26.8.12

LER JÚLIO VERNE, HOJE - Publicado no jornal BADALADAS em 24-08-2012





LIVROS QUE FAZEM BEM À SAÚDE

«Saio sempre de um livro de Júlio Verne com a sensação de que estou mais feliz e mais completo» - dizia-me um amigo com quem durante alguns anos partilhei livros e leituras. Ainda hoje lhe dou razão. Verne é um autor intemporal. Mais de cem anos passaram sobre a sua morte e continua a fascinar novos leitores. Reedições surgem por todo o mundo.
O que nos atrai é o que poderíamos designar por imaginação profética: Verne criava possíveis mundos futuros a partir dos dados de que dispunha na altura em que escrevia. Isto é: em lugar de realidades fantásticas, mundos paralelos, personagens irreais, ele projectava inventos e equipamentos a partir da tecnologia e dos dados científicos que estudava cuidadosamente. Foi assim que anunciou com muitas décadas de antecedência coisas que se tornaram usuais para nós: ar condicionado, motor de explosão, calculadoras, sistemas mundiais de comunicação, televisão, arranha-céus, comboios de alta velocidade, sistemas de alarme e muitos outros. Para já não falar nos mais conhecidos: submarinos, viagens à Lua, uso de balões de hidrogénio ou exploração das regiões polares.
Mas tudo isto era apresentado em trama romanesca, histórias com personagens e situações bem engendradas, onde não faltavam os heróis e os vilões, o humor e a ironia, as catástrofes e as vitórias, o amor e o heroísmo. Júlio Verne convoca vastíssimos conhecimentos de Geografia, Etnologia, História, Ciência Naturais, Física, Economia e com eles enriquece as páginas dos seus livros de aventuras sem se tornar fastidioso, num estilo simples, rigoroso e eficaz.
Não se procure na sua obra profundezas psicológicas, dramas pungentes, personagens densas ou complexas análises sociológicas. Isso, outros fizeram muito melhor. O que encontramos em Júlio Verne é uma escrita que nos dispõe a enfrentar a vida com optimismo e nos ajuda a acreditar na Humanidade e no triunfo do Bem. Por isso dizemos que os seus livros fazem bem à saúde.

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JÚLIO VERNE (1828 – 1905). Escritor francês, autor de mais de cem livros, considerado o pai da moderna ficção científica. Segundo estatísticas da UNESCO, até hoje é o escritor cuja obra foi mais traduzida em toda a história, com traduções em 148 línguas. Livros mais populares: Cinco Semanas em Balão, Viagem ao Centro da Terra, Da Terra à Lua, Vinte Mil Léguas Submarinas, A Volta ao Mundo em 80 Dias, A Ilha Misteriosa, Miguel Strogoff.


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                                                                DOIS LIVROS EM DIÁLOGO

Aparentemente, Júlio Verne  e Júlio Cortázar têm em comum apenas o nome e o serem escritores. Mas têm muito mais para quem os lê agora.
Revisitando A VOLTA AO MUNDO EM 80 DIAS de novo embarquei na corrente imparável daquela viagem louca. Um inglês impassível na frieza com que olha o mundo e um criado francês, temperamental e entusiasmado pela aventura, dão a volta ao mundo para provarem que "a Terra diminuiu, porque a percorremos agora dez vezes mais depressa do que há cem anos". De caminho correm contra o tempo para ganharem uma aposta de vinte mil libras. Será que conseguem?
Em Cortázar(1914-1984) - A VOLTA AO DIA EM 80 MUNDOS - encontro o humor e a ironia,  aquele modo de zombar das "grandes tartarugas arroxeadas", os homens solenes que se levam a sério como monólitos imóveis.
Nos dois, atrai-me a frescura da viagem - seja pelas geografias longínquas ou pela memória de gentes, leituras e acontecimentos - e a capacidade de nos encantarem com histórias estranhas.


É certo que Cortázar explora o fantástico, o non sense, a provocação criadora, elementos de escrita que não encontramos em Verne. Mas um e outro tocam-se na ternura do olhar sobre a condição humana e no empenhamento na libertação do Homem, seja pelo empenhamento político (Cortázar), seja pela confiança nas soluções tecnológicas que melhorem as condições de vida da Humanidade (Verne).
Duas boas experiências de leitura.  




















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CITAÇÕES DE JÚLIO VERNE


Tudo o que uma pessoa pode imaginar, outras poderão fazê-lo na realidade.

Podemos violar as leis humanas mas não as da natureza.

A ciência compõe-se de erros, que por sua vez são passos para a verdade.

Quando se trata de destruir, todas as ambições se aliam facilmente.

Nunca se fez nada grande sem uma esperança exagerada.

Não há nada impossível, há só vontades mais ou menos enérgicas.



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