23.10.11

LUGAR ONDE de 23 setembro 2011 no BADALADAS (1)

(1) O pequeno texto de introdução "Merecer Timor", bem como o mapa, não foram publicados no BADALADAS por falta de espaço





MERECER TIMOR


Timor foi um sobressalto cívico para nós, portugueses, quando vimos as imagens chocantes da repressão no cemitério de Santa Cruz, em Dili, em 12 de Novembro de 1991. O país foi varrido por uma onda de solidariedade para com o povo timorense, onda tão forte quanto passageira. Timor fica demasiado longe. Já nem nos lembramos que no referendo de Agosto de 1999, apesar das ameaças da Indonésia, mais de 98% da população timorense foi às urnas e o resultado apontou que 78,5% dos timorenses que votaram pela independência. E que a Língua Portuguesa foi adotada como oficial, a par do tétum. Será que merecemos Timor?

Mas há sempre quem resista ao esquecimento. A Escola P. Vítor Milícias, de Torres Vedras, tem uma geminação com Timor e teima em estreitar contactos com aquele país, numa corajosa missão de elevadíssimo valor cultural e humano. Disso nos dão conta nesta página os professores que estiveram em Timor no seu período de férias, no passado mês de Agosto. | JMD


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Torres Vedras visita Soibada

Escola Padre Vítor Melícias marca presença na escola Pré-Secundária timorense





A mais de 15.000Km de distância do ponto mais ocidental da Europa, debaixo da sombra do gondoeiro, encontrámos todos os nomes portugueses: Samuel, Ana, Rosário, Eufémia, Gabriel, Valente, Umbelina, Avelino, Germano, João, Carlos, Juliana, José, Cesário, Aníbal, Crisóstomo, Fátima, Abel, Agostinho, Celestino, Cristóvão, Armindo, Raul, Joaquim, Alexandre, Bernardino, Isaías, Duarte, Eduarda, Adelina, Nelson, Simplício, Inácio, Manuela, Cecília, Januário, Luís, Abraão, Paulina, Alexandrino, António, Maria, Eulália, Felismina, Domingos, Sebastião, Veríssimo Rita, Luísa, Augusta, Belchior, Lucinda, Teresa, Albino, Francisco, Jacinta, Francisca, Ângelo, Domingos, Napoleão, Alzira, Cunha, Sequeira, Sarmento, Cruz, Amaral, Caldas, Costa, Soares, Carvalho, Pinto, Alves, Batista, Dias, Alves, Mendonça, Oliveira, Jesus, Rodrigues, Silva, Santana, Mendes, Fernandes, Pereira, Lemos, Reis, Cosme, Carvalho. Na árvore da tranquilidade, misturámo-nos com todos esses nomes que nos deixaram estupefactos face à marca viva e acarinhada da presença portuguesa no sudeste asiático, em Timor Lorosae.
A visita à ilha, mais concretamente ao antigo reino de Samoro (atual Soibada), revelou-nos um país em construção que mantém a ligação mítica entre dois povos diferentes que juraram lealdade eterna num cenário natural indescritivelmente belo, porta aberta para o paraíso. Na escola de Soibada, além de material escolar, deixámos cinco máquinas fotográficas para que alunos e professores possam registar rostos e o quotidiano de forma a dar a conhecer o seu dia-a-dia aos parceiros portugueses, através não só das fotos mas também da narrativa feita em português e tétum, ambas línguas oficiais, e avivar os laços entre os dois países.

 Nota: Esta visita só foi possível graças ao empenho e determinação do padre Vítor Melícias (patrono da escola envolvida).   


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O projeto de geminação



“Muito gostaria que esta escola se geminasse com a escola de Soibada, a Coimbra de Timor.” Xanana Gusmão, Escola Padre Vítor Melícias, Torres Vedras, 2001
O Despacho 28/ME/91, de 28 de Março, oficializa a geminação entre a Escola Padre Vítor Melícias (Torres Vedras – Portugal) e a Escola Pré-secundária de Nossa Senhora de Aitara (Soibada – Timor-Leste). A geminação foi proposta pelo então Comandante Xanana Gusmão durante a visita à escola torriense. Constituiu-se um programa de geminação e intercâmbio com os objetivos de criar laços de amizade e cooperação entre alunos, professores, pais e funcionários das duas escolas; conhecer e dar a conhecer as localidades e países envolvidos; colaborar na superação de algumas dificuldades materiais através da oferta de materiais escolares e outros; contribuir para a aprendizagem da Língua Portuguesa em Timor e conhecimento do Tétum em Portugal.
No âmbito deste projeto já ocorreram diversos eventos como a visita de D. Ximenes Belo (2001); visita de D. Basílio do Nascimento (2002); visita de uma delegação da nossa escola a Soibada (2004); visita de alunos e professores timorenses à Escola Padre Vítor Melícias (2005, 2007, 2008); organização da Corrida por Timor (Parque da Várzea, Torres Vedras, 2010); última visita a Soibada (18 de Agosto a 31 de Setembro de 2011).


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Os participantes na “Aventura”







(da esq. para a dt e de cima para baixo)
Chico, Ana Assunção, Teresa Carmo, Valente da Cruz, Rino, António Pedro,
Daniel Abreu, Lurdes Martins, Salomé Abreu e Ana Cláudio

O Mestre Valente da Cruz foi um inestimável anfitrião que tudo fez para que nada nos faltasse nesta visita inesquecível.
O Chico e o Rino, os motoristas, mestres do volante, em quem confiámos e que nos guiaram por caminhos inacreditáveis!

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A língua portuguesa é língua oficial de Timor Lorosa’e, embora pouco ouvida. A proibição do seu uso durante a invasão indonésia provocou um grande retrocesso na sua divulgação.

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Timor Lorosa’e - A ilha do Sol Nascente
texto de João Pedro Mésseder

Era uma vez uma ilha verde com forma de crocodilo onde – diziam os antigos – o sol nascia… e onde um pequeno povo sereno e sábio quis um dia construir um país – e votou pela independência. Vieram então soldados estrangeiros, os mesmos que, vinte e quatro anos antes, tinham ocupado a terra e roubado ao povo o seu destino. E, ao serviço de chefes poderosos, tinham matado e massacrado, apagado o sol e trazido com eles uma noite que parecia longa, tão longa como a morte.
E mais uma vez queimaram e mataram e massacraram. E o povo fugiu para as suas montanhas cor-de-mãe.
Passaram dias e dias que pareciam meses. Quando o mundo já não suportava a dor e a vergonha de pouco ou nada se fazer, e depois de muitos saírem à rua nos seus países a gritar e a chorar pelo pequeno povo… alguns senhores que governam o mundo e dão ordens aos generais decidiram enfim enviar soldados para a ilha do sol nascente.
Chegaram a 20 de Setembro muitos homens com suas armas. Revolveram a terra cor de sangue, fizeram sair os soldados do mal e disseram que a terra era do povo. A pouco e pouco, ainda a medo, a gente desceu das montanhas. Velhos e meninos, homens e mulheres regressaram, doentes e famintos, às cidades, às pequenas aldeias, aos campos do paraíso verde, arruinado. Do nada recomeçaram então a construir um país novo. E o sol voltou a nascer.   



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No paraíso verde de um país em construção, a educação é a base para um crescimento sustentável.  
         

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