7.12.06

JÁ É TEMPO DE REGRESSAR À POESIA...




Sebastião da Gama


1924 - 1952




Meu País Desgraçado

Meu país desgraçado!...
E no entanto há Sol a cada canto
e não há Mar tão lindo noutro lado.
Nem há Céu mais alegre do que o nosso,
nem pássaros, nem águas ...

Meu país desgraçado!...
Por que fatal engano?
Que malévolos crimes
teus direitos de berço violaram?

Meu Povo de cabeça pendida, mãos caídas,
de olhos sem fé
— busca, dentro de ti, fora de ti, aonde
a causa da miséria se te esconde.

E em nome dos direitos
que te deram a terra, o Sol, o Mar,
fere-a sem dó
com o lume do teu antigo olhar.

Alevanta-te, Povo!
Ah!, visses tu, nos olhos das mulheres,
a calada censura
que te reclama filhos mais robustos!

Povo anêmico e triste,
meu Pedro Sem sem forças, sem haveres!
— olha a censura muda das mulheres!
Vai-te de novo ao Mar!
Reganha tuas barcas, tuas forças
e o direito de amar e fecundar
as que só por Amor te não desprezam!



"A sua poesia romântica, singela, carregada de candura, traz-nos um culto do passado e da paisagem que o modernismo desacreditara, e desenvolve a imagem de um Paraíso Perdido Infantil, um local de pureza inicial que estaria para além da vida e da morte."

( in: Cem Poemas Portugueses sobre Portugal e o Mar, Selecção e organização de José Fanha e José Jorge Letria, ed. Terramar, 2003)


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