31.5.12

PRÉMIO CAMÕES 2012





Repito o que já aqui tenho escrito: ainda bem que há prémios!
Chamam a atenção para autores que nos passam despercebidos no meio da ganga de tralha que diariamente desagua nas livrarias. 
Digo sem rebuço: não conhecia este autor e fiquei com curiosidade, naturalmente.


PRÉMIO CAMÕES 2012

Dalton Trevisan foi distinguido com o Prémio Camões, no valor de cem mil euros, anunciou hoje em Lisboa o secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas.
A atribuição do Prémio ao autor de "O Vampiro de Curitiba" foi feita por unanimidade.
O júri destaca a obra sem concessões à vida social do escritor, que se distinguiu, em particular, na arte do conto.
"Vozes do Retrato - Quinze Histórias de Mentiras e Verdades" (1998), "O Maníaco do Olho Verde" (2008), "Violetas e Pavões" (2009), "Desgracida" (2010) e "O Anão e a Ninfeta" (2011) são algumas das suas últimas obras.
"Cemitério de Elefantes" foi uma das primeiras obras do escritor editadas em Portugal, pela Relógio d'Água, na década de 1980.
O Prémio Camões foi instituído em 1988 pelos Governos de Portugal e do Brasil e, segundo o texto do protocolo constituinte, consagra anualmente "um autor de língua portuguesa que, pelo valor intrínseco da sua obra, tenha contribuído para o enriquecimento do património literário e cultural da língua comum".
O júri desta 24.ª edição do Prémio é formado por Alcir Pécora, da Universidade de Campinas, no Brasil, Rosa Martelo, da Faculdade de Letras do Porto, Abel Barros Baptista, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas de Lisboa, a poetisa angolana Ana Paula Tavares, o escritor moçambicano João Paulo Borges Coelho, e o crítico, ensaísta e escritor brasileiro Silviano Santiago.
Ana Paula Tavares e Rosa Martelo fizeram também parte do júri do ano passado que distinguiu o poeta Manuel António Pina, o décimo português que recebeu o galardão.
O escritor Miguel Torga foi o primeiro galardoado, em 1989. Desde então foram já distinguidas 23 personalidades e apenas uma, o escritor angolano José Luandino Vieira recusou o Prémio, em 2006.
Na lista de distinguidos por país, a Portugal com dez distinguidos, segue-se o Brasil com nove personalidades, entre elas, Jorge Amado, Lygia Fagundes Telles e Rubem Fonseca.
Da lista de premiados constam ainda o poeta moçambicano José Craveirinha distinguido em 1993, o escritor angolano Pepetela, em 1997, e o cabo-verdiano Arménio Vieira, em 2009.
O júri reúne e anuncia o distinguido, intercaladamente, em Portugal e no Brasil. Era esperada a entrega do Prémio a um autor brasileiro, ou a um autor de um país africano de língua portuguesa, depois de o poeta português Manuel António Pina ter sido distinguido em 2011.


27.5.12

EDUARDO LOURENÇO - O pensador afável (BADALADAS, maio 2012)



“O grande intérprete da sociedade portuguesa”

EDUARDO LOURENÇO, O PENSADOR AFÁVEL

Nos anos 60 houve um livro que nos abriu horizontes inesperados: Mitologias, de Roland Barthes. Lembro-me bem do fascínio que me provocou, a mim e a tantos cuja formação se fez na escola de pensamento francês. Abalo semelhante só vim a tê-lo, anos mais tarde, quando descobri Eduardo Lourenço.

Vive em França há mais de 50 anos, onde desenvolve atividade docente universitária mas detesta que o considerem estrangeirado. É por estar lá fora que se sente muito mais cá dentro, num desses paradoxos que são marca da sua escrita ensaística. É a distância, que não significa afastamento, que lhe permite a análise profunda, a visão inteligente, instrumentos de observação lúcida mas sempre carregada de afetos.
Leitor voraz e atento, observador arguto das Artes, os seus inúmeros ensaios convidam-nos a uma apaixonante viagem pela nossa Cultura contemporânea. Fiel a um apurado e exigente sentido cívico, situando-se no campo das esquerdas, tem sido um incansável analista dos fenómenos políticos e sociais que aborda com argúcia e lucidez.
Mas Eduardo Lourenço não se arvora em juiz da pátria, em profeta de mensagens salvíficas, como vimos fazer a outros. Filósofo de formação, leva a sério a velha mensagem do templo grego - “conhece-te a ti mesmo”  - e é nessa linha que ele nos lê, nos olha, nos entende. E no final de cada um dos seus textos é como se dissesse: eu sou um de vós, sei isto porque sou isto também.
Tal como no livro de Barthes, encontrámos em Eduardo Lourenço o sentido crítico, a análise fulgurante e a reflexão iluminadora sobre os nossos desgastados quotidianos.
JMD

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Biografia

 EDUARDO LOURENÇO (DE FARIA) nasceu a 23 de Maio de 1923, em S. Pedro de Rio Seco, concelho de Almeida, distrito da Guarda. É o filho mais velho (de sete) de Abílio de Faria, oficial do Exército, e de Maria de Jesus Lourenço. Frequenta a Escola Primária na sua terra natal. Depois ingressa no Liceu da Guarda e termina os seus estudos secundários no Colégio Militar em Lisboa. Frequenta o Curso de Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra onde conclui a Licenciatura no dia 23 de Julho de 1946, com uma Dissertação com o título O Sentido da Dialéctica no Idealismo Absoluto. Primeira parte.

 Assume as funções de Professor Assistente nessa Universidade, cargo que desempenha até 1953. Desde então e até 1958 exerce as funções de Leitor de Língua e Cultura Portuguesa nas Universidades de Hamburgo, Heidelberg e Montpellier. Nos anos de 1958 e 1959, rege, na qualidade de Professor Convidado, a disciplina de Filosofia na Universidade Federal da Baía (Brasil). Ocupa depois o lugar de Leitor a cargo do Governo francês nas Universidades de Grenoble e de Nice. Nesta última Universidade irá desempenhar posteriormente as funções de Maître-Assistant, cargo que manterá até à sua jubilação no ano lectivo de 1988-1989.

Publica, em edição de autor, o seu primeiro livro Heterodoxia I em Novembro de 1949. Casa com Annie Salomon em 1954. Em 1966, nasce o seu filho adoptivo, Gil. Ao seu livro Pessoa Revisitado – Leitura Estruturante do Drama em Gente é atribuído o Prémio Casa da Imprensa (1974). Em 10 de Junho de 1981, é condecorado com a Ordem de Sant’Iago d’Espada. Pelo seu livro Poesia e Metafísica recebe, no ano de 1984, o Prémio de Ensaio Jacinto Prado Coelho. Dois anos mais tarde, é distinguido com o Prémio Nacional da Crítica graças a Fernando, Rei da nossa Baviera. Por ocasião da publicação da sua obra Nós e a Europa – ou as duas razões, é galardoado com o Prémio Europeu de Ensaio Charles Veillon, que distingue o conjunto da sua obra. Dirige, a partir do Inverno de 1988, a revista Finisterra - Revista de Reflexão e Crítica. É nomeado Adido Cultural junto da Embaixada de Portugal em Roma. É condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique (Grande Oficial). Recebe, no dia 1 de Julho de 1992, o Prémio António Sérgio. Participa no Parlamento Internacional de Escritores que decorre entre 28 e 30 de Setembro de 1994 em Lisboa. Pela sua obra O Canto do Signo recebeu em 1995 o Prémio D. Dinis de Ensaio.Nos últimos anos, Eduardo Lourenço recebeu inúmeras distinções, entre as quais se destacam: Prémio Camões (1996), Officier de l’Ordre de Mérite pelo Governo francês (1996), Chevalier de L’Ordre des Arts et des Lettres pelo Governo francês (2000), Prémio Vergílio Ferreira da Universidade de Évora (2001), Medalha de Ouro da Cidade de Coimbra (2001), Cavaleiro da Legião de Honra (2002), Prémio da Latinidade (2003), Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada (2003), Prémio Extremadura a la Creación (2006), Medalha de Mérito Cultural pelo Governo português (2008), Medalha de Ouro da Cidade da Guarda (2008) e Encomienda de Numero de la Orden del Mérito Civil pelo Rei de Espanha (2009).

Eduardo Lourenço é ainda Doutor Honoris Causa pelas Universidades do Rio de Janeiro (1995), Universidade de Coimbra (1996), Universidade Nova de Lisboa (1998) e Universidade de Bolonha (2006). Desde 2002 exerce as funções de administrador não executivo da Fundação Calouste Gulbenkian.

Em Dezembro de 2011, foi-lhe atribuído o Prémio Pessoa.

 http://www.eduardolourenco.uevora.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=51&Itemid=57&lang=pt

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Eduardo Lourenço vence Prémio Pessoa 2011

Eduardo Lourenço é o 25.º distinguido com o Prémio Pessoa. O anúncio foi feito no Palácio de Seteais em Sintra por Francisco Pinto Balsemão, Presidente do júri, constituído por Fernando Faria de Oliveira, António Barreto, Clara Ferreira Alves, Diogo Lucena, João Lobo Antunes, José Luís Porfírio, Maria de Sousa, Mário Soares, Miguel Veiga e Rui Magalhães Baião.
"Num momento crítico da História e da sociedade portuguesa, torna-se imperioso e urgente prestar reconhecimento ao exemplo de uma personalidade intelectual, cultural, ética e cívica que marcou o século XX português", escreveu o júri em comunicado sobre a escolha de Eduardo Lourenço, homenageando "a generosidade e a modéstia desta sabedoria, que tendo deixado uma marca universal nos Estudos Portugueses e nos Estudos Pessoanos, nunca desdenhou a heterodoxia nem as grandes questões do nosso tempo e da nossa identidade".
Para o júri, do qual Eduardo Lourenço foi membro até 1993, este prémio pretende prestigiar o filósofo e a sua intervenção na sociedade, "ao longo de décadas de dedicação, labor e curiosidade intelectual, que o levaram à constituição de uma obra filosófica, ensaística e literária sem paralelo".





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 PRÉMIOS LITERÁRIOS ?

«Não acho que os prémios tornem alguém melhor ou pior, mas regozijo-me quando são justos. A atribuição do Prémio Pessoa a Eduardo Lourenço não o faz maior do que já é, mas a publicidade que envolve atrairá mais gente à sua magnífica obra. Os verdadeiros vencedores do Prémio Pessoa são todos os curiosos que através do prémio tomarão pela primeira vez contacto com a obra maior daquele que é um dos pouquíssimos intelectuais a pensar Portugal em profundidade.»




CITAÇÕES

 “Que o português médio conhece mal a sua terra – inclusive aquela que habita e tem por sua em sentido próprio – é um facto que releva de um mais genérico comportamento nacional, o de viver mais a sua existência do que compreendê-la.”

 “Os Portugueses vivem em permanente representação, tão obsessivo é neles o sentimento de fragilidade íntima inconsciente e a correspondente vontade de a compensar com o desejo de fazer boa figura, a título pessoal ou coletivo.”
(in: O Labirinto da Saudade, Gradiva, 2005.)




9.5.12

MIA COUTO E JOSÉ EDUARDO ÁGUALUSA NA LIVRODODIA HOJE









A Confissão da Leoa
Autor: Mia Couto
Editora: Caminho
N.º de páginas: 270
ISBN: 978-972-21-2567-3
Ano de publicação: 2012
O novo romance de Mia Couto parte de uma história real, acompanhada de perto pelo escritor – biólogo de profissão – em 2008. Na província de Cabo Delgado (norte de Moçambique), um grupo de leões começou a atacar pessoas, causando 26 vítimas mortais em poucos meses. Numa nota inicial, o autor explica que na região havia quem acreditasse que «os verdadeiros culpados eram habitantes do mundo invisível, onde a espingarda e a bala perdem toda a eficácia». Aos leões verdadeiros sobrepunham-se leões imaginários, «fabricados» (emanações ou espelhos da maldade humana), contra os quais mesmo o mais experiente dos caçadores nada podia, porque eles «eram apenas os sintomas de conflitos sociais».
Para contar esta história à sua maneira, Mia Couto centrou-a numa aldeia africana inventada mas arquetípica: um lugar agreste, em que «até as plantas tinham garras» e onde tudo o que é vivo «está treinado para morder». Eis Kulumani, povoação doente e mesquinha, com cicatrizes da guerra civil, esquecida na imensidão da savana e subjugada a «arcaicos mandamentos» que moldam a sociedade («Todo o nosso presente era feito de passado»). O aparecimento dos leões serve como catalizador do medo colectivo, um pavor irracional que desenterra o lado mais selvagem dos seres humanos. E a ordem natural inverte-se: «as pessoas tornaram-se animais e os animais tornaram-se gente».
Resolvido a acabar de vez com a ameaça, chega à aldeia um caçador mulato, Arcanjo Baleiro, autor de um diário feito de fragmentos curtos, em que cruza o relato da espinhosa missão, para a qual é duvidoso que esteja preparado, com memórias traumáticas da sua vida familiar (a morte do pai, a loucura do irmão, o arrebatamento amoroso pela cunhada). Os capítulos alternam entre o diário de Baleiro e o caderno de Mariamar, irmã de uma das vítimas, mulher martirizada pelos maus tratos do pai durante a infância, mas figura fortíssima, luminosa, que sabe escrever (coisa rara numa terra de analfabetos) e encontra na escrita uma «máscara», um «amuleto». A primeira vez que enfrentou um leão foi ao aprender a letra «L» («ali, caligrafada no papel, a fera se ajoelhava a meus pés»); depois, não mais temeu uma natureza animalesca que reconhece em si própria.
Tendo em conta os contornos da narrativa, atravessada por cosmogonias, lendas, crenças e sonhos premonitórios, havia o risco de Mia Couto cair em estereótipos – ou, pior ainda, nas armadilhas do realismo mágico. Felizmente, tal não acontece. A sua prosa mimetiza a paisagem e flui como o rio que atravessa a aldeia. Não há demasiados afloramentos líricos, nem o exagero de neologismos que saturava muitas das obras anteriores. Sobretudo, afigura-se subtil e inteligente o modo de empurrar o leitor para o verdadeiro tema deste romance, que não é a caça (essa «alucinada vertigem» que acontece nas «costas da razão»), nem o receio da força bruta animal ou a “gestão das coisas invisíveis”, mas a trágica e «infindável» guerra entre homens que sempre abusaram do seu poder e mulheres educadas para a renúncia.
Avaliação: 8/10
[Texto publicado no suplemento Actual, do semanário Expresso] (Retirado daqui:


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Sinopse
Luanda, 1975, véspera da Independência. Uma mulher portuguesa, aterrorizada com a evolução dos acontecimentos, ergue uma parede separando o seu apartamento do restante edifício - do resto do mundo. Durante quase trinta anos sobreviverá a custo, como uma náufraga numa ilha deserta, vendo, em redor, Luanda crescer, exultar, sofrer. Teoria Geral do Esquecimento é um romance sobre o medo do outro, o absurdo do racismo e da xenofobia, sobre o amor e a redenção. (Do site da Wook:http://www.wook.pt/ficha/teoria-geral-do-esquecimento/a/id/12940450 )
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