19.1.07

Recordar o autor de "APARIÇÃO"





A Página deste mês no BADALADAS é sobre o grande escritor


VIRGÍLIO FERREIRA: interrogação sobre o destino humano

Em 1 de Abril de 1981 Virgílio Ferreira esteve em Torres Vedras, no Cine-Teatro Ferreira da Silva, para assistir à projecção e comentar o filme de Lauro António, Manhã Submersa, baseado no seu romance com o mesmo nome publicado em 1953. Quem lá esteve recorda o perfil austero, a frase rigorosa, o olhar penetrante. Recordamos um dos grandes escritores portugueses do século XX.

Nasceu em Melo (Serra da Estrela) em 1916 e faleceu na sua casa de Lisboa em 1996, de ataque cardíaco quando estava a escrever. Teve a morte que desejava, ele que em todos os seus livros assumiu como tema central o enigma da existência humana, o destino da humanidade, a solidão e o lugar do homem no mundo.
O seu livro mais conhecido é, talvez, Aparição, publicado em 1959. Sendo uma das obras de leitura aconselhada para os estudantes do E. Secundário, continua a despertar nestes um vivo interesse. É que a “aparição” refere-se a esse momento único da vida de todos os homens, quando tomam consciência de si-próprios e de que cada ser humano é “um fenómeno único que não se repete”. O acto de existir e a verificação de que essa existência é efémera motiva a angústia existencial e a interrogação. Virgílio Ferreira optou por se distanciar do romance neo-realista que se centrava na condição social do “homem explorado pelo homem” e afirmou o primado da individualidade e do destino humano face à desmedida dimensão do universo. Ler Virgílio Ferreira é procurar, com ele, as respostas ao enigma da existência humana. Por isso a sua obra continua tão actual.



OBRA VASTÍSSIMA

Virgílio Ferreira foi distinguido com os mais importantes prémios literários: da Associação Portuguesa de Escritores para o romance Até ao Fim (1988); Prémio Fémina para a tradução francesa de Manhã Submersa; do Pen Club, que o propôs para o Prémio Nobel; da Associação Internacional de Críticos Literários; do Município de Lisboa; Prémio D. Dinis da Casa de Mateus. E ainda Prémio Europália, em 1991 e o maior de todos: Prémio Camões, para o conjunto da obra.
Tem 22 obras de ficção. Num crescendo impressionante, publicou na parte final da sua vida aqueles que alguns consideram os seus romances mais tocantes: Para Sempre (1983); Até ao Fim ( 1987); Em Nome da Terra (1990); Na Tua Face ( 1993).
Escreveu mais de uma dezena de Ensaios de carácter filosófico, dentro da perspectiva da chamada “filosofia existencialista”. Destacamos: Invocação ao Meu Corpo ((1969); Espaço do Invisível (quatro tomos, de 1965 a 1987).
De 1980 a 1994 publicou 9 volumes do seu diário, em duas séries, o célebre conjunto com o título de “Conta-Corrente”. Em 2001 foi publicado Escrever, reflexões soltas sobre os mais diversos temas e que faziam parte do seu vasto espólio.





CITAÇÕES
( do livro ESCREVER)

O universo é infinito mas o homem é finito. E no entanto a infinitude é que é a medida do homem.

Amas ou não uma mulher, mas não sabes porquê. Como hás-de poder saber a razão do bem e do mal?

Há duas vozes no homem e aí se equilibra a História. Uma delas diz: ama o teu semelhante porque ele é teu irmão. E a outra diz: esmaga o teu semelhante porque ele é teu rival. Esta voz é a mais forte porque a parte de animal no homem é a mais poderosa.

2 comentários:

Anónimo disse...

A 'cabeça' deste Homem é uma força da natureza. É partir sempre à descoberta em cada re-leitura!
Parabéns, Badaladas

Joaquim Moedas Duarte disse...

Obrigado, Maria do Sul. A página que vou alimentando mensalmente no BADALADAS - semanário regional de T. Vedras -,tem a grande virtude de me motivar a ler, a re-descobrir, a reflectir e a partilhar com os leitores que querem ir mais além da notícia local e das tricas futebolísticas do Toorriense.
A tua visita é mais uma motivação. Obrigado