Maria do Rosário Pedreira é uma profissional da edição mas é também escritora. Em 1996 estreou-se com A CASA E O CHEIRO DOS LIVROS e neste título está a essência da sua poesia: a casa onde tudo acontece, casa como espaço de vida e como metáfora de vida interior; e os livros, espaço onde se escreve a vida e a interioridade poética.
Em Setembro deste ano a Quetzal publicou a sua poesia reunida.
Dei-te o
meu corpo como quem estende
um mapa
antes da viagem, para que nele
descobrisses ilhas e paraísos e aí pousasses
os dedos
devagar, como fazem as aves
quando
encontram o verão. Se me tivesses
tocado,
ter-me-ia desmanchado nos teus braços
como
uma escarpa pronta a desabar, ou
uma
cidade do litoral a definhar nas ondas.
Mas, afinal, foste tu que desenhaste mapas
nas minhas mãos - tristes geografias,
labirintos de razões improváveis,
tão curtas
linhas que a minha vida não
teve tempo
senão para pressentir-se.
Por isso, guardo
dos teus gestos apenas
conjecturas, sombras,
muros e regressos - nem sequer feridas
ou ruínas. E, ainda assim,
sem eu saber porquê,
as ondas ameaçam o lago dos
meus olhos.
O CANTO DO VENTO NOS
CIPRESTES
Maria do Rosário Pedreira
1 comentário:
Gosto muito da escritora Maria do Rosário Pedreira, sempre reproduzo poemas dela,
este é lindo_ uma entrega total e a constatação do vazio,
excelente escolha que eu agradeço
com abraços
Enviar um comentário