Alguém me chamou a atenção para a iniciativa do jornal PÚBLICO: a publicação da discografia completa de Mário Viegas.
A edição é da responsabilidade de José Niza que conheceu muito de perto MV e com ele trabalhou muitas vezes.
O trabalho apresenta-se em forma de livros "maneirinhos" (21 x 14 ), 80 pág, 14 livros no total, publicados às Terças -F., ao preço de 8 €.
Na contra-capa de cada livro vem um CD com os poemas na voz de MV.
O conteúdo dos livros, para além dos poemas ditos, apresenta memórias, curiosidades, informações diversas e muitas fotos.
Digo: vale a pena! Mário Viegas foi um extraordinário leitor de poesia, que declamava com um estilo inconfundível: clareza, contenção, inflexões subtis, humor, dramatismo sem espalhafato, ternura...
Lá estão o clássico "Palavras Ditas", seu primeiro disco, com uma soberba recitação do poema de Vinícius de Moraes, «Sob o Trópico de Câncer», entre outros de António Gedeão, Alexandre O'Neill, Manuel Alegre, Daniel Filipe, Jorge de Sena...
...o «Operário em Construção», de V. de Moraes;... a «Invenção do Amor» de Daniel Filipe...e muito outros, sendo os 4 últimos CD's constituídos por inéditos que faziam part do espólio de MV, em cassettes gravadas ao vivo, ou gravações que foram proibidas (MV começou ainda no tempo de Marcelo Caetano).
Recordo MV, quando andávamos no Liceu de Santarém... como meu colega no Curso de História da Faculdade de Letras de Lisboa... quando me levou a ver "O Grande Teatro do Mundo", de Calderon de La Barca, pelo Teatro Universitário de Coimbra... nas fabulosas interpretações na peça "José do Telhado", da figura de D. João VI, em «À espera de Godot»...
Como recordo a minha falta de paciência para a sua última fase: já muito doente, candidatou-se a Presidente da República, em 1986, pedindo a todos os amigos a recolha de assinaturas para formalizar o processo. Era a sua última e desesperada forma de dizer que os ideais do 25 de Abril tinham sido traídos.
Mas Mário Viegas está vivo em cada poema que nos deixou na sua voz única.
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