16.2.13

AQUILINO, ESSA GRANDE CASA LITERÁRIA


Revisitar Aquilino, sempre! Nem que seja sob pretexto - e é o caso, duas datas redondas para lembrar: 50 anos da sua morte, 100 anos do primeiro livro.
Lucinda Canelas, no PÚBLICO de ontem, ajuda-nos a lembrar: 

«Conferências, jantares e tertúlias marcam os 50 anos da morte de Aquilino Ribeiro. Um escritor gourmet que só sabia ser livre
Lucinda Canelas



La Closerie des Lilas era ponto de paragem obrigatória para artistas e poetas. Era neste café de Montparnasse que estabelecera a sua reputação com Émile Zola, Paul Cézanne e Théophile Gautier no final do século XIX que Aquilino Ribeiro parava muitas vezes no seu primeiro exílio parisiense. Tinha 23 anos e, como não era ainda casado, "o seu coração podia pertencer a muitas mulheres", diz Luís Machado, o escritor que coordena o programa que marca os 50 anos da morte do autor de Terras do Demo e d"O Malhadinhas. "Ao lado do café havia um espaço de bailes populares, os artistas andavam por ali, Lenine jogava lá xadrez e é até possível que Aquilino o tenha conhecido. Mas não sabemos ao certo."

Conferências, tertúlias e percursos inspirados na vida e nos livros de Aquilino Ribeiro (1885-1963) é o que propõe a Associação Portuguesa de Escritores (APE) para que este aniversário - que coincide com o centenário do seu primeiro título publicado, Jardim das Tormentas - se transforme numa oportunidade para divulgar a obra deste homem livre.

"Aquilino está injustamente esquecido, apesar das reedições a conta-gotas", garantiu ontem Luís Machado, na conferência de apresentação do programa, referindo-se a uma extensa bibliografia (mais de 100 títulos, 69 editados em vida) que abrange vários géneros, do romance ao ensaio, passando pela novela, o teatro e a narrativa histórica. "Conhecê-la é acompanhar um republicano, revolucionário e amante da liberdade. É conhecer um homem profundamente independente que combateu todas as ditaduras" - a de João Franco na monarquia, a de Sidónio Pais na I República e, claro, a de Salazar com o Estado Novo - e que, por causa disso, foi perseguido, preso e exilado.

São precisamente os exílios do escritor que Alfredo Caldeira, Fernando Rosas, José Manuel Mendes e Mário Cláudio vão explorar a 19 de Março, na Assembleia da República, em Lisboa, no segundo momento de uma homenagem que começa a 25 de Fevereiro com Aquilino - O Homem e o Escritor, encontro que leva ao Panteão Nacional, onde está sepultado, vários especialistas na sua obra.

Homem de convicções fortes que deixou para trás o seminário para se tornar jornalista, Aquilino teve um vida cheia de aventuras, que incluiu guardar dinamite que viria a explodir no seu quarto, duas fugas da prisão, anos de exílio e temporadas na clandestinidade, escondido na Beira e no Minho, territórios que conhecia bem e cujas paisagens descreve demoradamente em muitos dos seus livros.

É pelas terras do autor de O Romance da Raposa e Quando os Lobos Uivam, cuja circulação foi proibida pelo Estado Novo, que passam dois dos itinerários que o programa da APE propõe a 20 e 21 de Abril. O primeiro, guiado pelo jornalista Henrique Monteiro, tem Terras do Demo por referência, o segundo, com o escritor Mário Cláudio, passa por um dos seus romances mais populares, A Casa Grande de Romarigães.


É neste livro, centrado no dia-a-dia de um solar do Minho e em todo o ambiente rural que o rodeia, que Aquilino faz algumas das suas mais pormenorizadas referências à gastronomia tradicional portuguesa. "Aquilino é um perfeito gourmet", diz Luís Machado. "N"A Casa Grande..., onde aliás ele viveu [pertencia ao antigo Presidente Bernardino Machado, cuja filha viria a casar com o escritor], ele fala muito de gastronomia, explica os pratos, diz como e quando se devem comer."

É o interesse por gastronomia que está por trás de outro dos momentos do programa: a 27 de Maio, no Café Martinho da Arcada, em Lisboa, António Valdemar e Luís Machado conduzem um jantar cuja ementa será inspirada na obra do escritor. "Ainda não decidimos o que vamos servir, mas haverá caldo verde e bolinhos de bacalhau. Aquilino era louco por bolinhos de bacalhau." E também por lebre, carne de porco em vinha-d"alhos e, claro, truta (são célebres as suas descrições de partos com este peixe de rio), explica o coordenador do programa, que a 24 de Maio fará em Paris uma evocação histórica dos cafés por onde Aquilino passou nos seus dois exílios. "Os cafés eram palco de discussão e de criação. Lugares ideais para quem como Aquilino gostava de olhar."»

1 comentário:

lis disse...

Um grande nome e merecida lembrança.
Assim vou lendo mais sobre a literatura portuguesa _ gosto muito da partilha,
abraço da
lis