JÁ LÁ VÃO TRINTA ANOS…
Estava-se em 1979. As mais antigas colectividades de cultura e recreio queimavam os últimos cartuchos do associativismo tradicional, ao ritmo das festas marcadas por “bailes abrilhantados por famosos conjuntos musicais”. Tuna, Grémio e Operário enfrentavam ventos da mudança com as discotecas como formas alternativas de divertimento e a televisão como electrodoméstico de largo uso a todas as horas do dia e da noite. Torres Vedras alargava o espaço urbano, com novas gentes e novas exigências de vivência cultural a que não era alheio o aumento exponencial do parque escolar em todos os graus de ensino.
1979 foi um “ano-dobradiça”: final da louca década da Revolução, início da outra que traria normalidade e encontro com a Europa. Torres Vedras reproduzia em pequena réplica as contradições do país: o que era novo mal tinha força para se afirmar, o já velho adiava quanto podia a morte anunciada. O que fora sementes de futuro – caso do Cineclube, a grande referência cultural torriense de resistência ao salazarismo – não resistia ao tempo que o tornava em presente. Mas outros movimentos se ergueram, a pegar no testemunho. Entre eles, a Cooperativa de Comunicação e Cultura e o seu jornal ÁREA, projecto inovador na Escrita, na Arte, na forma de promover, ver e viver a Cultura.
Trinta anos. Tanto e tão pouco! Assim é o tempo, diverso e desmedido, desalinhado de pesos e medidas no seu permanente passar. JMD
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Testemunho de um fundador
BREVE HISTÓRIA DE UMA AVENTURA
Estão a decorrer este mês várias actividades comemorativas do 30º aniversário da Cooperativa de Comunicação e Cultura (CCC), uma das associações culturalmente mais inovadoras e dinâmicas da região.
Tendo sido um dos fundadores dessa associação, sou o seu sócio nº 2, recordo aqui um texto, por mim escrito por ocasião do 20º aniversário dessa associação, e onde se descrevia, em breves palavras, a história da CCC. Algumas partes foram actualizadas. É um ponto de vista.
Outros terão outras histórias para contar, esperando que aproveitem a ocasião para o fazerem.
Tudo começou porque um grupo de jovens irreverentes de Torres Vedras, que ainda não tinham “arrefecido” do calor da “revolução”, resolveu tornar visíveis as suas preocupações culturais e sociais, discutidas horas a fio à mesa dos cafés, na casa de uns e de outros, na sede do cineclube, ou no festival da Figueira. Foi de facto na Figueira da Foz, no intervalo dos filmes, que o “núcleo torriense” de espectadores desse festival, em Setembro de 1978, começou a delinear o novo projecto, aprofundado depois em incontáveis reuniões em casa do Fernando Mouro, mais tarde nas velhas instalações do Convento da Graça, alargando o número de participantes caçados ao nosso círculos de amigos do “liceu”, do “cineclube”, do “café”, do “Impulso”,…
A construção do jornal “Área” congregou uma geração, hoje entre os “quarenta e muitos” e os “sessenta”, os mais novos então a acabar o Liceu e os mais velhos recém licenciados em início de carreira docente, que tinham em comum um passado recente de activa vivência política e cultural durante os anos quentes de 74-75 e chegaram aos finais dessa década politicamente desalinhados à esquerda.
Editado pela primeira vez em Novembro de 1979, o seu conteúdo e o seu inovador grafismo, que muito deve ao Aurelindo Ceia, representaram uma verdadeira lufada de ar fresco no panorama editorial e cultural local, e mesmo nacional, de então.
Se um dia se fizer uma história rigorosa da inovação do jornalismo nacional após o 25 de Abril, de certeza que o “Área” irá figurar num lugar de destaque.
De publicação mensal, entre Novembro de 1979 e Junho de 1981, editaram-se treze números, sob a direcção do José Eduardo Miranda Santos.
Em 1979, no ano em que surgiu o “Área”, vivia-se um momento de viragem em Torres Vedras, simbolicamente representado pela mudança do título de vila para o de cidade.
Começavam a surgir novas preocupações, reflectidas em muitas reportagens do “Área”, como o ambiente, a expansão dos “mamarrachos”, o desordenamento territorial, a invasão do automóvel, o desenvolvimento da cibernética, temas tratados por este jornal, também nisso pioneiro a nível local, sem esquecer que este foi dos primeiros a nível nacional a alertar para a situação em Timor Leste.
Contudo a realidade acabou por se revelar mais complicada que o sonho. Iniciaram-se as primeiras rupturas pessoais no interior do projecto, inevitáveis quando a paixão era o motor que mantinha a chama do “Área”. A “Cooperativa de Comunicação e Cultura”, que sustentava a estrutura legal do jornal, deparando-se com essa realidade, ganhava um peso crescente, ambicionando outros caminhos, deixando o “Área” de ser o seu objectivo principal.
Duas faces da mesma moeda, “Área” e “Cooperativa...” representaram então duas visões para um mesmo projecto que, infelizmente, se revelaram inconciliáveis.
O “Área” conheceu então uma nova reestruturação, deixando de ser um regular e irreverente órgão de informação local, para se transformar ele próprio num objecto cultural, integrado num projecto mais vasto e ambicioso que apostou num outro tipo de intervenção.
A Cooperativa de Comunicação e Cultura apostou então em actividades mais viradas para o meio, como os célebres e inovadores passeios culturais. Revolucionou o panorama das artes plásticas a nível regional com as actividades desenvolvidas à volta da primeira galeria de arte em Torres Vedras, a Galeria NOVA, realizou eventos de grande impacto, como a inesquecível “Performarte”, organizou uma das primeiras exposições nacionais de Banda Desenhada, lançou livros e divulgou ciclos de cinema.
Hoje num novo espaço, com novos projectos, com uma direcção de gente mais nova, a Cooperativa de Comunicação e Cultura, na senda dos seus fundadores, é uma das raras associações que continua a renovar-se, quem em gente, quer em projectos.
Enfrentando hoje novos desafios, saradas feridas passadas, mesmo que à custa de novas feridas, o 30º aniversário da Cooperativa de Comunicação e Cultura deve reflectir sobre os caminhos trilhados no passado para melhor se consolidar como espaço cultural alternativo e inovador no panorama cultural da região.
Venerando Aspra de Matos, Blogue VEDROGRAFIAS
COOP: imagens actuais
Assinalando o 30º aniversário da fundação, a Cooperativa de Comunicação e Cultura acaba de publicar o número 19 do jornal ÁREA. Textos e ilustrações fazem dele um “objecto cultural” que apetece fruir. Olhares sobre o presente desta associação, algumas interrogações e reflexões acerca do papel essencial da cultura, o ÁREA 19 é para ser lido e guardado como mais um importante testemunho de uma experiência de trinta anos que não fica parada no tempo e procura renovar-se constantemente.
O projecto actual da CCC passa em grande parte pela exploração da fotografia como forma privilegiada de comunicação. Nesse sentido acaba de adquirir mais um edifício, próximo da sua Sede, que será um Centro de Fotografia. Este espaço dá corpo à iniciativa “Câmara Escura” e integra-se no Protocolo de Parceria Local “Torres ao Centro”, estabelecido entre o Município de Torres Vedras e seis instituições locais.
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