31.3.07

Peregrinações...

















"Nazaré: a raiz, a face e a alma. A raiz está na Pederneira, a face na Praia, a alma é o Sítio. Os três núcleos que formam a vila da Nazaré. É um dos conjuntos de mais intensa beleza e de mais penetrante lição cultural que conheço. Nem sei, em todo o litoral português, de outro que lhe possa ser comparado."

José Hermano Saraiva, "O Tempo e a Alma", Gradiva, 1987

"Patamar dos olhos...reconciliação com o mundo..."



Um espaço, LUGAR ONDE ler... ouvir música...sonhar... esperar...
Há lugares quase perfeitos. Não é preciso muito.

Pegar num livro de Fernando Assis Pacheco: "CUIDAR DOS VIVOS" - (título fabuloso!)

Ler:

Muitas vezes te esperei, perdi a conta,
longas manhãs te esperei tremendo
no patamar dos olhos. Que me importa
que batam à porta, que me façam chegar
jornais, ou cartas, de amizade um pouco
- tanto pó sobre os móveis da tua ausência.

Se não és tu, que me pode importar?
Alguém bate, insiste através da madeira,
que me importa que batam à porta,
a solidão é uma espinha
insidiosamente alojada na garganta.
Um pássaro morto no jardim com neve.

Nada me importa; mas tu enfim me importas.
Importa, por exemplo, no sedoso
cabelo poisar estes lábios aflitos.
Por exemplo: destruir o silêncio.
Abrir certas eclusas, chover em certos campos.
Importa saber da importância
que há na simplicidade final do amor.
Comunicar esse amor. Fertilizá-lo.
«Que me importa que batam à porta...»
Sair de trás da própria porta, buscar
no amor a reconciliação com o mundo.

Longas manhãs te esperei, perdi a conta.
Ainda bem que esperei longas manhãs,
e lhes perdi a conta, pois é como se
no dia em que eu abrir a porta
do teu amor tudo seja novo,
um homem uma mulher juntos pelas formosas
inexplicáveis circunstâncias da vida.

Que me importa, agora que me importas,
que batam, se não és tu, à porta?

30.3.07

OS PASSARINHOS A CANTAR NAS ÁRVORES...A PRIMAVERA ...O POVO TÃO FELIZ...

Destaque no Diário de Notícias de hoje:
«Miguel Horta e Costa, Carlos Vasconcellos Cruz, Iriarte Esteves e Paulo Fernandes, ex-administradores executivos da Portugal Telecom, receberam 9,7 milhões de euros pela não renovação do mandato no ano passado. A informação, avançada no relatório e contas da PT, não discrimina o valor que coube a cada gestor, mas presume-se que o presidente executivo, Horta e Costa, tenha recebido mais. Dividindo o montante total pelos quatro gestores o resultado dá 2,4 milhões de euros a cada. O valor total das indemnizações pagas pela PT ascendeu a 10,672 milhões de euros, para além do ordenado correspondente aos meses em que desempenharam cargos em 2006. Este total inclui 967 mil euros atribuídos ao presidente não executivo, Ernâni Lopes. O seu mandato não foi renovado e, na actual administração, nomeada para o triénio 2006 a 2008, Henrique Granadeiro acumula a presidência executiva e não executiva.»
No final diz ainda o relatório que, por lei, a PT não era obrigada a divulgar estes números. Fá-lo apenas por uma questão de tranparência...
Só nos resta agradecer, muito penhorados pelo favor.
Que nome se dá a isto?.......
Sim, os passarinhos gorgeiam em seus ninhos, a Primavera chegou, o povo é feliz com as reformas que o nosso Primeiro houve por bem fazer.
Portugal, és lindo!
Portugal, estás lindo!!!
Socialismo à portuguesa...

28.3.07

ALVORADA





«Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder...pra me encontrar...»
( Florbela Espanca )






PASSEIOS...


O regresso às origens. De vez em quando ir até lá, pass(e)ar pelas ruas, alongar os olhos pelas margens do Tejo...

Amanhã, sempre...Alpiarça. Dita "a vermelha". Porque ali os homens não se curvavam perante os senhores das terras, lutaram sempre. Mesmo quando grande parte do resto do país vivia narcotizada pela segurançazinha salazarenta.

Alpiarça, ao fundo, sobre a esquerda, por trás da última curva do rio.

27.3.07

Próximo passeio...


E pensar que passei tantas vezes lá perto e nunca parei...

Esta jóia arquitectónica está em Beringel, aldeia perto de Beja.


200 ANOS DEPOIS


Iniciativa conjunta da Cooperativa de Comunicação e Cultura de Torres Vedras e do Clube Militar de Oficiais de Mafra. Trata-se de promover uma reflexão sobre "Pensar Portugal e a Europa" no dealbar da Guerra Peninsular".

Do programa fazem parte:

28 Abril 2007 (14.00h - 19:00h ): Colóquio no Auditório Municipal com
a presença de vários especialistas
29 Abril 2007 ( 21:30h ) : Concerto pela Banda Sinfónica da GNR

5 Maio 2007 : Passeio Cultural - Visita temática a Elvas e Olivença

26.3.07

ESPAÇO PÚBLICO

Foi lançado no Sábado passado o nº 2 da ESPAÇO PÚBLICO, revista de comunicação e cultura.




O editorial, escrito pelo editor deste número, Luís Filipe Rodrigues, dá o mote:

«Desencadear uma reflexão prospectiva sobre temas que atravessam a nossa contemporaneidade...»

Cada número tem um tema base. "Ruralidades" é o que se propõe para as 116 páginas que ora se publicam, tema que se organiza em três modos de abordagem: textos de carácter teórico, ensaístico; espaço de criatividade, com poesia e fotografia; e um terceiro, designado como "exercício de construção da memória, e visitação do local", com reportagem, crónica e estudo de caso.


Publicada semestralmente, esta revista é propriedade da Cooperativa de Comunicação e Cultura de Torres Vedras e tem como coordenador Rui Matoso.



Contra-capa de "Espaço Público"












25.3.07

A Oeste tudo de novo




Basta sair e olhar.


Na Foz do Arelho, por exemplo: ainda não tinha visto o gato de pedra.



Mais adiante: aquele mar!!!




E ao longe... S. Martinho do Porto, Nazaré...







22.3.07

DIA MUNDIAL DA POESIA

Com a devida vénia trancrevo este "post" de uma blogue que vale a pena seguir com atenção:DE RERUM NATURA ( Sobre a natureza das coisas).
Neste dia, 21 de Março, dá-se por terminado o Inverno e inaugura-se a Primavera. É um dia de simbologias várias que remetem para promessas de renascimento. É também o dia mundial da poesia. Esta justaposição pode sugerir que a poesia está em renascimento ou, melhor, em constante renascimento. Contudo, esta sugestão não convive bem com uma pergunta que se insinua por aí: para que serve a poesia?Estranha pergunta esta! Mas mais estranho é ter passado a ser corrente e haver sempre alguém disposto a ensaiar uma resposta. Mais estranho, ainda, é emergir dentro da Escola e, com toda a naturalidade, aí se ter instalado. E, muitíssimo mais estranho é ter deixado de soar estranha.Sem sobressaltos intelectuais, aceita-se a lógica do “saber em acção ou em uso”, da “mobilização de competências no quotidiano”, que se tem fixado nos sistemas educativos ocidentais na transição do século XX para o XXI. Sob o pretexto de democratização, de igualitarismo social, pretende-se preparar os alunos para resolverem problemas concretos do dia-a-dia com significado na sua vivência e para a sua vivência. Nesta lógica utilitarista e imediatista, temos de admiti-lo, a poesia não serve para nada! Coerentemente, seria de esperar que se esfumasse dos currículos. Mas, não é bem assim: é quase pior!Se deitarmos um olhar atento para o currículo nacional, programas e manuais do primeiro ciclo do ensino básico, ciclo absolutamente fundamental em termos de aquisição e consolidação de aprendizagens essenciais, percebemos várias coisas muito interessantes e… preocupantes.Percebemos que a poesia ocupa, nesses documentos, um lugar obscuro, porque disperso entre várias outras intenções educativas, e residual, porque é preciso algum esforço de observação para se perceber que está lá.Percebemos que a poesia caiu nas estranhas malhas do relativismo cultural. Nos manuais, em particular, os textos de escritores com estatura universal, rareiam porque remetem, alega-se, para uma educação elitista, e quando estão presentes são postos ao mesmo nível de escritores de dotes literários mais do que duvidosos. Manuais de Língua Portuguesa há, que só têm ou têm essencialmente “poesia” do próprio autor do manual, que (felizmente) ninguém sabe quem é.Percebemos que a poesia é usada como estratégia pretensamente pedagógica, à maneira de receita, destinada a resolver os males do mundo: para sensibilizar as crianças para o multiculturalismo, explora-se um certo poema; para as sensibilizar para questões de género, aquele outro; para se tornarem defensores do ambiente ou da paz, não podem deixar de ler e dramatizar os que são recomendados; para adquirem hábitos de alimentação saudável, há um que, certamente, resulta; e assim por diante…Percebemos que a poesia tem dias marcados e há poesia marcada para vários dia: uma para comemorar o dia do pai e, claro, outra para comemorar o dia da mãe e outra, ainda, para comemorar o dia dos avós, essa invenção mais recente; duas ou três para celebrar o Natal, como convém, por ser época festiva alargada; uma para assinalar o dia da árvore; outra para afirmar o dia da mulher e mais outra para sublinhar o dia da criança; várias para festejar o dos namorados, porque para esse dia há muitas.Percebemos que a poesia deve “respeitar o vocabulário que as crianças trazem de casa”. Assim, se não for simplista, adapta-se: extraem-se cirurgicamente as palavras que se supõe que os alunos nunca escutaram antes, que não se usam no seu contexto de origem, pois o confronto com uma palavra menos comum, além de ser uma afronta à sua condição, desinteressa-os. Nessa adaptação também é comum reduzir-se a poesia em tamanho, porque, como se vai dizendo, o tempo de atenção e de esforço que os alunos conseguem dirigir para um texto é cada vez mais reduzido e facilmente se desmotivam quando confrontados com mais do que meia dúzia de linhas.Percebemos que a poesia é decorativa e ilustrativa, ganhando muitas vezes o carácter de recompensa: nos manuais aparece com frequência no fim de cada lição, de cada tema, uma quadra, uma lengalenga, um trava-línguas para rematar o assunto. Não, parece ali caber qualquer orientação, deixando-se o texto desamparado, entregue apenas e só à criança. Mas, também acontece exactamente o contrário: ser a poesia acompanhada de explicações do sentido, de questionários interpretativos, roubando-se-lhe o prazer da leitura e sufocando ou condicionando a sua imaginação.Ora bem, ainda que ninguém saiba como se leva alguém a amar a poesia, sabe-se que há caminhos que não se devem percorrer e, estranhamente, é nalguns desses caminhos que andamos a insistir. Nada melhor do que um poeta para nos fazer ver isso:

Ver claro

Toda a poesia é luminosa, até
a mais obscura.O leitor é que tem às vezes,
em lugar de sol, nevoeiro dentro de si.
E o nevoeiro nunca deixa ver claro.
Se regressar outra vez e outra vez
e outra vez
a essas sílabas acesas
ficará cego de tanta claridade.
Abençoado seja se lá chegar.

Eugénio de Andrade in "Os Sulcos da Sede"

21.3.07

CAMINHO


«Como se comporta o teu guia interior?
Tudo reside aí. O resto, dependa ou não do teu livre arbítrio, não passa de cadáver e fumo.»
Marco Aurélio, Pensamentos para mim próprio.


19.3.07

UM CAIXADÒCLOS NO REINO DA DINAMARCA




Alexandre O’Neill nasceu em Lisboa a 19 de Dezembro de 1924. A mãe era de ascendência aristocrata e nortenha e o pai provinha de antigos senhores irlandeses, caídos em desgraça e chegados a Portugal nos séc. XVIII. Na parede da sala da casa paterna havia um retrato de Salazar, figura venerada da classe média lisboeta, temerosa dos tumultos sociais. O filho perdeu a paciência para estas coisas e talvez aqui tenham origem a radical ironia e o sarcasmo mordaz com que fustigou as fraquezas do país em que nasceu e que ele, simbolicamente apelidou de «Reino da Dinamarca» para despistar a PIDE. Isso não o livrou de ser preso como opositor ao regime, apesar do seu feitio independente e boémio que nunca lhe permitiu uma militância política organizada.
Alexandre O’Neill foi um dos fundadores do Grupo Surrealista de Lisboa, em 1947, juntamente com Mário Cesariny, José-Augusto França e outros. Avesso a regimentos e princípios de escola, absorveu deste movimento artístico o gosto para a inventiva verbal, as associações de ideias e de palavras em jogos inesperados, surpreendentes.
A sua poesia é marcada pela visão irónica e gozada das pessoas e das coisas, por vezes satírica, servida por um poderoso sentido da observação mas humanizada por intenso e, por vezes, terno lirismo.
As suas “Poesias Completas” foram reunidas em 2005 num grosso volume de 540 páginas pela editora Assírio & Alvim, obra essencial para quem goste de ter uma visão ampla da moderna literatura portuguesa. Ali se juntaram os livros anteriormente publicados: Tempo de Fantasmas (1951); No Reino da Dinamarca ( 1958); Abandono Vigiado ( 1960); Poemas Com Endereço ( 1962); Feira Cabisbaixa ( 1965 ); De Ombro na Ombreira ( 1969 ); Entre a Cortina e a Vidraça ( 1972 ); A Saca de Orelhas ( 1979 ); As Horas Já de Números Vestidas ( 1981 ); Dezanove Poemas ( 1983 ), além de alguns dispersos. Morreu em 21 de Agosto de 1986, em Lisboa.

Nota: uma obra a ler para quem quiser conhecer melhor este escritor: “ Alexandre O’Neill – Uma biografia literária”, Maria Antónia Oliveira, Lisboa, Dom Quixote, 2007.





PAÍS SEMPRE ADIADO

Portugal foi, para o poeta Alexandre O’Neill, o lugar da sua dor: país adiado, videirinho, do “chacun que s’arranje!” – enquanto a Europa enfunava velas e já ia no mar alto. Satirizou: «País engravatado todo o ano / e a assoar-se na gravata por engano». Foi à procura desse país, para lhe tirar o retrato em palavras certeiras.



PELO ALTO ALENTEJO
In: Entre a Cortina e a Vidraça

Os homens desertaram destas terras.
Só um bacoco, a rufiar com a sombra,
só um bacoco, bolsado das tabernas,
em sete palmos, só, se reencontra.


Turistas fotografam cal e pedras:
o cubismo de casas e ruelas.
Nas soleiras sobraram umas velhas.
Escorre-lhes o preto pelas canelas.

Num caixote com rodas, meigo tolo,
- um que não veio, aos esses, lá das Franças,
passar com os velhotes as vacanças –
preso a um fio de cuspo, vende jogo.

Eu e a Teresa procuramos queijo.
O melhor que se traz do Alentejo.




PAÍS DISTRAÍDO

Vicente Jorge Silva, in: “PÚBLICA”, 18 /8/1996: « É talvez o poeta português moderno mais cruelmente injustiçado, mais esquecido e menos lido nos dias que correm – ele que foi um dos maiores inventores de palavras, paradoxos, trocadilhos e construções poéticas originais que este país deu à luz. (...)”
Alexandre O’Neill olhou-se e viu os outros; e nos outros viu-se a si próprio.

CAIXADÒCLOS
In: Feira Cabisbaixa
- Patriazinha iletrada, que sabes tu de mim?
- Que és o esticalarica que se vê.
- Público em geral, acaso o meu nome...
- Vai mas é vender banha de cobra!...
- Lisboa, meu berço, tu que me conheces...
- Este é dos que fala sozinho na rua...
- Campdòrique, então, não dizes nada?
- Ai tão silvatávares que ele vem hoje!
- Rua do Jasmim, anda, diz que sim!
- É o do terceiro, nunca tem dinheiro...
- Ó Gaspar Simões, conte-lhes Você...
- Dos dois ou três nomes que o surrealismo...
- Ah. agora sim, fazem-me justiça!
- Olha o caixadòclos todo satisfeito
a ler as notícias...


PAÍS DO MODO FUNCIONÁRIO DE VIVER

O’Neill tinha 25 anos quando conheceu Nora Mitrani, francesa que veio a Lisboa fazer uma conferência sobre o Surrealismo. Apaixonam-se e o poeta decide ir ter com ela a Paris. Alarmado, um familiar faz uma denúncia para a PIDE, tentando impedir a partida. É chamado ao inspector Seixas. Fica proibido de sair de Portugal e só depois do 25 de Abril conseguiria obter passaporte. Enojado com a PIDE e com o país que a consentia, escreveu um dos poemas mais pungentes da poesia portuguesa, dedicado à mulher amada. Por ser longo extraímos alguns excertos:

UM ADEUS PORTUGUÊS
In: No Reino da Dinamarca

Nos teus olhos altamente perigosos
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz de ombros puros e a sombra
de uma angústia já purificada

Não tu não podias ficar presa comigo
à roda em que apodreço
apodrecemos
a esta pata ensanguentada que vacila
quase medita
e avança mugindo pelo túnel
de uma velha dor

Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver

(...)
Não podias ficar presa comigo
à pequena dor que cada um de nós
traz docemente pela mão
a esta pequena dor à portuguesa
tão mansa quase vegetal

(...)
Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti.

__________________________________________________________________




Morreu João da Cruz Ramos, o poeta pastor


Perdi muito do que tinha,
Já fui tudo e serei nada;
A minha alma adivinha
Que a vida a que chamo minha
Foi-me apenas emprestada.

Em Março de 2003 esta página LUGAR ONDE foi dedicada. àquele a quem chamei “o guardador de poemas” e que os conterrâneos conheciam por “Palhinhas”. « Homem de poucas letras mas de rara sensibilidade literária» - escrevi então. Faleceu no início deste Março, no lugar onde sempre viveu, Casal da Junqueira, entre Bonabal e Coutada, «sítio de serena e belíssima paisagem». Aqui o recordamos com saudade. Adeus “Palhinhas”. E obrigado por tantos versos que nos cantaste.

18.3.07

PROGRAMA DE VIDA



Posted by Picasa
Senhor que a minha vida seja permitir a infância
embora nunca mais eu saiba como ela se diz
( Ruy Belo )

17.3.07

V I A G E N S . . .






Quantos barcos nos esperam?

Março já vai alto...





A PRIMAVERA
O pássaro chegou
e com ele a luz:
de cada trilo seu
nasce a água.
E entre água e luz que o ar desata
está a Primavera inaugurada já,
sabe a semente que já cresceu,
na corola desenha-se a raiz,
abrem-se por fim as pálpebras do pólen.
Tudo isto fez um simples pássaro
no alto dum verde ramo.
Pablo Neruda, Plenos Poderes, Public Dom Quixote, Lx , 1982

12.3.07

Praia de Santa Rita







Santa Rita, no litoral norte de Torres Vedras, estava assim ontem, ao fim da tarde.

E foi Camões que escreveu:

«Tomai-me, bravos mares;
Tomai-me vós, pois outrem me deixou»

Ele lá sabia...

10.3.07

Interior...Exterior

Do silêncio interior do Claustro românico da Sé Velha de Coimbra... ao sol que ilumina a Nazaré.

Andei por lá hoje.




























7.3.07

ALEXANDRE O' NEILL: "de ombro na ombreira"...






Ando de volta do Alexandre O'Neill. "POESIAS COMPLETAS", Ed. Assírio & Alvim. O pretexto é a belíssima "biografia literária" escrita por Maria Antónia Oliveira e publicada pela Dom Quixote já este ano (1ª ed.: Janeiro 2007)



CAIXADÒCLOS

- Patriazinha iletrada, que sabes tu de mim?
- Que és o esticalarica que se vê.

- Público em geral, acaso o meu nome...
- Vai mas é vender banha de cobra!...

- Lisboa, meu berço, tu que me conheces...
- Este é dos que fala sozinho na rua...

- Campdòrique, então, não dizes nada?
- Ai tão silvatávares que ele vem hoje!

- Rua do Jasmim, anda, diz que sim!
- É o do terceiro, nunca tem dinheiro...

- Ó Gaspar Simões, conte-lhes Você...
- Dos dois ou três nomes que o surrealismo...

- Ah. agora sim, fazem-me justiça!

- Olha o caixadòclos todo satisfeito
a ler as notícias...


HÁ PALAVRAS QUE NOS BEIJAM

Há palavras que no beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.

( O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado )

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

4.3.07

PERMITIR A INFÂNCIA... Sempre Ruy Belo!




Uma criança brincando com a água. Recordei o poema de Ruy Belo:





ALGUMAS PROPOSIÇÕES COM CRIANÇAS


A criança está completamente imersa na infância
a criança não sabe que há-de fazer da infância
a criança coincide com a infância
a criança deixa-se invadir pela infância como pelo sono
deixa cair a cabeça e voga na infância
a criança mergulha na infância como no mar
a infância é o elemento da criança como a água
é o elemento próprio do peixe
a criança não sabe que pertence à terra
a sabedoria da criança é não saber que morre
a criança morre na adolescência
Se foste criança diz-me a cor do teu país
Eu te digo que o meu era da cor do bibe
e tinha o tamanho de um pau de giz
Naquele tempo tudo acontecia pela primeira vez
Ainda hoje trago os cheiros no nariz
Senhor que a minha vida seja permitir a infância
embora nunca mais eu saiba como ela se diz

Ruy Belo, in: Homem de Palavra(s)
















AINDA A TASCA DO VENCESLAU






Encontrei a fotografia perdida! Andava misturada no meio de livros, CD's, revistas. O costume.


Aqui fica a tasca do Venceslau que hoje já só existe na nossa memória.

Para que não esqueça...