24.7.06

ADEUS, PRINCESA...

Lembrei-me do título do romance de Clara Pinto Correia a propósito das "viagens na nossa terra".

18.7.06

Mudei de poiso... por um mês.

Quem me quiser ver vá até Santo Isidoro, aldeia sede de freguesia do concelho de Mafra, encostada à famosa Ericeira - onde muitas vezes vou, a pé, belo passeio.
Faço pausas neste "bloguear", virei aqui menos amiúde.
Apareçam!

LUGAR ONDE 2006 -- Semanário BADALADAS, Torres Vedras

Faz este mês 4 anos que iniciei no BADALADAS a página LUGAR ONDE. Não sei o que isto significa. Há leitores interessados? A página, como está, interessa a alguém? Muitas vezes tenho dúvidas se valerá a pena continuar... Mas vou persistindo, na ideia de que a Literatura pode ser um veículo de fruição espiritual para alguns interessados.
Continuemos, pois.
Este mês a página é sobre o livro de Cervantes "D. Quixote".
Aqui fica a transcrição.
LER OS CLÁSSICOS?
SIM! PORQUE MERECEMOS O MELHOR!

Há livros que resistem ao tempo como monumentos de pedra. São “os clássicos”, designação que assusta muitos leitores enganados pela ideia comum de que isso significa “livro maçador”.

Esta frase já aqui foi escrita no ano passado, a propósito de «Moby Dick». Este ano o que propomos para livro de Verão é o célebre – e celebrado - «Dom Quixote».

- Essa história de “ler os livros clássicos” já me aborrece. Quero lá saber... Livros escritos há séculos, alguma vez podem ter interesse para quem vive no século XXI?!!...
- Já percebi... para ti o que interessa é o imediato, o aqui e agora. Assim não vais longe...
- Pois claro que não vou longe, eu nem quero sair daqui...A mim bastam-me os livros escritos por gente do meu tempo! Não me interessa nada essa treta do D. Quixote, um homenzinho maluco que viveu há 400 anos e atacava moinhos de vento...
- Cada um lê o que quer, tudo bem. Mas acho que tu mereces mais...
- Não percebo...
- Sem querer armar-me em teu mestre, só te digo: os chamados livros clássicos são reconhecidos como tal porque são livros de todos os tempos. Falam do Homem intemporal e têm o condão de serem entendidos por leitores de todas as épocas.
- Mas nós estamos numa época especial. Temos computadores, somos um mundo global, agora é tudo diferente de antigamente.
- Será? As circunstâncias mudam com rapidez mas o ser humano permanece mais tempo... Embora também evolua, claro. O que os grandes livros clássicos nos mostram é a riqueza e a variedade do ser humano ao longo do tempo. Tu hoje abres a Bíblia – um grande texto clássico, para além da Fé de cada um - numa página qualquer e parece que te está a falar dos problemas que tens hoje. Abres a «Odisseia» e tens a mesma sensação. O mesmo com uma peça de Shakespeare ou o magnífico «Moby Dick.».
- Estás a meter tudo no mesmo saco...
- A grande qualidade dos livros clássicos é que eles podem ser lidos de muitas maneiras. Sabias que «Os Lusíadas» já foram estudados como livro de Ciências Naturais? Por ele sabemos o que o homem do século XVI conhecia sobre esse assunto...
- E o D. Quixote serve para estudar o quê? Como se não deve atacar moinhos de vento?
- Isso é um preconceito. As pessoas só pensam nos moinhos de vento quando falam do D. Quixote. A verdade é que este é um dos mais divertidos e variados livros de sempre. A história dos moinhos é um grão de areia no meio daquele mar de histórias, diálogos, situações. E há a figura do Sancho Pança, uma espécie de Zé-povinho, só que muito mais esperto.
- Já sei: daqui a pouco estás a dizer que todos temos um bocadinho de Quixote e de Sancho dentro de nós... Bahh! Conversa intelectualóide...
- Deixa-te de bocas patetas. Já reparaste? O grande prejudicado és tu! Eu divirto-me à grande com um livro fabuloso – um clássico, caramba! - e tu contentas-te com ... sei lá o quê? Mereces mais... Acredita: mereces muito mais!






“O melhor e também o primeiro de todos os romances”(H. Bloom)

"O Engenhoso Fidalgo D. Quixote de La Mancha" - o romance espanhol escrito por Miguel de Cervantes e publicado em duas partes (a primeira em 1605 e a segunda em 1615) - descreve, de forma satírica, a história de um homem de idade avançada que pensa ser um cavaleiro andante. A primeira parte do romance retrata a saída de D. Quixote da sua pequena aldeia, acompanhado do seu criado Sancho Pança, rumo às florestas da Serra Morena e apresenta o seu regresso à aldeia onde recupera da exaustão das "batalhas". Na segunda parte os dois viajantes encontram personagens que já leram a primeira parte do romance e têm conhecimento das aventuras que os dois protagonizaram e termina com D. Quixote a recuperar a razão. Este livro, que considero o melhor e também o primeiro de todos os romances, envolve uma grande variedade de personagens, de camponeses a nobres, de criminosos a padres, de prostitutas e amantes insanos a mulheres enganadas e homens ciumentos. Na sua maioria, as personagens oferecem a oportunidade para uma sátira social violenta, feita sempre sob um tom de enorme humor.
É a maior criação de Cervantes. O processo adoptado pelo autor – a paródia – permite dar relevo aos contrastes, através da deformação grotesca.
O conflito surge do confronto entre o passado e o presente, o ideal e o real, o individual e o social. D. Quixote e Sancho Pança representam valores distintos, embora sejam participantes do mesmo mundo. Estas figuras depressa conquistaram a imaginação popular. No entanto, os contemporâneos da obra não a levaram tão a sério como as gerações posteriores. Passou a ser vista como uma prosa épica de escárnio, em que "o ar sério e grave" da ironia do autor começou a ser bastante apreciado. O herói grotesco de um dos livros mais cómicos tornou-se no trágico herói da tristeza. Contudo, apesar de alguma distorção, a novela de Cervantes começou então a revelar a sua profundidade. Na história literária o «Dom Quixote» é reconhecido como o grande inspirador de grande parte da ficção moderna.
D. Quixote tem sido também uma notável fonte de inspiração para os criadores noutros campos artísticos. Desde o século XVII que se têm realizado peças de teatro, óperas, composições musicais e bailados baseados no D. Quixote. No século XX, as artes plásticas, o cinema, a televisão e os cartoons inspiraram-se igualmente nesta obra. (Adaptação de um texto de Harold Bloom, crítico literário e prof. universitário).


MITO DA CULTURA OCIDENTAL

Com ressonâncias do que à época se chamava livros de cavalarias medievais, a partir do sec. XIX designadas novelas de cavalaria, D.Quixote é em todo o caso por muitos historiadores da literatura considerado o primeiro romance moderno, na medida em que articula a componente imaginativa da narrativa de aventuras tradicional – e, até formalmente, pelo ritmo que lhe advém da adopção de um estilo coloquial e de uma redundância vocabular ou sintáctica, típicos dos relatos ou romances em verso transmitidos oralmente – com a notação mais ou menos irónica, quase sempre arguta, da realidade e da natureza humana.(…)
A intenção moral que lhe preside é com certeza um dos ingredientes fundamentais do texto do D. Quixote e do seu protagonista. Mas D. Quixote impõe-se enquanto mito da cultura ocidental, sobretudo a partir do Romantismo (cf. Almeida Garrett, Viagens na Minha Terra, cap.II), mais como anti-herói do que como herói: ele é o cavaleiro que persiste em lutar contra moinhos de vento ou rebanhos de ovelhas, como quem teima em defender “sonhos maiores do que nós” (Eduardo Lourenço, “Portugal, Identidade e Imagem”, in Nós e a Europa ou as duas Razões, 1988) contra os limites de uma realidade pequenina e chã representada por Sancha Pança. (Maria Teresa Arsénio Nunes, ensaísta)

15.7.06

AINDA O PASSEIO CULTURAL DO DIA 13 DE JULHO...

No dia em que visitámos a Serra de Montejunto fomos também a Runa, mais concretamente ao Hospital Real (ao qual deram há poucos anos um nome anódino: Centro de Apoio Social de Runa )fundado pela Princesa D. Maria Francisca Benedita. É uma visita que se impõe a quem quiser conhecer o Património Histórico de Torres Vedras. Não me vou alongar. Transcrevo apenas parte de um texto que fiz há anos para a revista "Oeste Cultural (2002) e que alguém "pirateou" para o site do Inst. Social das Forças Armadas - tudo bem, em nome da divulgação do nosso património.
Queridas colegas que me acompanharam nesse dia: aqui fica a Princesa, em vossa homenagem!


A Princesa
A Princesa Maria Francisca Benedita nasceu em Lisboa, no dia 25 de Julho de 1746. Foi a quarta e última filha do rei D. José e D. Mariana Victória de Bourbon, neta de D. João V e da Casa Real de Espanha pela via materna. Suas irmãs D. Maria, que viria a ser rainha de Portugal, a primeira desse nome, D. Mariana Josefa, com quem partilhou dotes de pintura, ainda hoje observáveis num painel de uma das capelas laterais da Basílica da Estrela, assinado pelas duas princesas e D. Maria Francisca Doroteia.
Foi baptizada na Sé Patriarcal de Lisboa pelo Cardeal D. Tomaz de Almeida. Recebeu um nome extenso, como era uso na realeza: D. Maria Francisca Benedita Ana Isabel Josefa Antónia Lourença Inácia Gertrudes Rita Joana Rosa.
Em 21 de Fevereiro de 1777 D. Maria Francisca Benedita casou com seu sobrinho, D. José, o primogénito de D. Maria. Ela tinha 30 anos, ele 15. A desproporção que hoje nos parece insólita, não o era na época, tendo em conta que os casamentos eram ajustados por conveniência e raramente por afinidade afectiva. As razões de Estado, a exigência aristocrática de casar princesas e príncipes e a tremenda mortalidade infantil própria da época eram os factores que reduziam drasticamente as possibilidades de escolha. Os cruzamentos das casa reais da Europa eram disputados e negociados arduamente pelas diplomacias. As diligências de casamento eram muitas vezes iniciadas quando os interessados estavam ainda na primeira infância.
Depois de enviuvar e de um difícil período de nojo, decidiu empregar os seus bens na construção de uma instituição verdadeiramente inovadora para o tempo. Podia ter optado por mais um convento ou uma igreja em Lisboa, o que lhe daria prestígio imediato entre os seus pares da nobreza e créditos espirituais entre o clero. Não o fez, escolhendo o projecto arrojado e corajoso de Runa ao qual dedicou o resto da vida.
Os retratos que a representam, pintados ou em gravura, e que se encontram em Runa e no Museu dos Coches, mostram uma mulher de grande formosura. Teve uma educação à altura da sua condição social, que encontrou terreno fértil em dotes assinaláveis de inteligência e sensibilidade artística. Conhecem-se os seus mestres, contratados pelo rei D. José, ele próprio um apaixonado das Belas-Artes: David Perez, célebre maestro de Nápoles, deu-lhe lições de música. Em Runa encontra-se ainda um órgão móvel do séc. XVIII, muitas vezes tocado pela Princesa. Mas não foi só na música: declamava e comentava poesia em diversas línguas, das quais o inglês, o espanhol, o francês e o italiano, que falava correctamente. Na pintura e no desenho deixou uma obra artística que, sendo académica, se reconhece como representativa do gosto da época, pois teve mestres de nomeada: o pintor Domingos Rosa, provavelmente Domingos de Sequeira e o gravador Joaquim Carneiro da Silva.
A peça de arte mais conhecida da Princesa é a famosa custódia, executada a partir de um desenho seu e que se pode admirar no museu de
Runa.
Quem hoje for ao Panteão Real dos Braganças, junto à Igreja de S. Vicente de Fora, em Lisboa, encontrará as singelas arcas tumulares do Príncipe D. José e da Princesa D. Maria Francisca Benedita, uma sobre a outra, com os nomes gravados na pedra. Parece pouco para quem tanto viveu.

13.7.06

HOJE: PASSEIO À SERRA DE MONTEJUNTO




Faz parte do nosso horizonte quando olhamos para NE. Santuário da Natureza, espaço único que tantas vezes ignoramos. Corremos todos para a praia, parece que não sabemos fazer mais nada quando vamos de passeio. Contra mim falo...

Mas hoje fomos lá. Contemplámos! E lemos o que alguns mais informados ( e preocupados!) nos quiseram transmitir.

Querem partilhar connosco? Aí ficam algumas dicas.


Serra Montejunto



A Serra de Montejunto foi classificada Área de Paisagem Protegida em Julho de 1999, e Sítio da Rede Natura 2000 (lista europeia de sítios de interesse para a conservação da natureza) A destacar-se na paisagem, entre Cadaval, Alcoentre, Alenquer e Vila Verde, ergue-se a serra de Montejunto, com 15km de extensão e 7 de largura, atingindo no ponto mais elevado 666 m, de onde se desfruta um vasto panorama. A vegetação que reveste esta formação de natureza calcária é em parte constituída pelas plantas espontaneamente adaptadas às condições ecológicas que a mesma oferece, dominando a azinheira e o carrasco, além de algumas espécies botânicas que só ali se encontram. Da natureza geológica e conformação da serra resulta a abundância de água, proveniente das nascentes que a rodeiam e que, recebida numa vasta bacia fechada, se infiltra por orifícios ou algares. Como normalmente se verifica em formações geológicas idênticas, existem na serra grandes cavernas onde foram encontrados vestígios de uma fauna há muito extinta no País. De facto, no passado a serra era coberta por uma densa mata onde abundavam os animais bravios.
Apesar das árvores já não constituírem um dos elementos naturais mais comuns em Montejunto, porque o fogo ceifou muitos hectares de floresta ao longo destes últimos quinze anos, a que se somam os efeitos negativos provocados pelo plantio crescente de eucaliptos, é ainda possível encontrar em Montejunto a sombra e a frescura de pequenos bosques de castanheiros, cedros, ciprestes, pinheiros e o verde da extensa manta das espécies arbustivas: carrascos, carvalhiça, azinheiras, loureiro, aroeira, medronheiros, etc. Mas também a beleza das cores do alecrim, rosmaninho, rosa albardeira e das muitas dezenas de espécies de flores silvestres raras, constituindo uma área de estudo muito interessante.


Fauna de Montejunto

A Serra de Montejunto possui um ecossistema de montanha, muito diferente do da região envolvente, devido a: - Sistema de escarpas - Acentuado declive das suas vertentes - Altitude
Em termos geo-morfológicos a serra inviabiliza qualquer povoamento humano. O que felizmente significa uma riqueza faunistica única. Com base nos estudos e observações por nós efectuadas podemos já apresentar uma pirâmide ecológica da Serra. Embora não a consideramos definitiva, será contudo o suporte essencial de uma outra mais elaborada, para o que será necessário um conjunto de estudos específicos que desde já nos propomos levar por diante. No primeiro nível, os seres produtores constituem um conjunto de várias combinações vegetais. Esta diversidade permite a existência de uma grande variedade de consumidores de primeira ordem . Para além da diversidade, a inexistência de produtos tóxicos usualmente utilizados na agricultura na agricultura, confere ás populações de primeiros consumidores da Serra a preciosa característica de não constituírem perigo para os seus predadores. Com estas populações abundantes, variadas e saudáveis, abre-se caminho da melhor maneira para os níveis superiores.
Imediatamente acima deste nível surge o das espécies que se alimentam principalmente de insectos e pequenos invertebrados: Batráquios, Quiropteros, Insectívoros e algumas pequenas aves dependem quase exclusivamente do nível trófico anterior. Juntamente com algumas espécies vegetais e de passeriformes, é nos dois últimos estratos predadores e super-predadores que se encontra o mais valioso património genético da Serra. Ainda que executando a tarefa indiscutivelmente necessária do controlo de pequenos mamíferos (nomeadamente roedores), estes grupos têm sofrido nos últimos anos uma substancial redução dos seus efectiv
Na Serra de Montejunto já foram identificadas cerca de 115 espécies de aves, entre elas a gralha-de-bico-vermelho, o corvo, o gaio, o melro azul o pica-pau verde, o peneireiro e a águia-de-asa-redonda. Existem 3 espécies consideradas em vias de extinção, e por isso rigorosamente protegidas: o Bufo-real, a Águia de Bonelli e o Andorinhão Real. O primeiro é uma rapina nocturna que chega a medir 75 cm, e é o único super-predador da pirâmide ecológica representativa da Serra.
Entre os mamíferos destacam-se o gato-bravo, os texugos e sobretudo várias espécies cavernícolas de morcegos, uma das maiores riquezas faunísticas da serra e que esteva na base da sua inclusão na lista da Rede NATURA 2000.
Existem também repteis como o sardão, a cobra rateira e a cobra de ferradura e alguns anfíbios como o sapo-comum, a salamandra de pintas e o tritão-marmorato.


Ameaças ao Montejunto

Florestação

A plantação, em larga escala, de algumas espécies vegetais como o eucalipto (Eucalyptus globulus), tem vindo a alterar de forma irreversível a fisionomia da serra e da região. Existe também o problema de existirem empresas que querem executar trabalhos de terraplanagem de uma das encostas e de parte do planalto para a plantação de Eucaliptos, com o fim da obtenção de celulose. A concretizar-se, a florestação com Eucaliptos constituirá rude golpe na fauna serrana. Pela gravidade de que se reveste, esta é a principal ameaça com que se defrontam as aves de presa e os outros animais do Montejunto.

A caça
Existem na área zonas de proibição de caça, estando a restante área sujeita ao Regime Geral. No entanto realce-se que a caça ilegal tem sido um factor importante de perturbação com efeitos graves na fauna em geral. Apesar de protegidas pela lei, nem por isso as rapaces deixam de ser perseguidas pelos caçadores e populações rurais. A pilhagem dos ninhos e o abate de aves para embalsamar ou pelo simples prazer de destruir, são procedimentos correntes, responsáveis pelo desaparecimento anual de dezenas de aves de presa na região.
Morcego os.
Peneireiro de
Dorso Malhado
Águia ferida por tiro


Os fogos
[A Serra de Montejunto foi grandemente devastada por imensos incêndios ...]
Os fogos são também uma das preocupações e uma das maiores ameaças para a serra de Montejunto. Estes ao longo dos anos têm destruído zonas da serra muito bonitas e interessantes, pondo também a descoberto grandes e largas extensões de ossatura pedregosa da serra.

Pressão Humana

Dada a proximidade de Lisboa e as excelentes condições naturais que oferece, a serra de Montejunto é bastante procurada para a prática de modalidades desportivas como a asa delta, o montanhismo e antigamente o rallye (agora substituído pelo todo-terreno). Estas práticas desportivas perturbam o ambiente natural e as espécies, e têm vindo a ser praticadas a uma escala crescente. A perturbação causada por estas actividades pode constituir uma ameaça grave que importa ter em conta. A asa delta e o parapente são desportos com grandes impactes por estar muito próximo dos locais mais interessantes e sensíveis da serra – as escarpas.

A Real Fábrica do Gelo


Classificado como Monumento Nacional em Dezembro de 1997 pelo Ministério da Cultura a Real Fábrica de Gelo situa-se na Serra de Montejunto, a 70 km de Lisboa, perto duma Base da Força Aérea. A edificação da "fábrica do gelo" da serra de Montejunto, é geralmente atribuída aos Frades Dominicanos, que aí permaneceram no início do séc.XIII, tendo fundado o primeiro convento em ordem de S.º Domingode Portugal a mando de João Rosa e Pedro Fracalanza, entãconcessionários do abastecimento e comercialização do gelo em Lisboa, tendo a obra demorado seis anos. A citação mais antiga, data de 1741, ano em que os dois responsáveis pelo abastecimento de gelo à cidade de Lisboa executaram obras na serra do Montejunto, aproveitando assim as boas condições climatéricas da serra. O fabrico de gelo iniciava-se no final do mês de Outubro. Cerca de meia centena de tanques amplos e rasos de calcário que serviam para a operação de congelamento, cobriam-seágua que, ao atingir o estado sólido durante a noite, era retirada e colocada em camadas nos poços construídos para o efeito dentro de um edifício típico da altura, perto destes tanques. Naquele tempo dizem historiadores que fazia muito mais frio, daí que esta Serra fosse conhecida por ser a Serra da Neve, algo que raramente temos nos dias de hoje. O mês de Outubro era o escolhido para encher os tanques, através de um sistema de condutas (entre tanques), enchendo-os e fazendo com que o passar da noite se transformasse em gelo. "Antes do nascer do sol dezenas de pessoas, num trabalho árduo, partiam as placas de gelo e amontoavam os fragmentos, para depois os carregar para o edifício dos silos" Depois de devidamente armazenados nos três "poços" , do qual o mais alto tinha 9 metros de profundidade o gelo era cuidadosamente envolvido em palha e serapilheira, os blocos de gelo eram primeiramente transportados no dorso de pacientes burros, que os conduziam até à base da serra. Aqui chegados prosseguiam viagem em vagarosos carros dbois até atingirem o porto do Carregado . A derradeira fase do percurso era efectuada nos "Barcos da neve" que, Tejo abaixo, atingiam finalmente a capital com prioridade absoluta de passagem por ordem real. Este gelo após esta viagem que chegava a durar até um dia, acabava por chegar às instalações reais e podia então cumprir o seu destino, perecendo na fausta mesa real ou ao balcão de um cafés lisboetas, como o exemplo de "Martinho da Arcada". s o de e
O património histórico da Serra inclui ainda no topo a Ermida de Nossa Senhora das Neves, edificada no sec. XIII. Situada junto às ruínas do primeiro convento Dominicano (sec. XIII) esta ermida é local de culto para milhares de cristãos. Nas proximidades existe ainda a pequena capela de S. João Baptista, com azulejos figurativos com temas da vida do santo que lhe deu o nome.
Tanques do gelo
Área de Armazenamento

Estas informações foram retiradas do site da ALAMBI. Aconselhamos uma visita mais completa.
APARTADO 63 2584-909 ALENQUER alambi@alambi.org Tel. 914023930 www.alambi.org
A Alambi é uma Organização Não Governamental de Ambiente de âmbito local,
inscrita no Registo Nacional de ONGA e na Confederação Portuguesa das Associações de Defesa do Ambiente

A VISITA DO SENHOR BISPO...(Hoje apetece-me entrar na política!)

Não consigo levar a sério o Presidente da República. Aquilo não cola. Cavaco Silva (CS) anda pelo país a pregar a inclusão. Agora são as criancinhas violentadas. Amanhã serão as velhinhas esquecidas. Depois os "sem abrigo" nas grandes cidades. ETC! ETC!
C. Silva era (ou parecia...) autêntico como Primeiro-Ministro. Tinha um estilo, de que se gostava ou não. Era autêntico, por exemplo, na sua "ileteracia", confidenciando inocentemente que andava a ler o "Mau tempo no Canal" por conselho da mulher, professora das literaturas.
A sua marca como PM foi a de alguém que considerava necessário racionalizar a economia, mesmo que isso custasse desemprego e emagrecimento dos serviços do Estado. Mais tarde falou na necessidade de eliminar "o monstro", as excessivas despesas públicas.
Ccavaco S. foi eleito PR com esse aval de seriedade e rigor na economia.
O que vemos agora?
Cavaco Silva em missão humanitária pelo pais, lembrando a todos que há miséria, exclusão, pobreza... Chega a qualquer terrinha, é o espectáculo que se via antigamente, quando vinha o Senhor Bispo: altas individualidades locais com seus fatinhos a cheirarem a naftalina, damas com ar de madrinhas de casamento, criancinhas alinhadas e compostinhas... E depois chega sua Exª, com ar seráfico de profeta da boa nova. Inicia-se o ritual, a visita e o discurso. Este, então, é lido com semblante compungido, por vezes severo, fustigando os egoísmos, atirando «verdades duras como punhos» à cara de uma sociedade edonista que ignora tanta desgraça.
O que é que não cola aqui?
Cavaco Silva, na sua preocupação de denúncia, está a transmitir uma mensagem que ele, como Primeiro Ministro, combateu: é que a solução para tantos males só é possível com mais Estado, mais serviços de apoio, mais instituições de solidariedade, mais técnicos de serviço social, mais psicólogos...
A não ser que CS acredite que a solução venha da iniciativa privada, que esta se mobilize para incluir os excluídos, que gaste em solidariedade social o que sonega ao Estado com a fuga aos impostos. Mas se assim fosse, em vez de estar hoje em Oliveira de Azeméis, Cavaco Silva estaria em reunião com a administração da GM da Azambuja, a tratar da inclusão dos mil e tal novos desempregados...
Não, não consigo levar a sério o Presidente da República.
E se ele visitar a minha terrinha, vou aproveitar para aprender a pescar à linha na praia de Santa Cruz...

12.7.06

As palavras são como pedras

Atirar uma pedra: no momento seguinte já não nos pertence, impossível voltar atrás, ela voa e vai bater.

Bate!!!

E agora? Que fazer depois de dizer a alguém: "quem és tu para me criticares?" Sobretudo se é alguém com esse direito pelo lugar que ocupa no nosso universo.

A pedra bate e faz doer. Deixa marca.

Quem sou eu para atirar assim uma pedra?

Nódoa negra. Onde bateu mas, também, em de onde partiu.

11.7.06

Quando o sol

Estas névoas de verão separam o Oeste do resto do país. Vivemos noutro continente.
Quem viveu anos no Ribatejo sabe o que é o calor que sai da terra, respiração quente, sensual.
No Oeste é como viver junto de uma mulher que nos é indiferente. Pode ser bonita mas não nos transtorna.

9.7.06


O texto sobre o passeio pelos arredores de Torres Vedras não ficaria completo sem imagens como estas:

Claustro do Convento do Varatojo e imagem do exterior junto da entrada.

7.7.06

PASSEANDO PELO OESTE...

E assim foi. Um desafio, um itinerário proposto, treze pessoas que aderiram.
Um círculo em redor de Torres Vedras: Castro do Zambujal, Convento do Varatojo,Forte de S. Vicente. Viagem no tempo!

Guardaremos pequenas lembranças para quando vier o inverno...

O castro: cinco mil anos, duzentas gerações humanas, a vertigem do tempo inscrita nas pedras. Erva por todo o lado, a Macondo de Garcia Marques engolida pela selva. O silêncio do planalto sublinhado pela ave, magestosa e indiferente, a desenhar círculos no céu.

Depois o Convento, já a tarde se alongava de veludos. Aquele claustro! Ah!

Forte de S. Vicente: a guerra, a memória dos homens e suas dores. Que cresça - ali sim! - a erva e cubra de vez os gritos que ainda se ouvem.

Despedimo-nos, plenos de nos gostarmos na partilha da breve viagem, na memória de tantos que nos precederam e já lá vão, mais à frente.


«Eh! Companheiros de plataforma!
Não empurrem, irmãos!»

(José Gomes Ferreira, Eléctrico)

...porque é que me vieram à memória estes versos?

6.7.06

Partiu no vento essa mulher...

COMO QUEM ESCREVE COM SENTIMENTOS

Estou sujeito ao tempo sou este momento
perguntam-me quem fui e permaneço mudo
o tempo poisa-me nos ombros em relento
partiu no vento essa mulher e perdi tudo

Já não virá ninguém por muito que vier
em vão esperei a rosa da minha roseira
quando um pássaro sai dos olhos da mulher
é porque ela é de longe e não da nossa beira

Resta-me um sonho desconexo e desconforme
Na haste da camélia que o vento quebrou
jamais a vida branca como ela dorme
Eu era essa camélia e nunca mais o sou

A minha vida é hoje um sítio de silêncio
(...)

A vida é uma coisa a que me habituei
adeus susto e absurdo e sobressalto e espanto
A infância é uma insignificância eu
e apenas por a termos perdido a amamos tanto

Estou sozinho e então converso com a noite
(...)

- Ruy Belo, in: Toda a Terra -

4.7.06

CHEGAM NOTÍCIAS...

Separados fomos por cítaras e canto
E pelos longos poemas silabados
E entre nós dois deitaram-se paisagens
Que nos mantinham imóveis e distantes

Embora o fogo secreto das palavras
E a veemência do canto e das imagens
Embora a paixão das noites consteladas
E o nevoeiro tocando a nossa face

Separados fomos por cítaras e canto
Como outros por prisões ou por espadas

(Sophia de M. B. Andersen, in Mar Novo)




Mar
Eco da tua voz

Gaivota
Gritoda tua ausência

Brisa
Aroma do teu perfume

Lágrimas
Sufoco da minha dor!



Leio, registo, quedo-me absorto em cada palavra que o vento me traz. Como diz um amigo: «brincos de palavra»!
LUGAR ONDE apenas cabem vertigens e abismos de alma/vida, a desdizer pessimismos...

LUGAR ONDE fala o meu pessimista de estimação




E de súbito, numa volta de caderno, encontro esta transcrição de Guerra Junqueiro, essa voz poderosa que atroou o início do séc. XX português.

« O que é a vida?
A vida é o mal. A expressão última da vida terrestre é a vida humana, e a vida dos homens cifra-se numa batalha inexorável de apetites, num tumulto desordenado de egoísmos, que se entrechocam, rasgam, dilaceram.
O Progresso marca-o a distância que vai do salto do tigre, que é de dez metros, ao curso da bala, que é de vinte quilómetros. A fera, a dez passos, perturba-nos. O homem,a quatro léguas, enche-nos de terror. O homem é a fera dilatada.»

(G. Junqueiro in: Carta-Prefácio, dirigida a Raul Brandão no livro "Os Pobres", ed. Seara Nova, 1978)

2.7.06

Lugar de POESIA

O Amor é
Ferida que não dói,
a palavra que não precisa de ser dita,
um olhar suspenso dos teus olhos,
respirar o ar em que respiras,
dizer o teu nome
e ouvir nele a tua voz
,esperar-te em cada instante
em que sei que me esperas,
dar-te a alegria que me dás,
ver-te chegar num eco de ave,
e deixar que me prendas
com o teu gesto mais suave,
sentir-te, só, ao pé de mim,
e sentir-me tão só longe de ti,
saber que existes em mim
como sei que existo em ti,
a flor de fogo do teu corpo,
e beijar essa flor.
Nuno Júdice, in Geometria Variável
Public. Dom Quixote

MAS VAMOS AO QUE INTERESSA

E o que interessa é a grande poesia. Como esta, do Alexandre O'Neill:


TOMA LÁ CINCO!


Encolhes os ombros, mas o tempo passa...
Ai, afinal, rapaz, o tempo passa!

Um dente que estava são e agora não,
Um cabelo que ainda ontem preto era,
Dentro do peito um outro, sempre mais velho coração,
E na cara uma ruga, que não espera, que não espera...

No andar de cima, uma nova criança
Vai bater no teu crânio os pequeninos pés.
Mas deixa lá, rapaz, tem esperança:
Este ano talvez venhas a ser o que não és...

Talvez sejas de enredos fácil presa,
Eterno marido, amante de um só dia...
Com clorofila ficam os teus dentes que é uma beleza!
Mas não rias, rapaz, que o ano só agora principia...

Talvez lances de amor um foguetão sincero
Para algum coração a milhões de anos-dor
Ou desesperado te resolvas por um mero
Tiro na boca, mas de alcance maior...

Grande asneira, rapaz, grande asneira seria
Errar a vida e não errar a pontaria...

Talvez te deixes por uma vez de fitas,
de versos de mau hálito e mau sestro,
E acalmes nas feias o ardor pelas bonitas
(Como mulheres são mais fiéis, de resto...)

Para o Daniel Sant'Iago, "brincador" de palavras...

Há blogues com autor identificado e os que são assinados por pseudónimos. Eu estou no primeiro caso e tu no segundo. Qual é melhor ou pior? Nenhum. Apenas diferentes.

Pseudónimos sempre houve, heterónimos houve alguns que todos conhecemos. Mas isso era na literatura "dos livros".

O que me faz confusão na "literatura dos blogues" é a invenção continuada de "um Outro" que, dia após dia, escreve e comenta os comentários que recebe como se fosse uma pessoa real. Mas como não é, usa a roupa que todos lhe conhecem como pessoa real mais a que só tem coragem para usar quando está sozinho. E isso dá resultados de cambiantes diversos, que vão do hilariante ao "nauseante". (Sim, caí na tentação de fazer comentários jocosos. Foi o que na altura me pareceu mais adequado àquela amostragem de "fotos-ousadas-mais-poeminhas-de-glosa". Peço perdão se ofendi, eu apenas me estava a rir... Mas depressa fui topado. Eu a tentar enganar um mestre do disfarce...).

Do outro lado do blogue estão aquelas pessoas que lêem e comentam, com nomes tão improváveis como "ninfa cor-de-rosa", ou "della-porther", num jogo de espelhos e artifícios que, sendo divertido, por vezes tem um aspecto irritante: um aroma subtil de afectividade afectada, resultado do faz-de-conta que tudo aquilo é.

Repara, Daniel: não faço juízo de valor. Apenas um "juízo de consequência". Sim, é o que dá ser sincero, dizer a um amigo que se tem um blogue e esse amigo não ter capacidade para o ler simplesmente. Erro teu, culpa minha. Estamos quites.

Amigos? Sempre!!!

1.7.06

Já 10 anos sem David Mourão-Ferreira

EPIGRAMA PARA UMA SEGUNDA DESPEDIDA

Eis o que espanta: ainda nós sabemos
os gestos rituais da despedida!
E, tarde ou cedo, à noite adormecemos,
embora sem a alma adormecida.



EPIGRAMA PARA UMA TERCEIRA DESPEDIDA

Eu vi a eternidade nos teus dedos!
Eu vi a eternidade, e amedrontou-me
saber, tão de repente, tais segredos.
- Eu não mereci, sequer, saber-te o nome.

David Mourão-Ferreira, Obra Poética