O tema deste soneto é o mesmo do poema de Soares de Passos, do post anterior. O tratamento, porém, é bem diferente.
PARA ALÉM
onde dormem os sonhos que beijamos
e a nossa sede tem a única fonte.
se houver ânsia no olhar que o reflectir:
o céu mais vago e fundo é só um véu
que a alma rasga pra poder seguir...
nesta loucura doce de te olhar
que o coração pressente o que é amar.
e quando mortos, ainda a nossa prece
levantará as mãos além da morte.
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ANTÓNIO PATRÍCIO*
(Porto, 1878 - Macau, 1930)
Formado em Medicina, António Patrício enveredou pela carreira diplomática, ocupando lugares de cônsul, ou desempenhando missões em cidades de diversos países e continentes - Cantão, Manaus, Brémen, Atenas, Istambul, Caracas e Londres. Estava a caminho de uma missão na China quando morreu.
De formação e sensibilidade aristocrática, aderiu ao ideário republicano e democrata.
Deixou uma assinalável obra literária, com expressão na poesia, no teatro e no conto. "Toda a sua obra literária é percorrida por um grande frémito espiritual, em que a busca do absoluto no amor, o vitalismo nietzschiano e a ideia do sacrifício iniciático, o sentimento tão português da saudade, se projectam nos grandes mitos da nossa história."
Visíveis, também, as marcas da sensibilidade literária da época, o simbolismo e o decadentismo.
As suas obras estão publicadas na Assírio & Alvim:
POESIA COMPLETA, 2ª ed, 1989
SERÃO INQUIETO ( contos), 1979
TEATRO COMPLETO, 1982
* A partir do DICIONÁRIO DA LITERATURA PORTUGUESA, org. e dir. de Álvaro Manuel Machado, editorial Presença, Lisboa, 1996; entrada: Patrício, António, texto de Urbano Tavares Rodrigues.
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