9.5.12

MIA COUTO E JOSÉ EDUARDO ÁGUALUSA NA LIVRODODIA HOJE









A Confissão da Leoa
Autor: Mia Couto
Editora: Caminho
N.º de páginas: 270
ISBN: 978-972-21-2567-3
Ano de publicação: 2012
O novo romance de Mia Couto parte de uma história real, acompanhada de perto pelo escritor – biólogo de profissão – em 2008. Na província de Cabo Delgado (norte de Moçambique), um grupo de leões começou a atacar pessoas, causando 26 vítimas mortais em poucos meses. Numa nota inicial, o autor explica que na região havia quem acreditasse que «os verdadeiros culpados eram habitantes do mundo invisível, onde a espingarda e a bala perdem toda a eficácia». Aos leões verdadeiros sobrepunham-se leões imaginários, «fabricados» (emanações ou espelhos da maldade humana), contra os quais mesmo o mais experiente dos caçadores nada podia, porque eles «eram apenas os sintomas de conflitos sociais».
Para contar esta história à sua maneira, Mia Couto centrou-a numa aldeia africana inventada mas arquetípica: um lugar agreste, em que «até as plantas tinham garras» e onde tudo o que é vivo «está treinado para morder». Eis Kulumani, povoação doente e mesquinha, com cicatrizes da guerra civil, esquecida na imensidão da savana e subjugada a «arcaicos mandamentos» que moldam a sociedade («Todo o nosso presente era feito de passado»). O aparecimento dos leões serve como catalizador do medo colectivo, um pavor irracional que desenterra o lado mais selvagem dos seres humanos. E a ordem natural inverte-se: «as pessoas tornaram-se animais e os animais tornaram-se gente».
Resolvido a acabar de vez com a ameaça, chega à aldeia um caçador mulato, Arcanjo Baleiro, autor de um diário feito de fragmentos curtos, em que cruza o relato da espinhosa missão, para a qual é duvidoso que esteja preparado, com memórias traumáticas da sua vida familiar (a morte do pai, a loucura do irmão, o arrebatamento amoroso pela cunhada). Os capítulos alternam entre o diário de Baleiro e o caderno de Mariamar, irmã de uma das vítimas, mulher martirizada pelos maus tratos do pai durante a infância, mas figura fortíssima, luminosa, que sabe escrever (coisa rara numa terra de analfabetos) e encontra na escrita uma «máscara», um «amuleto». A primeira vez que enfrentou um leão foi ao aprender a letra «L» («ali, caligrafada no papel, a fera se ajoelhava a meus pés»); depois, não mais temeu uma natureza animalesca que reconhece em si própria.
Tendo em conta os contornos da narrativa, atravessada por cosmogonias, lendas, crenças e sonhos premonitórios, havia o risco de Mia Couto cair em estereótipos – ou, pior ainda, nas armadilhas do realismo mágico. Felizmente, tal não acontece. A sua prosa mimetiza a paisagem e flui como o rio que atravessa a aldeia. Não há demasiados afloramentos líricos, nem o exagero de neologismos que saturava muitas das obras anteriores. Sobretudo, afigura-se subtil e inteligente o modo de empurrar o leitor para o verdadeiro tema deste romance, que não é a caça (essa «alucinada vertigem» que acontece nas «costas da razão»), nem o receio da força bruta animal ou a “gestão das coisas invisíveis”, mas a trágica e «infindável» guerra entre homens que sempre abusaram do seu poder e mulheres educadas para a renúncia.
Avaliação: 8/10
[Texto publicado no suplemento Actual, do semanário Expresso] (Retirado daqui:


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Sinopse
Luanda, 1975, véspera da Independência. Uma mulher portuguesa, aterrorizada com a evolução dos acontecimentos, ergue uma parede separando o seu apartamento do restante edifício - do resto do mundo. Durante quase trinta anos sobreviverá a custo, como uma náufraga numa ilha deserta, vendo, em redor, Luanda crescer, exultar, sofrer. Teoria Geral do Esquecimento é um romance sobre o medo do outro, o absurdo do racismo e da xenofobia, sobre o amor e a redenção. (Do site da Wook:http://www.wook.pt/ficha/teoria-geral-do-esquecimento/a/id/12940450 )
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