28.4.12

LUGAR ONDE Nº 117 - UM MONUMENTO NACIONAL À NOSSA ESPERA



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                                          GRUTA CALCOLÍTICA DA ERMEGEIRA

                    UM MONUMENTO NACIONAL À NOSSA ESPERA

A Associação do Património de Torres Vedras, inspirada no lema deste ano do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios – ver texto nesta página – decidiu realizar um programa de divulgação e sensibilização para este Monumento Nacional, tão pouco conhecido dos torrienses, a decorrer neste mês de Abril no Maxial, freguesia do Município de Torres Vedras com numerosos vestígios de ocupação humana desde a Pré-História. O mais significativo é a Gruta Calcolítica da Ermegeira – aldeia próxima da sede de freguesia – descoberta e explorada no final dos anos 30 do século passado. Do espólio existente avulta um par de pendentes (brincos?) e parte de um colar, de ouro, guardados no Museu Leite de Vasconcelos, em Belém, cuja valia e raridade explicam a classificação daquela estação arqueológica como Monumento Nacional.
Da gruta resta apenas uma parte da calote, o que se explica pela ação do tempo e algum vandalismo. Mas aquele é um vestígio importante a preservar e que está em risco de ser desclassificado devido ao estado de abandono.

PROGRAMA – mês de ABRIL:
Dias 17 a 23
               No Auditório da Junta de Freguesia do Maxial:
              - Pequena exposição alusiva ao período calcolítico, com peças do Museu Leonel  
                Trindade, de Torres Vedras             
      - Sessões com alunos das Escolas do Maxial, em horas a definir

Dia 21 (sábado)
             15H30: Autocarro da Câmara Municipal de Torres Vedras, junto ao Tribunal, para quem 
             quiser deslocar-se ao Maxial
             16H00 – Auditório da Junta de Freguesia: Sessão evocativa e documental sobre a Gruta da 
       Ermegeira     
             17H30 – Visita ao local da Gruta Calcolítica da Ermegeira
Dia 22
            09H00:Caminhada com passagem pelo local da gruta. Partida frente à Junta de Freguesia do
           Maxial. Percurso com cerca de 10 km, de nível fácil, aberto ao público em geral.

Este programa foi organizado com a colaboração da Junta de Freguesia do Maxial, do Município de Torres Vedras e dos técnicos do Museu Municipal Leonel Trindade, de Torres Vedras. Assinala-se, igualmente, a participação do prof. Jorge Ferreira da Silva que executou réplicas perfeitas do valioso espólio  da Gruta, em exposição na Junta de Freguesia do Maxial. | MD


Aspeto atual da gruta calcolítica da Ermegeira




Reconstituição da gruta, de acordo com o relatório de Manuel Heleno, seu investigador.
Desenho de José Pedro Sobreiro, exposto na Junta de Freguesia do Maxial.



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DIA INTERNACIONAL DOS MONUMENTOS E SÍTIOS

Mais uma vez a ADDPCTV assinala o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, 18 de Abril, com um conjunto de iniciativas que estão integradas no Programa Nacional coordenado pelo IGESPAR – Instituto de Gestão do Património Arquitetónico e Arqueológico.
Este Dia Internacional foi criado pelo ICOMOS (Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios) a 18 de Abril de 1982 e aprovado pela UNESCO no ano seguinte, com o objetivo de sensibilizar o público para a diversidade e vulnerabilidade do património, bem como para o esforço envolvido na sua proteção e preservação.
Os temas anualmente sugeridos pelo ICOMOS pretendem promover o estabelecimento de uma ligação efetiva entre as realidades locais, regionais, nacionais e internacionais. Assim, através desta data comemorativa, pretende-se celebrar o património nacional, mas, também, a solidariedade internacional em torno da salvaguarda e da valorização do património de todo o mundo. O tema deste ano é: «Do Património Mundial ao Património Local: proteger e gerir a mudança»


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Pendentes de ouro encontrados na gruta(expostos no Museu Nacional de Arqueologia, em Belém)



Réplicas em latão (pendentes e contas tubulares), executadas por Jorge Ferreira da Silva



DESCOBERTA DA GRUTA DA ERMEGEIRA

«(…) Em 1939 descobriu-se casualmente na Ermegeira, freguesia do Maxial, concelho de Torres Vedras, na Quinta de Entrecampos, a cerca de 50 metros da residência existente na mesma, uma gruta artificial.
O aparecimento de um par de brincos de ouro e quatro tubinhos de folha enrolada do mesmo metal, ocasionaram a destruição de parte do monumento e das ossadas e abundante cerâmica que possuia.
Foi o Museu Etnológico, que, apesar da doença que nesse ano sofreu o seu director, se esforçou por salvar algo do que restava, se inteirou do destino dos objectos de ouro, comunicou ao Instituto de Arqueologia (Vid. A Voz, de 19 de Dezembro de 1939) e à sub-secção de Antiguidades da Junta Nacional de Educação o valor do achado e os prejuízos sofridos com o seu remeximento.
Não ficou por aqui a acção do mesmo Museu. Obteve do Sr. Lopes da Silva, gerente da agência do Banco Ultramarino em Torres Vedras, a cedência dos brincos que adquirira numa ourivesaria local e de cinco  tubinhos, já que os outros quatro foram derretidos, e promoveu a limpeza da mesma gruta e a crivagem da terra tirada para fora. (…)
(…) A gruta artificial da Ermegeira está aberta nas camadas cretáceas, vulgarmente designadas «grés de Torres» (neocomiano e aptiano). Apresenta hoje só câmara, com a abóbada e a parte lateral norte des­truídas pelos violadores e com diâmetros que oscilam entre 4m,30 e 4m,5o. A altura do fundo à superfície mede 3m,20, não podendo por isso a abóbada ir acima de 2m,50. Não se pode já precisar o seu meio de comunicação com o exterior: Corredor, se o houve, foi destruído por um corte feito para abertura de um caminho; e a clarabóia, se existiu, foi demolida com a abóbada. Contudo, o encontro de uma laje, ao meio do fundo da câmara, auto­riza a presunção da existência de clarabóia, mas só a presunção, porque não longe, na freguesia de Monte Redondo, na Quinta das Lapas (…), há grutas da mesma época (…)»

in: Manuel Heleno, GRUTA ARTIFICIAL DA ERMEGEIRA, Separata do vol. II de ETHNOS, revista do Instituto Português de Arqueologia, História e Etnografia, Lisboa, 1942



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