que releva de um mais genérico comportamento nacional, o de viver mais a sua existência do que compreendê-la.”

 “Os Portugueses vivem em permanente representação, tão obsessivo é neles o sentimento de fragilidade íntima inconsciente e a correspondente vontade de a compensar com o desejo de fazer boa figura, a título pessoal ou coletivo.”
(in: O Labirinto da Saudade, Gradiva, 2005.)




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