12.1.11

UM POUCO DE AUDÁCIA...


Um pouco de audácia com todos é uma importante prudência. É preciso moderar a ideia que se tem dos outros para não os elevar a ponto de os temer­mos. Que a imaginação nunca vença o coração. Alguns parecem importantes até que se começa a conviver. Este contacto provoca mais a decepção que a estima. Ninguém excede os curtos limites da humanidade: cada qual tem o seu "mas", uns na inteligência e outros no carácter. A dignidade proporciona uma autoridade apa­rente que quase nunca é acompanhada de autoridade pessoal. A sorte costuma castigar um emprego importan­te com méritos inferiores. A imaginação aumenta sem­pre e torna as coisas mais importantes do que são; não capta só o que há, mas o que poderia haver. A razão, cur­tida pela experiência, deve corrigi-la. Mas, nem a necedade deve ser atrevida, nem temeroso o mérito. Se à simpli­cidade lhe valeu a confiança em si própria, muito mais à valia e ao saber!

BALTAZAR GRACIÁN (1601-1658), in A ARTE DA PRUDÊNCIA

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