29.9.06

HELP ME!!!!

É bem verdade, como diziam os antigos gregos:

DA ESTUPIDEZ HUMANA ATÉ OS DEUSES TÊM MEDO!


Não tenho, pois, que me admirar...

27.9.06

Pelo Outono...andando...





Nevoeiro leva
lava-me
leveda-me
pelo Outono andando
perco-me
percebo-me
parca que me leva
Por onde, Outono?
Parto? Chego?
Por perto me parto
tão parco, tão pouco
me louco
m'evado, m' Outono...

Que lugar é este?

Pergunto, perguntamos. E abro Fernando Pessoa ao acaso. Põe-me a mão sobre o ombro e arrasta-me pelas ruas de Lisboa. Vai falando:


« Estou assim...
Pobre velha casa da minha infância perdida!

Quem te diria que eu me desacolhesse tanto!Que é do teu menino? Está maluco.
Que é de quem dormia sossegado sob o teu tecto provinciano?Está maluco.
(...)


Hoje é quem eu sou.Se ao menos eu tivesse uma religião qualquer!
Por exemplo, por aquele manipanso
Que havia em casa, lá nessa, trazido de África.
Era feíssimo, era grotesco,
Mas havia nele a divindade de tudo em que se crê.

Se eu pudesse crer num manipanso qualquer
–Júpiter, Jeová, a Humanidade,
Qualquer serviria,
Pois o que é tudo senão o que pensamos de tudo?

Estala, coração de vidro pintado!


Fernando Pessoa

Droga pesada, este homem. Procuro desembaraçar-me dele, quero caminhar sozinho. Paro junto ao Jardim de S. Pedro de Alcântara, olho o mar de casas. Custa-me respirar, a angústia tira o sono, o apetite, a alegria.
Mas ele alcançou-me de novo e diz, muito de leve, a olhar em frente:
"... netos do Destino e enteados de Deus , que casou com a Noite Eterna quando ela enviuvou do Caos que nos procriou..."

22.9.06

O estado da Educação

A revistaVISÃO traz um suplemento com o título "O estado da educação". Vale a pena ler, começando no "A revolução necessária", de Henrique Botequilha. Cito:
«Em 2003, a empregabilidade dos jovens entre os 20 e os 24 anos que não acabaram o ensino secundário era ligeiramente superior à dos que o completaram. Portugal era o único país que apresentava esta situação. Esse tem sido o estímulo do mercado de trabalh0: pouco exigente, acaba por tratar de forma indiferenciada, em admissões e salários, toda a gente, independentemente das suas habilitações.»
Nós já suspeitávamos que assim fosse, mas vê-lo apoiado em estudos sérios até arrepia!
Porque a realidade tem sido esta: o insucesso escolar radica, em grande parte, no atraso cultural das famílias e da sociedade em geral, atraso contra o qual a Escola se esfalfa numa luta muitas vezes inglória.
Claro, é mais fácil apontar o dedo à Escola, isto é, aos professores.
Mas... Por exemplo: quantas famílias têm uma biblioteca razoável em casa? Quantos pais são capazes de se sentarem a ler (ao menos!) um dos livros que os filhos estudam na Escola? Quantos pais dizem não ter tempo para acompanhar os filhos mas já o têm para ler os jornais desportivos, que continuam a vender-se melhor que qualquer dos outros? Quantos pais foram, este ano, ao teatro? Ao cinema? A um concerto de música de qualidade?
E ao futebol?
Nos debates públicos gostava de ver, ao lado da senhora ministra da Educação, a titular da Cultura. Para que, quando a primeira falasse dos professores como fala, a outra contrapusesse os dados arrasadores de todos os índices culturais da sociedade portuguesa.
Talvez assim se percebesse - finalmente! - onde está a grande causa do insucesso escolar dos nossos alunos!

21.9.06

Presença menos regular




O meu PC vai para revisão o que me leva a estar por aqui menos vezes. Mas sempre que apanhar um PC de empréstimo...
Agora vou comer um gelado - este encontrei-o numa rua em Budapeste, fazia parte do cowparade lá do sítio.
:-) :-) ;-)

19.9.06

Ler é assim tão importante?



Ora vejamos...


Estamos na civilização da imagem. Houve até quem dissesse muito a sério que “uma imagem vale por mil palavras”.
Então, para quê tanto alarido com a necessidade de ler?

Há mais de cinco mil anos os escribas eram considerados pelos egípcios uma classe privilegiada. Porque dominavam os códigos de comunicação, escreviam mensagens e lançavam-nas ao futuro – e elas chegaram até nós. Hoje mantém estatuto idêntico quem domina esses códigos e os coloca ao serviço de qualquer projecto de afirmação: os advogados, os políticos, os economistas, os ministros de todas as religiões. Quem os desconhece perde capacidade de intervir ou, mesmo, de sobreviver. Tudo gira em torno da palavra escrita, meio indispensável de manutenção dos vínculos sociais.
Esta evidência está na origem do gigantesco esforço que se tem vindo a fazer ao longo das últimas décadas para erradicar o analfabetismo português que, à data da implantação da República, em 1910, rondava os 80%.
Em 1997 o Instituto Português do Livro e das Bibliotecas lançou o Programa Nacional de Promoção da Leitura. Por esse país fora alastrou uma rede pública de bibliotecas que cobriu praticamente todos os concelhos. Um exemplo é o dinamismo da nossa Biblioteca Municipal, integrada nessa rede e apoiada pelo referido programa. Mas os resultados palpáveis tardam em aparecer. Se o analfabetismo puro e duro foi muito atenuado, continua a manifestar-se um elevado índice de iliteracia, entendida esta como a “capacidade para ler e perceber o(s) sentido(s) do que se lê”.
Daí o lançamento recente – em Junho deste ano – do Plano Nacional de Leitura (Resolução do Conselho de Ministros nº 86/2006), em cuja introdução se lê, a abrir:


«Os resultados globais de estudos nacionais e internacionais realizados nas últimas duas décadas demonstram que, no que respeita ao domínio da leitura, a situação de Portugal é grave, revelando baixos níveis de literacia, significativamente inferiores à média europeia, tanto na população adulta, como entre crianças e jovens em idade escolar.»
E mais adiante:

«Também os resultados das provas de aferição, realizadas no final do 1.º ciclo, tornaram evidente que a maioria das crianças faz a transição para o 2.º ciclo sem ter adquirido competências básicas no domínio da leitura e da escrita.»
Em nossa opinião, este é um projecto que deve assumir dimensão nacional. Estando centrado nas escolas, todos somos chamados a intervir: pais, educadores, associações, comunicação social.
Não, uma imagem não vale por mil palavras. Porque, sem palavras, qualquer imagem fica prisioneira da simples e limitada percepção visual.
MD
Os jovens não lêem! Que fazer? Sim, que fazer?

Daniel Pennac tentou responder à pergunta angustiada de pais e professores num livro notável e plenamente actual, publicado em 1993 pelas ed. ASA: Como Um Romance.
O autor faz uma análise brilhante sobre o percurso da aprendizagem da leitura. Em pequenos capítulos, cheios de humor e observações centradas na experiência de todos nós, mostra como a perda do gosto pela leitura está ligada aos erros pedagógicos dos primeiros anos escolares. E assim, o que era gosto e aventura na fase da leitura recreativa, feita pelos pais antes de a criança adormecer, torna-se, na escola, obrigação penosa, uma “seca”. Transformamos os ouvintes sedentos em dissecadores de frases, livros sobre a mesa da morgue.
Opõem-lhe o exemplo de professores que fazem leitura expressiva (em voz alta) nas aulas. Uma aluna de um desses professores relata a sua experiência inesquecível:

«Essa descoberta aconteceu depois de uma interminável escolaridade, onde o ensino das Letras nos colocara a uma respeitável distância dos livros. Mas o que fazia ele, que os outros professoreis não faziam? Nada de especial. Sob certos aspectos, até fazia menos. Acontecia apenas que não nos entregava a literatura com um conta-gotas analítico, servia-a em generosas quantidades… (…) Falava-nos de tudo, lia-nos tudo, porque sabia que não tínhamos uma biblioteca na cabeça. Tomava-nos por aquilo que éramos, jovens alunos incultos que mereciam aprender.». (Op.cit, 11ª ed., pág. 84/85)

Na linha da dessacralização da literatura que é o pano de fundo do seu livro, Daniel Pennac enunciou um decálogo que se tornou célebre:

" Em matéria de leitura, nós, os «leitores», temos todos os direitos, a começar pelos que recusamos aos jovens que pretendemos iniciar na leitura.
1) O direito de não ler.
2) O direito de saltar páginas.
3) O direito de não acabar um livro.
4) O direito de reler.
5) O direito de ler não importa o quê.
6) O direito de amar os «heróis» dos romances.
7) O direito de ler não importa onde.
8) O direito de saltar de livro em livro.
9) O direito de ler em voz alta.
10) O direito de não falar do que se leu.
(...)
Porque se queremos que o nosso filho, a nossa filha, a juventude leiam, é urgente outorgar-lhes os direitos que outorgamos a nós próprios."

11.9.06

À janela...



De janela para janela, como antigamente.

Claro, um computador não é tão bonito. Mas permite esta comunicação à distância.
Deste LUGAR ONDE comunico com os vizinhos aqui vai um "aviso" à navegação: ouçam os CANTARES DE AMIGO. ( cantaresdeamigo.blogspot.com)
Lá hão-de encontrar o pequeno texto, a fotografia muito bonita, o humor subtil, a ternura de partilhar recordações, livros, discos...

Olá, "Avelaneira florida"!

9.9.06

Museu Municipal Leonel Trindade - Torres Vedras






O tempo dos museus como lugares bafientos já lá vai. Hoje vai-se ao museu para passear, para ver coisas bonitas e diferentes. As exposições não ficam paradas no tempo, renovam-se. Alguns até têm bar com jornais e revistas.

Antigamente:
- Já visitaste o Museu Municipal?
- Fui lá há três anos... aquilo é sempre a mesma coisa...

Agora:
-Não percas a nova exposição do Museu!
-Já abriu?
-Vai ser inaugurada em 22 de Setembro. Fui lá espreitar, acho que vale a pena. É sobre o castro do Zambujal, apresentado de uma forma muito sugestiva. A exposição apela à participação activa dos visitantes.

6.9.06

A FOTO QUE FALTAVA



Kazuo Dan era este homem amável e feliz que a foto documenta numa rua de Santa Cruz, praia do concelho de Torres Vedras.
(Só agora consegui transferir a foto que saíu na página LUGAR ONDE. )

5.9.06

IMAGENS A RETER





Abóbada de nervuras - Castelo de Torres Vedras


Porta de entrada no Castelo (vista do lado de dentro)



O Armando é um homem atento e amante das coisas torrienses. Não se vai zangar comigo por eu mostrar aqui duas ou três fotos que ele fez nas visitas guiadas ao Centro Histórico com a Associação para a Defesa e Divulgação do Património Cultural de Torres Vedras.
Olhar e VER!
Obrigado, Armando!

FOI EM SETEMBRO ... 1965... Muitos de nós vivemos isto por dentro...

JOSÉ BAÇÃO LEAL: testemunha e mártir

O que dói na lembrança deste jovem que a guerra colonial roubou à vida em Setembro de 1965- faz agora 40 anos -, é a lucidez e a amargura com que caminha em direcção ao fim pressentido. José Bação Leal é hoje um símbolo de milhares de vidas cortadas à vida pela obstinação de uma política cega: aquela que inventou a ideia supremamente estúpida de “Portugal, um país que vai do Minho a Timor”.

Muitos fugiram à guerra emigrando. A maioria teve de suportá-la, na Guiné, em Moçambique ou em Angola. De 1961 a 1974 os jovens de Portugal eram recrutados para uma missão que a comunidade internacional condenava mas que Salazar e Marcelo Caetano defendiam “orgulhosamente sós”!
Um desses jovens chamava-se José Crisóstomo Gomes Bação Leal, nascido em Lisboa em 1-7-1942. Inteligente e de invulgar sensibilidade, escreveu poemas que chegaram até nós porque a mãe os recuperava carinhosamente do cesto dos papéis para onde ele os mandava, na impaciência dos vinte anos. Atento às ideias do seu tempo, lia os grandes autores e deles dava conta em muitas cartas aos amigos.
Não escapou ao recrutamento militar. Primeiro em Mafra, depois nos Rangers de Lamego, foi levado para o norte de Moçambique “para combater os terroristas” – na linguagem, essa sim terrorista, de Kaúlza de Arriaga. Insofrido com as injustiças do colonialismo e a arrogância dos senhores da guerra, enfrentou-os pela palavra e pelo gesto. Não lhe perdoaram. Atiraram-no para onde a guerra era mais acesa. Morreu numa emboscada perto de Nampula, em 1 de Setembro de 1965.
Em 1971 seu pai e um grupo de amigos publicaram um livro intitulado “POESIA E CARTAS”, com os textos de José Bação Leal. Um pequeno prefácio de Urbano Tavares Rodrigues salientava a sua extraordinária dimensão humana e literária.
Estes textos são hoje um impressionante libelo contra a guerra colonial, contra todas as guerras. Como diz Urbano T. Rodrigues:
«Além de nos fazer conviver humana e esteticamente com quem teria porventura vindo a ser – não lhe houvessem truncado a vida a crueldade e a insânia que ele denuncia – um dos maiores escritores da língua portuguesa do nosso tempo, este livro fica para sempre, no seu valor testemunhal, como um marco histórico, resumindo a agonia e o martírio de tantos e tantos jovens... O seu testamento – este maço de cartas, este punhado de versos – toma o valor de um legado escrito com sangue, de um eco que nenhum vento repressivo poderá apagar, senão que há-de ampliar-se, em sementeira de som, até ao triunfo do que foi para José Bação Leal razão de viver e morrer: a glória da paz e da justiça.»



Excertos de cartas
José B. Leal a vários amigos

«(...) Mas regressando ao Alto Molocué, trata-se duma espécie de povoação onde meia dúzia de brancos exploram muitas centenas de negros. De resto, talvez não saibas que se atribuíssemos a invenção da ternura ou da inocência a uma raça, só um cego voluntário não a atribuiria à raça negra. Esclareço: ainda não percebi, não constatei em nenhuma criança branca a ternura e a inocência que diariamente constato no doloroso, antigo olhar das crianças negras que se cruzam. Elas param à minha passagem (não minha de alferes ou senhor, mas de branco) e dizem usando uma voz que vem do coração dos séculos: «bom dia mêu alfé». Aprendo que nunca fui criança, vivi uma infância manchada de egoísmo.» (26/Novembro/1964)

(…) Não sei como enfrentar o cruel silêncio do mato. Vou “dar gritos à natureza”. Vou perder a infância, as manhãs verdes. Vou crescer inocente, forte, contra os muros do medo. Um dia, o inevitável encontro comigo mesmo, a tragédia numa rua da alma, não me reconhecerei. Reconhecer-me-ei? Talvez. Para isso… (indizível coerência) …vou passar em fúria pelas mesas, vou acordar no povo uma bandeira de trigo, à flor dos lábios. (…) (17/Abril/1965)

“Esta é a terceira carta que te escrevo num período temporal bastante curto. Ainda estou vivo, dentro desta morte, é claro.
“Desculpa o apelo. Mas aqui no Alto Molocué, só consigo, melhor: já consigo conversar com os cães. Os homens não sei onde estão. Minto: sei, mas não digo!
Aguentarei dois anos tão desesperadamente calmo? De quando em vez faço-me esta pergunta. Depois, instalo-me num canto, convido uma ou outra sombra que mereça a minha simpatia, e fico, por muito tempo, olhando nos olhos, sem espanto, a vida. Aconselho-te: como exercício é quase salutar. “ (30/Janeiro/1965)



Poemas de José B. Leal

Porque voam os pensamentos no ventre da solidão?

se a minha mão adormece numa chaga bêbeda…

Porquê? Pergunto-me na transparência do meu mundo.

As respostas batem na parede espelhada

que esclarece as cores do desespero


E caem

pesada inutilmente no tapete da consciência.


Por momentos sei que pensar não ajuda as coisas.

Gasta o tempo mudo

e coloca-nos na obliquidade da vida.



E como não sou uma parede com alma

que sangre em silêncio

fecho as portas da angústia e entro

como um príncipe bêbado na festa dos vivos.

*

Coragem mão
como coisa possessa
e fora de horas defronta o tempo
O rasgão está aberto
Basta um murmúrio de dedos
e a morte fará o resto

3.9.06


«Rosa rosae
flor que tantas vezes dissemos sem pensar


Fulgurante,
indiferente e absoluta,
apenas rosa»







A rosa, eu sei. Não esqueço. Amanhã direi todas as palavras que faltam.

1.9.06

RECORDAR UM GRANDE POETA DO SÉC. XX

Ruy Belo (1933 /1978)



Conhecem S. João da Ribeira? Fica perto da Ribeira de S. João, concelho de Rio Maior. Quem entra na A-15, vindo da A-8 a caminho de Santarém, encontra a saída para esta aldeia.
O que tem ela de especial?
É a terra natal de Ruy Belo, poeta enorme, que não me canso de revisitar. E é lá que ele está sepultado.
Mais uma vez deixei uma rosa amarela sobre a sua campa rasa.
Na pedra tumular foi gravado um poema seu, com o título de COLOFON OU EPITÁFIO


Trinta dias tem o mês
e muitas horas o dia
todo o tempo se lhe ia
em polir o seu poema
a melhor coisa que fez
ele próprio coisa feita
ruy belo portugalês
Não seria mau rapaz
quem tão ao comprido jaz
ruy belo, era uma vez