26.2.12

CORRENTES DE ESCRITA 2012




Com a devida vénia, um texto que recolhi no blogue Bibliotecário de Babel, texto que foi lido numa sessão do Correntes de Escrita:


Eis um dos textos mais interessantes (e certamente o mais divertido) de entre os que foram lidos até agora nas Correntes d’Escritas. Foi trazido pelo poeta João Luís Barreto Guimarães para a mesa 3, com o tema “A poesia é o resultado de uma perfeita economia das palavras”:
«O tema que nos é imposto hoje, confere-me uma certa insegurança ensaística, vamos dizer assim, em primeiro lugar porque entendo muito pouco de economia e ainda menos em tempos de escassez como estes pelos quais passamos; em segundo lugar, e talvez resida aqui uma verdade insofismável, porque tanto quanto me vou conseguindo aperceber pelo que vou ouvindo e lendo, a palavra «perfeita» e a palavra «economia» não se costumam entender a dançar juntas, qual casal de namorados que a cada passo pisa o dedo grande do pé um do outro. Com a diferença de que à «economia» nunca ninguém a ouvirá pedir desculpa.
Há, porém, neste mote provocador, duas palavras que me agradam sobremaneira e que têm o bom hábito de conviver entre si: «poesia» e «palavras». A «poesia», como se sabe, pode ser feita de «palavras», embora num sentido igualmente belo, também o possa ser de acordes musicais, ou de imagens fotográficas ou cinematográficas, por exemplo; e as «palavras», até prova em contrário, também têm a sua «poesia». Até mesmo a palavra «dinheiro», escreveu Pedro Paixão.
A poesia actual é uma arte de poucas palavras. Pode mesmo ser austera. É verdade que ainda existe quem, epicamente, insista em espalhar palavras e mais palavras por longos lençóis de papel, com o fito de fazer «grandes poemas». Mas se me perguntam, – e eu queria agradecer à Manuela Ribeiro e ao Francisco Guedes por uma vez mais se terem lembrado de me perguntar, – a poesia que me parece maior é, de facto, a mais pequena. Em tamanho e emtom. É essa, de facto, que me interessa actualmente.

21.2.12

LUGAR ONDE - Jornal BADALADAS 17 fevereiro 2012


AS MÁSCARAS DA INCULTURA 

Quando chegou ao gabinete já levava a decisão tomada: não haveria terça-feira de carnaval. Chamou o assessor e deu-lhe ordem para fazer o comunicado. Depois telefonou a pedir a bica da manhã e abriu os dossiês da governação. Sentia-se bem, Portugal estava a entrar nos eixos e isso devia-se à sua orientação firme e determinada. Quando os amigos da troika viessem conferir as contas, encontrariam um país ordeiramente agarrado às máquinas nas fábricas ou às enxadas nos campos, numa produtividade nunca vista.
Vinte e tal anos depois de Cavaco, Passos repetia a rábula carnavalesca. Por trás desta miopia política há uma espantosa incultura. Espantosa porque não se entende em pessoas que chegaram aos mais altos cargos políticos. E incultura porque significa ignorância da História: o tempo e a memória, a coesão social daí decorrentes, os laços que seguram as comunidades a partir de indivíduos dispersos. Pode-se não gostar do Carnaval, é um direito. Mas não se pode ignorá-lo, pelas múltiplas implicações sócio-económicas que a ele se ligam. Recordo o belíssimo texto de Venerando de Matos, do seu blogue “Pedras Rolantes”:
«Não deixa de ser significativo, aliás, que um “não-feriado” como a terça-feira de Carnaval, que ninguém ainda teve coragem para transformar em feriado oficial, seja um daqueles que mais dinâmicas provoca na sociedade civil e que mais adesões conhece por parte desta, fazendo “inveja” à mobilização de outros feriados oficiais, ao mesmo tempo que tem sido a maior vítima de governantes com laivos autoritários que, desrespeitando tudo e todos, procuram, com uma regularidade irritante, aboli-lo do calendário. O autoritarismo e cinzentismo dos poderes deste país nunca se deram bem como carácter libertário e transgressor dessa data.»

   
É aqui que bate o ponto: o caráter libertário e transgressor do Carnaval, expresso na arte e na literatura europeias desde a Idade Média, imagem da eterna oposição entre espírito dionisíaco e apolíneo, equilíbrio e excesso. Imagem do Homem, imagem da vida. Ignorar isto é pôr-se à margem da compreensão do mundo, tentando moldá-lo de forma autoritária. Não por acaso, os tiranos sempre detestaram o Carnaval.

 Peter Breughel, o Jovem, 1559: "O Carnaval contra a Quaresma"

* * *  
Torres Vedras, Carnaval de 1931

HUMOR E SÁTIRA NO CARNAVAL TORRIENSE
A obra de Jaime Umbelino está compilada em diversos volumes, publicados ainda em vida do autor. Num desses livros (A Literatura nos Carnavais de Torres, ed. Câmara  Municipal de TV, 2005) encontramos a sua vasta colaboração nas festas do Carnaval torriense, em versos de recorte satírico e humorístico que não perderam a frescura.
Recordemos um trecho do discurso ao Rei do Carnaval, em 1940:
Estava a linda Inês posta em sossego
(Aonde não se sabe nem interessa)
Na margem do Sizandro ou do Mondego
- Era aí o teatro da tal peça –
Quando o Adamastor, irado e cego,
Se alevantou, sentado na tripeça,
E, calmo, disse assim, por entre as pedras:
Carnaval só há um: - em Torres Vedras!
E as ninfas e os faunos e as sereias,
Soprando na trombeta a alta Fama,
Trataram de secar ao sol as meias,
Dormiram... levantaram-se da cama,
E vieram calçando mil areias,
Sem medo ao sol, à chuva ao vento, à lama
Atravessando o mar e os oceanos ...
Só para ver o Chafariz dos Canos!...
* * *
 Há 16 anos que se publica em Torres Vedras esta revista de humor e sátira, O BARRETE, ao jeito do velho Entrudo chocarreiro e folgazão, como se vê por aqui:
CENTRO DE FERMENTAÇÃO DE AUTARCAS
Há para aí um Instituto
chamado” da vinha e do vinho”
que o Município comprou
como se fosse novinho.
 Mas por falta de ideias
para lhe dar utilidade
pediram-me sugestões
e eu vou falar à vontade.
Porque não fazer ali
- é a minha opinião -
um belo Centro de Dia
para meter os autarcas
a fazerem Formação?
 Fechados no vasilhame
dos tintos em seus odores,
com os anos a passarem,
talvez ficassem melhores…

Manuel da Fonseca e o romance “Seara de Vento” :: Aldeia da Trindade

Manuel da Fonseca e o romance “Seara de Vento” :: Aldeia da Trindade

Ando a reler algumas obras do neo-realismo português, como este magnífico Seara de Vento.
Um sopro de tragédia e de dignidade humanas, a recordar nesta época em que os mais desmemoriados falam do tempo de Salazar como de uma época de paz e de segurança, em contra-ponto com os tempos de hoje.
Tão fraca, a memória coletiva!

1.2.12

Saíu a LER de Fevereiro


Tema de capa: o humor em debate, com o inevitável Ricardo Araújo Pereira, jornalista e Abel Barros Baptista, professor catedrático.
Mas há muito mais: o aniversário que Fernando Assis Pacheco faria se fosse vivo (75 anos), pretexto para nova abordagem da sua obra; Eduardo Lourenço e dois inéditos inesperados;  os 200 anos de Charles Dickens; crónicas, recensões, notícias, participação dos leitores, etc.
Vale bem os 5 €!