A
DOS CUNHADOS:
QUE NÃO SE PERCA A MEMÓRIA
Quem
esteve há dias em A dos Cunhados, numa iniciativa da Pró-Memória,
Associação Cultural e Etnológica, decerto ficou encantado com o que viu. Partindo
da compra das ruínas de uma antiquíssima azenha e juntando pecúlios vários –
colectas, subsídios, PEDIP e patrocínios diversos – aquela Associação iniciou a
reconstrução do equipamento de moagem bem como a da Casa do Moleiro, mesmo ao
lado. Embora ainda incompleto, o projecto de fazer ali um espaço museológico de
cariz etnográfico está muito adiantado. Por isso foi possível aos visitantes
apreciarem a Casa do Moleiro com os objectos e mobílias do quotidiano rural de
outrora e verem o primeiro casal de mós que já moem farinha. Nesse dia puderam
também assistir a um concerto de música coral numa sala da azenha, que é usada
para todo o tipo de iniciativas culturais e pedagógicas.
Tem
15 anos esta associação e o rol de actividades é impressionante, como pudemos
comprovar no opúsculo “15 anos de História”. Sempre com o objectivo de
preservar e divulgar o património local e de promover a cultura. Para que não
se perca a Memória.
* * *
EDIÇÕES
Uma das actividades mais assinaláveis da Associação
Pró-Memória tem sido a edição de obras de estudo do Património edificado. Para
além da monografia sobre a Azenha de Santa Cruz, em 2006, destacamos as que tratam
de A dos Cunhados.
A dos Cunhados – Itinerários da Memória
Coordenação de João Luís Inglês Fontes
Edição Pró-Memória, A dos Cunhados, 2002
«A dos Cunhados - Itinerários da Memória
é obra que se apresenta a si própria. Basta folheá-la com algum cuidado para
reparar na amplidão do assunto, na sistematização da matéria, na qualidade das
fontes...
O resultado aí está. A freguesia de A dos
Cunhados, o concelho de Torres Vedras e a respectiva zona estremenha dispõem, a
partir de agora, dum estudo de que muitas outras zonas importantes do país
carecem ainda. »(D. Manuel Clemente, Bispo do Porto)
Produto do trabalho de uma equipa de 10
autores coordenada por João Luís Fontes, esta monografia de A dos Cunhados é
exemplar e nada tem a ver com algumas de duvidosa qualidade que ultimamente têm
aparecido por aí.
* * *
Azenha de A dos
Cunhados
5 séculos de
História
Maria
Natália da Silva
Maria
da Graça Santa Cruz Lourenço
Ed.
Câmara Municipal de Torres Vedras,
colaboração
da Associação Pró Memória
de
A dos Cunhados,
Torres
Vedras, 2012
Notável
trabalho de pesquisa histórica e etnológica. Reconstitui-se a História desta Azenha
que recua até ao séc. XV. A posse da propriedade é acompanhada ao longo dos
séculos até chegar ao séc. XX e ao último proprietário, Lino Fernandes, que em
1969 terminou a actividade da Azenha que caiu em ruinas. A Associação Pró
Memória adquiriu-a com a finalidade de a reconstruir e transformar em Museu
inter-activo, o que se explica na segunda parte em que texto, fotos e esquemas
explicam em detalhe o funcionamento da azenha. Excelente apresentação gráfica de
Olga Moreira.
* * *
MEMÓRIA COLECTIVA, CONDIÇÃO DE SOBREVIVÊNCIA
Se é verdade que ninguém esbanja uma herança, então
a Defesa do Património deveria ser uma atitude natural. Porém, é com a maior
das facilidades que nos desfazemos de coisas que julgamos sem utilidade ou
valor.
O grande dilema do nosso tempo é que as coisas se
alteram muito rapidamente — os cenários, os objectos, os costumes — não dando
tempo para que o Tempo faça a sua selecção natural.
Normalmente tendemos a desvalorizar aquilo que nos
é próximo ou familiar e a valorizar o distante e o inacessível.
A questão parece residir em saber aquilo que tem ou
não tem valor, e que tipo de valor. De outro modo, trata-se de saber o que se esconde por
detrás de cada objecto, que história nos pode ele contar. Em resumo, de saber o
que é o Património Cultural!
(…)
O património Cultural é como um gigantesco icebergue
cuja face visível é apenas uma pequena parte do todo. À tona da água está
aquilo a que qualquer pessoa reconhece inegável valor — pela sua qualidade
artística ou monumental, quer pela nobreza dos seus materiais, quer pelo seu
significado histórico preciso — como é o caso de uma catedral, de um castiçal
de prata, ou de uma carta de foral.
Mas submersa está uma infinidade de outras peças, porventura
menos brilhantes, mas que no seu todo são importantíssimas para o conhecimento
da vida dos povos - tais como uma pedra facetada, um candeeiro a petróleo, uma
azenha caída em desuso, uma fotografia antiga.
É graças a estes elementos "pobres" do nosso
património que podemos hoje saber tantas coisas sobre vida dos que nos
antecederam.
A Memória é a mais fundamental das faculdades humanas.
Foi por ela que evoluímos. Será com ela que sobreviveremos.
Se isto é válido para o indivíduo, também o é para as
sociedades, que têm no Património Cultural a sua memória colectiva.
Quer
se trate da grande obra de arte ou da humilde ferramenta de trabalho, é o Homem que, através delas, se
nos revela!»
(J. Pedro Sobreiro, in: Torres
Cultural, Dezembro 1988)
NOTA
Os livros aqui referidos encontram-se à venda na sede da
Pró-Memória, na Azenha de A dos Cunhados.
Mais informações podem ser encontradas em www.promemoria.pt
Fotos(C)J Moedas Duarte
2 comentários:
Oi Joaquim
Estou um tempinho aqui no seu espaço a ler suas publicações e todas imperdíveis.
Quão maravilhoso é saber que ainda há alguns poucos que se interessam pelo Patrimônio do seu bairro, sua cidade, sue País.
Parabenizo a Associação Pró-Memória e sua equipe.Muito muito bom!
e agradeço sua partilha ,
Gostei também das edições anteriores, em 'Vozes do Alentejo_ o belo vídeo 'Senhor Del Mundo' e outros .
deixo abraços abraços abraços
Sempre agradecido! Sempre surpreendido pelos elogios. Encaminho-os para os poetas e outros escritores que iluminam o mundo.
Abraço
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