Vivemos um tempo de experiências imediatas e consumos de urgência, como se o amanhã não existisse e o passado não contasse mais… Mas é neste tempo, curiosamente, que a História exerce uma atracção poderosa. Sucedem-se as edições de estudos e romances de carácter histórico, como se toda a gente tivesse ficado subitamente cansada da ficção pura e procurasse no passado uma compensação para o vazio do presente.
Este fenómeno interessante verifica-se também entre nós, torrienses e pouco significado teria se fosse uma moda de circunstância. Mas, felizmente, não é.
Já o LUGAR ONDE de Fevereiro de 2004 chamava a atenção para o facto de que “é tempo de falar de uma historiografia torriense”. E fazia uma listagem das obras históricas mais significativas. De então para cá o panorama enriqueceu-se, com a publicação de outras obras que constituem um repositório valiosíssimo para o conhecimento do nosso passado. O que queremos salientar hoje é que, a este facto, não é alheia a reorganização do Arquivo Municipal cujos objectivos a médio prazo foram assim definidos:
Conclusão da organização física dos fundos do Arquivo Municipal;
Promoção de projectos de investigação de interesse local e regional, em parceria com a FCT (Fundação para a Ciência e a Tecnologia)
Edição de fontes documentais e estudos on-line;
Elaboração de um Plano Cultural Específico:
Organização de exposições temáticas;
Organização de visitas de estudo ao Arquivo;
Acções de formação sobre gestão documental para as Juntas de Freguesia, Paróquias, Escolas e Associações;
Colóquios e Encontros sobre história e identidade locais.
Orientação de estágios
Microfilmagem e Digitalização de algumas séries documentais.
Ao propor-se dinamizar um Plano Cultural e assegurar a orientação de estágios, entre outros objectivos, o Arquivo Municipal passou a protagonizar uma acção de enorme alcance e de resultados bem visíveis na área da cultura e, mais especificamente, na historiografia torriense.
Sem pretendermos fazer agora o levantamento rigoroso dessa acção, lembramos duas
iniciativas do Arquivo Municipal: a realização das “Sopas de Pedra” – no claustro do Convento da Graça, em que se divulga História Local como sobremesa de autênticas sopas tradicionais…; e os Encontros de História sob o título genérico de “TURRES VETERAS”, o mais recente dos quais se realizou na passada semana e que foi o XIº!
Destes Encontros têm vindo a ser publicadas as respectivas actas que, no seu conjunto, constituem um importantíssimo acervo documental e de investigação histórica, tanto do ponto de vista nacional como local. Podem ser adquiridos na Biblioteca Municipal por preços quase simbólicos. Cada volume versa um tema específico: I – História Medieval; II – História Moderna; III – História Contemporânea; IV – Pré-História e História Antiga; V – História Militar e da Guerra; VI – História da Morte; VII – História das Figuras do Poder; VIII – História das Festas; IX – História da Alimentação; X – História do Sagrado e do Profano.
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ENTREVISTA
Missão cultural dos Arquivos
Carlos Guardado da Silva é o Director do Arquivo Municipal de Torres Vedras, onde tem realizado uma notável e intensa actividade de organização e divulgação dos acervos documentais. Pusemos-lhe algumas questões:
LUGAR ONDE (L.O.): A imagem tradicional que temos dos arquivos é a de lugares sombrios onde se guardam papeladas velhas que só interessam aos estudiosos da História, e onde está vedada a entrada do público. A realidade actual é muito diferente desta ideia?
Carlos Guardado (C.G.): Nas últimas décadas do século XX os arquivos tornaram-se verdadeiros “centros” culturais, associando este papel com a função da comunicação e o acesso democrático à cultura, direito garantido pela Constituição da República.
L.O. – Qual é a função actual dos Arquivos?
C.G. – A sua função continua a ser a de gestão patrimonial, gestão de um património específico – o documental – produzido pelas diversas entidades (colectivas, pessoas, famílias…), garantindo a salvaguarda dos direitos dos cidadãos, ao mesmo tempo que conservam a memória. Os Arquivos, tal como as Bibliotecas e os Museus, fazem parte das chamadas «instituições memorizadoras», a quem cabe a função de recuperação da memória. Esta recuperação e a sua valorização constituem uma verdadeira tarefa educativa, cultural e cívica, cabendo aos arquivos a responsabilidade de fazer perdurar no tempo um património único.
L.O. – Qualquer cidadão pode ter acesso aos arquivos?
C.G. – Cada vez mais os indivíduos sentem necessidade de conhecer as suas origens – pessoais ou sociais – com as quais se identificam, permitindo a construção ou o reforço dos laços de pertença. Os deveres e direitos dos cidadãos em relação à cultura estão constitucionalmente garantidos, como já disse, e a legislação sobre Arquivos definem-nos como “instituições culturais”. Por isso os arquivistas estão cada vez mais abertos ao aumento e diversificação dos perfis dos clientes, isto é, dos utilizadores, o público em geral.
L.O. – Essa diversidade é compatível com o trabalho diário dos arquivistas?
C.G. – Interessa a cada arquivo satisfazer as necessidades e expectativas dos utilizadores externos, assim como captar novos utilizadores que desconhecem muitas vezes quer a existência dos arquivos, quer de determinados documentos, ou determinados serviços. Esta é uma mudança iniciada “timidamente” em França, no início da década de 50 do século passado, vindo os investigadores profissionais a ceder protagonismo em favor de estudantes e de curiosos, tendo estes uma formação variável, que não apenas a da História, procurando investigar temas de âmbito genealógico ou de história local.
L.O. – Aos arquivistas pede-se, então, uma multiplicidade de tarefas?...
C.G. – Pois, já não chega ao arquivista ser um gestor de documentação (a documentação de arquivo) e de informação. As suas competências têm de se desenvolver para ir ao encontro das funções de comunicação e de difusão e de dinamização cultural. E o arquivista não pode igualmente descurar as técnicas de marketing, o conhecimento do mundo multimédia, assim como a planificação e a gestão de recursos, quer sejam materiais, quer sejam de informação, quer sejam financeiros, quer sejam, ainda, recursos humanos.
Cabe também ao Arquivista comunicar os documentos aos diferentes públicos. É aliás a comunicação, enquanto função, a dimensão da profissão que justifica todas as outras dimensões. A finalidade da conservação dos arquivos é poder, dentro dos ditames da lei, comunicar os documentos ao maior número possível.
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Nos dias 16 e 17 de Maio decorreu mais uma edição do Encontro de História, desta vez sob o tema da Guerra Peninsular, evocando o Bicentenário das Invasões Francesas. Iniciativa de diversas entidades, com destaque para a Câmara Municipal de Torres Vedras através do seu serviço de Arquivo. De sublinhar a participação das universidades de Aix en Provence, Varsóvia e Oviedo, para além da presença habitual das universidades de Lisboa e de Coimbra.
Salientamos a qualidade excepcional dos materiais de promoção – cartazes e desdobráveis com o programa – da autoria de Olga Moreira. Vale a pena seguir com atenção as belíssimas criações estéticas desta profissional do design gráfico.
Salientamos a qualidade excepcional dos materiais de promoção – cartazes e desdobráveis com o programa – da autoria de Olga Moreira. Vale a pena seguir com atenção as belíssimas criações estéticas desta profissional do design gráfico.
Em cada TURRES VETERAS é feito o lançamento do livro com as comunicações do Encontro do ano anterior. A “História do Sagrado e do Profano” foi o tema do ano passado, agora em livro com 284 páginas, em que se transcrevem os textos das 19 comunicações apresentadas.
8 comentários:
Méon,
E o lugar da História...ganha novas Memórias!
É importante dar alento a quem trabalha para as preservar e transmitir às gerações seguintes. Uma página, mais uma vez, bem apelativa!!!!
Obrigado pelas visitas. este espaço é para divulgar, claro...
Excelente trabalho Amigo Méon,
Alcobaça, tão perto geograficamente, encontra-se a quilómetros de distância em termos culturais, de preservação e divulgação do seu património cultural. É pena que os povos não tenham arte e engenho para estas tarefas essenciais ao desenvolvimento das comunidades e das culturas locais.
Alguns falam muito, sobretudo dizendo da inação ou incompetência de outros mas, no final das contas, nem uns nem outros fazem nada. É farinha do mesmo saco...
No vosso caso vê-se obra e acção, o que é muito positivo.
Um abraço amigo,
Maria Faia
Maria Faia:
Obrigado pelas palavras de incentivo! Lá irei ao seu cantinho!
Maria Faia
... mas o seu cantinho continua parado...
Então?
Não se deixe impressionar por um qualquer palerma que lhe atanazava o blog!
excelente contributo para a história e em prol da história.
É bom ver que colhemos frutos do que plantamos. Imagino que se sinta feliz!
Jasmim:
É preciso acreditar que da sementeira nascerão frutos...
É isso que nos faz felizes.
Obrigado.
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