27.4.07

A História ainda serve para alguma coisa?





Jacques Le Goff é um dos maiores historiadores de sempre. Especialista em Idade Média europeia, escreveu vários livros essenciais sobre este período histórico: " A Civilização do Ocidente Medieval"; "O Imaginário Medieval"; "Os Intelectuais na Idade Média". A Editora Temas e Debates vai agora publicar "A Idade Média Para Principiantes", deste autor. A Editora Teorema publicará "Por Amor das Cidades".

À questão central de saber se a História e o seu estudo ainda servem para alguma coisa, Jacques Le Goff respondeu ( Ver : Jornal de Letras, 25 de Abril 2007 ):

«Temos de mostrar que a História existe, não devemos limitar-nos a contar História. Devemos mostrar que há uma relação entre o passado e o presente, devemos fazer com que os estudantes sintam o seu peso positivo ou negativo, sintam a presença da História na actualidade e, se possível, nas suas vidas pessoais.»

Sobre o papel dos professores de História:

« Parece-me que o papel do professor é, sobretudo, o de dar vontade aos estudantes de conhecer o essencial da História e de compreendê-la. E não obrigá-los a decorar factos e circunstâncias.»

Partilho esta perspectiva, que ouvi pela primeira vez, de forma desassombrada, a uma professora de História, já aposentada: "Não me interessa que os alunos saibam muita História. Prefiro que fiquem a gostar de História".

A maioria das pessoas que me dizem detestar a História explicam essa aversão pelo facto de terem sido obrigadas a decorar montes de factos e datas que esqueceram rapidamente.
Pelo contrário, os que gostam de História referem muitas vezes ter tido professores motivadores, aulas interessantes, debates frequentes, encorajamento de pesquisas pessoais.

A um professor de História pede-se que ajude os alunos a saberem procurar informação, a seleccioná-la, a entendê-la, a relacioná-la.

- Ah! Mas no meu tempo não era nada disso. Eu aprendi os reis todos de Portugal, com os cognomes e tudo!

Pois é. Mas infelizmente o saber histórico acaba aí. Estes adultos saudosos da sua aprendizagem tradicional, têm mas é saudades da infância. De um modo geral são tremendamente ignorantes àcerca dos mais triviais conhecimentos históricos. E não sabem onde procurá-los. No entanto, eles abundam por aí: nunca houve tantas enciclopédias, sites na Internet, livros, romances históricos, passeios turístico-culturais.

Só há um modo de compreender o presente em que vivemos: estudar a História que o explica.

Jacques Le Goff: um historiador a reler.

3 comentários:

Anónimo disse...

como o sr. Le Golf tem razão! garante um 'zero à esquerda' em História durante a sua vida escolar que 'arranca' um 19 em exame de 5º ano (vejam só de que tempos eu serei...) apenas porque nesse único ano teve uma professora 'diferente'. A fase curricular de um mestrado em História (sou formada no antigo ramo de Ciências - com uma incursão bem sucedida nas actuais humanísticas)mostrou-me como a minha paixão desse tal 5º ano poderia ter-me traçado uma história de vida bem oposta - bastar-me-ia ter tido um PROFessor de História 'ó sério'! Quantos de nós nos perdemos - nas mais diversas áreas - pela qualidade dos profs que nos 'calharam em sorte'
Uma professora que tenta (sempre) fazer a diferença

Joaquim Moedas Duarte disse...

Percebo! Esse foi o percurso de muita gente. Hoje pouco exijo dos alunos quanto ao papaguear factos memorizados à pressa, em véspera de teste. Treino-os, sobretudo, a ler e interpretar textos, gravuras, fotografias,etc. Há tanta informação disponível em tanto sítio que não se entende a necessidade de carregar os "discos rígidos" cerebrais.
Mas, atenção: há coisas que são de memorizar, até porque esse exercício é saudável. Mas com conta e peso...

avelaneiraflorida disse...

A memória " procura salvar o passado para servir o presente e o futuro. Devemos trabalhar de forma a que a memória colectiva sirva para a libertação e não para a servidão dos homens"

Jacques Le Goff