5.12.06

TROQUEMOS AS VOLTAS AO CALENDÁRIO

VIVÓ CARNAVANATAL !!!






Com a obcessão comercial e consumista pelo Natal, apetece mandar tudo ao ar, gozar esta treta até ao absurdo. "Abaixo os vendilhões!!!"

Qual menino jesus, qual quê! Vamos mas é vender tralhas, decorações, mesas de consoada, motivos natalícios - e outros panarícios! Tudo tão bonito, tão verde e rubro, tantas luzinhas, tanto espírito natalício - tanto mretrício!

Apetece ir já pró Carnaval! E vou mesmo! Caraças, estamos em Torres Vedras!







E para animar, aí vai o texto que o LUGAR ONDE escreveu para a revista O BARRETE, editada no Carnaval deste ano pela Associação para a Defesa e Divulgação do Património Cultural de Torres Vedras, revista que fez dez anos de publicação (« O BARRETE! Dez anos a metê-lo!» ).

TESTAMENTO DO CARNAVAL DE 2006

Saibam quantos esta lerem
Que me vou não tarda nada
Deste carnaval da vida
Mais pobrinho que à entrada.
Já me chamaram Entrudo
Mas agora, é como tudo:
Mais por vós do que por mim,
É mister chegar ao fim...

A vida que me foi dada
Está nas lonas podem crer
E para não me arrepender
Vou ditar o testamento
Que no derradeiro alento
Deixo a quem o quiser ler

Aos torrienses velhinhos
Deixo lares e seus santinhos
Orações e devoções
Para aconchegar as almas
Agora que já estão salvas
E não podem mais pecar.
No tempo da juventude
Foi brincar à fartazana
Comer, beber e fazer
Mil patifarias sem ver
Que o fim havia de vir,
Porque a última a rir
É a morte, grande sacana,
Que todos temos em sorte
Ninguém consegue fugir.

Aos torrienses mais novos
Deixo para consumir
Em todas as estações:
Boletins do euromilhões
Para terem a ilusão
De que vão enriquecer
Só com um euro na mão.
E como sou bué de roto
Também deixo o totoloto
P’ra se entreterem a pôr
cruzinhas nos quadradinhos
convencidos, coitadinhos,
que vão ser todos ricos.

A todos os professores
Vou deixar em testamento
Muitos alunos reguilas
Burrinhos e atrasados,
Meninos finos, mimados
E outros chamados “carentes”...
Deixo uma praga de calões
Muitos deles repetentes
E mais os paizinhos deles
P’ra se poder comprovar
Que eram piores do que os filhos
Quando andaram a estudar.

Aos médicos de Torres Vedras
Que nos tratam da saúde
A quem recorro amiúde
Para mal dos meus pecados,
Deixo os ossos empenados
Mais um grande panarício
Resultado do meu vício
De descascar rebuçados.
Deixo horas extraordinárias
Para mudarem de carro
E comprarem a última bomba...
O Zé Povinho é quem alomba
Quando vai para as urgências
E lá fica, horas mil,
Dando o corpo ao manifesto
Até esticar o pernil
À espera do senhor doutor
Que acabará com o resto...

Aos políticos locais
Deixo promessas fecundas:
Dinheiro para gastar
Em mais setenta rotundas;
Casitas para morarem
No mais rico loteamento
Que ajudaram a aprovar
Para o desenvolvimento.

Ó Torres Vedras! Ditosa
Terra que me viu nascer:
Prepara-te que eu vou morrer
Falta pouco, tarda nada...
Digo adeus ao belo vinho
De onde te vem a fama
Que bebia de manhã
Até à noite, ao ir p’rá cama.

Adeus, ó belas carcaças
A lancharem no Império...
Adeus velho Torriense
Que resiste por mistério...
Adeus, ó velhas indústrias
E quem nelas trabalhou...
Agora só dais rendimento
A quem de vós mais roubou!

Adeus ó Jardim da Graça
Cujo grande obelisco
Deu um enorme trabalho
A ser ali construído
E agora parece um paspalho
À espera de ser removido...

Adeus, ó Serra da Vila,
De encosta tão verdejante,
Retalhada de betão
Por causa da “Variante”...

Adeus, escritores locais,
De obras tão afamadas
Que eu tanto adorava ler
até as não publicadas...

Adeus,artistas da terra
Criadores tão geniais
Que ninguém consegue entender
As obras que vós obrais...

Adeus, mil vezes adeus,
Mas não o digo a chorar:
A vida foi divertida
Fartei-me aqui de brincar.

Foliões e matrafonas,
Deste nosso carnaval
Provaram mais uma vez
Que este é o mais português
Que se faz em Portugal.

A minhas viúvas já gritam
Aos quatro ventos a sorte
De se verem livres de mim
Por causa da minha morte.
A verdade é para ser dita:
Acabou-se o corropio
Agora estou por um fio,
Preciso de descansar,
Podem-me já enterrar...

Mas p´ró ano, queiram ou não,
Eu hei-de ressuscitar!



















1 comentário:

Anónimo disse...

Se não te cuidas...ainda entras para o Guiness!!!!
"Noblesse oblige"....