4.2.13

LUGAR ONDE -- 18 Janeiro 2013 - jornal BADALADAS



A DOS CUNHADOS:
               QUE NÃO SE PERCA A MEMÓRIA

Quem esteve há dias em A dos Cunhados, numa iniciativa da Pró-Memória, Associação Cultural e Etnológica, decerto ficou encantado com o que viu. Partindo da compra das ruínas de uma antiquíssima azenha e juntando pecúlios vários – colectas, subsídios, PEDIP e patrocínios diversos – aquela Associação iniciou a reconstrução do equipamento de moagem bem como a da Casa do Moleiro, mesmo ao lado. Embora ainda incompleto, o projecto de fazer ali um espaço museológico de cariz etnográfico está muito adiantado. Por isso foi possível aos visitantes apreciarem a Casa do Moleiro com os objectos e mobílias do quotidiano rural de outrora e verem o primeiro casal de mós que já moem farinha. Nesse dia puderam também assistir a um concerto de música coral numa sala da azenha, que é usada para todo o tipo de iniciativas culturais e pedagógicas.
Tem 15 anos esta associação e o rol de actividades é impressionante, como pudemos comprovar no opúsculo “15 anos de História”. Sempre com o objectivo de preservar e divulgar o património local e de promover a cultura. Para que não se perca a Memória.


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EDIÇÕES

Uma das actividades mais assinaláveis da Associação Pró-Memória tem sido a edição de obras de estudo do Património edificado. Para além da monografia sobre a Azenha de Santa Cruz, em 2006, destacamos as que tratam de A dos Cunhados.





A dos Cunhados – Itinerários da Memória
Coordenação de João Luís Inglês Fontes
Edição Pró-Memória, A dos Cunhados, 2002

«A dos Cunhados - Itinerários da Memória é obra que se apresenta a si própria. Basta folheá-la com algum cuidado para reparar na amplidão do assunto, na sistematização da matéria, na qualidade das fontes...
O resultado aí está. A freguesia de A dos Cunhados, o concelho de Torres Vedras e a respectiva zona estremenha dispõem, a partir de agora, dum estudo de que muitas outras zonas importantes do país carecem ainda. »(D. Manuel Clemente, Bispo do Porto)
Produto do trabalho de uma equipa de 10 autores coordenada por João Luís Fontes, esta monografia de A dos Cunhados é exemplar e nada tem a ver com algumas de duvidosa qualidade que ultimamente têm aparecido por aí. 


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Azenha de A dos Cunhados
5 séculos de História

Maria Natália da Silva
Maria da Graça Santa Cruz Lourenço
Ed. Câmara Municipal de Torres Vedras,
colaboração da Associação Pró Memória
de A dos Cunhados,
Torres Vedras, 2012

Notável trabalho de pesquisa histórica e etnológica. Reconstitui-se a História desta Azenha que recua até ao séc. XV. A posse da propriedade é acompanhada ao longo dos séculos até chegar ao séc. XX e ao último proprietário, Lino Fernandes, que em 1969 terminou a actividade da Azenha que caiu em ruinas. A Associação Pró Memória adquiriu-a com a finalidade de a reconstruir e transformar em Museu inter-activo, o que se explica na segunda parte em que texto, fotos e esquemas explicam em detalhe o funcionamento da azenha. Excelente apresentação gráfica de Olga Moreira.


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MEMÓRIA COLECTIVA, CONDIÇÃO DE SOBREVIVÊNCIA

Se é verdade que ninguém esbanja uma herança, então a Defesa do Património deveria ser uma atitude natural. Porém, é com a maior das facilidades que nos desfazemos de coisas que julgamos sem utilidade ou valor.
O grande dilema do nosso tempo é que as coisas se alteram muito rapidamente — os cenários, os objectos, os costumes — não dando tempo para que o Tempo faça a sua selecção natural.
Normalmente tendemos a desvalorizar aquilo que nos é próximo ou fa­miliar e a valorizar o distante e o inacessível.
A questão parece residir em saber aquilo que tem ou não tem valor, e que tipo de valor. De outro modo, trata-se de saber o que se esconde por detrás de cada objecto, que história nos pode ele contar. Em resumo, de saber o que é o Património Cultural!
(…)
O património Cultural é como um gigantesco icebergue cuja face visível é apenas uma pe­quena parte do todo. À tona da água está aquilo a que qualquer pessoa reconhece inegável valor — pela sua quali­dade artística ou monumental, quer pela nobreza dos seus ma­teriais, quer pelo seu significado histórico preciso — como é o caso de uma catedral, de um casti­çal de prata, ou de uma carta de foral.
Mas submersa está uma in­finidade de outras peças, por­ventura menos brilhantes, mas que no seu todo são importantíssimas para o conhecimento da vida dos povos - tais como uma pedra facetada, um candeeiro a petróleo, uma azenha caída em desuso, uma fotografia antiga.
É graças a estes elementos "pobres" do nosso património que podemos hoje saber tantas coisas sobre vida dos que nos antecederam.





A Memória é a mais funda­mental das faculdades humanas. Foi por ela que evoluímos. Será com ela que sobreviveremos.
Se isto é válido para o indi­víduo, também o é para as so­ciedades, que têm no Património Cultural a sua memória colec­tiva.
Quer se trate da grande obra de arte ou da humilde ferramen­ta de trabalho, é o Homem que, através delas, se nos revela!»
                                                                                        (J. Pedro Sobreiro, in: Torres Cultural, Dezembro 1988)




NOTA

Os livros aqui referidos encontram-se à venda na sede da Pró-Memória, na Azenha de A dos Cunhados.
Mais informações podem ser encontradas em www.promemoria.pt


Fotos(C)J Moedas Duarte

2 comentários:

lis disse...

Oi Joaquim
Estou um tempinho aqui no seu espaço a ler suas publicações e todas imperdíveis.
Quão maravilhoso é saber que ainda há alguns poucos que se interessam pelo Patrimônio do seu bairro, sua cidade, sue País.
Parabenizo a Associação Pró-Memória e sua equipe.Muito muito bom!
e agradeço sua partilha ,
Gostei também das edições anteriores, em 'Vozes do Alentejo_ o belo vídeo 'Senhor Del Mundo' e outros .
deixo abraços abraços abraços

Joaquim Moedas Duarte disse...

Sempre agradecido! Sempre surpreendido pelos elogios. Encaminho-os para os poetas e outros escritores que iluminam o mundo.
Abraço