No dia em que visitámos a Serra de Montejunto fomos também a Runa, mais concretamente ao Hospital Real (ao qual deram há poucos anos um nome anódino: Centro de Apoio Social de Runa )fundado pela Princesa D. Maria Francisca Benedita. É uma visita que se impõe a quem quiser conhecer o Património Histórico de Torres Vedras. Não me vou alongar. Transcrevo apenas parte de um texto que fiz há anos para a revista "Oeste Cultural (2002) e que alguém "pirateou" para o site do Inst. Social das Forças Armadas - tudo bem, em nome da divulgação do nosso património.
Queridas colegas que me acompanharam nesse dia: aqui fica a Princesa, em vossa homenagem!
A Princesa
A Princesa Maria Francisca Benedita nasceu em Lisboa, no dia 25 de Julho de 1746. Foi a quarta e última filha do rei D. José e D. Mariana Victória de Bourbon, neta de D. João V e da Casa Real de Espanha pela via materna. Suas irmãs D. Maria, que viria a ser rainha de Portugal, a primeira desse nome, D. Mariana Josefa, com quem partilhou dotes de pintura, ainda hoje observáveis num painel de uma das capelas laterais da Basílica da Estrela, assinado pelas duas princesas e D. Maria Francisca Doroteia.
Foi baptizada na Sé Patriarcal de Lisboa pelo Cardeal D. Tomaz de Almeida. Recebeu um nome extenso, como era uso na realeza: D. Maria Francisca Benedita Ana Isabel Josefa Antónia Lourença Inácia Gertrudes Rita Joana Rosa.
Em 21 de Fevereiro de 1777 D. Maria Francisca Benedita casou com seu sobrinho, D. José, o primogénito de D. Maria. Ela tinha 30 anos, ele 15. A desproporção que hoje nos parece insólita, não o era na época, tendo em conta que os casamentos eram ajustados por conveniência e raramente por afinidade afectiva. As razões de Estado, a exigência aristocrática de casar princesas e príncipes e a tremenda mortalidade infantil própria da época eram os factores que reduziam drasticamente as possibilidades de escolha. Os cruzamentos das casa reais da Europa eram disputados e negociados arduamente pelas diplomacias. As diligências de casamento eram muitas vezes iniciadas quando os interessados estavam ainda na primeira infância.
Depois de enviuvar e de um difícil período de nojo, decidiu empregar os seus bens na construção de uma instituição verdadeiramente inovadora para o tempo. Podia ter optado por mais um convento ou uma igreja em Lisboa, o que lhe daria prestígio imediato entre os seus pares da nobreza e créditos espirituais entre o clero. Não o fez, escolhendo o projecto arrojado e corajoso de Runa ao qual dedicou o resto da vida.
Os retratos que a representam, pintados ou em gravura, e que se encontram em Runa e no Museu dos Coches, mostram uma mulher de grande formosura. Teve uma educação à altura da sua condição social, que encontrou terreno fértil em dotes assinaláveis de inteligência e sensibilidade artística. Conhecem-se os seus mestres, contratados pelo rei D. José, ele próprio um apaixonado das Belas-Artes: David Perez, célebre maestro de Nápoles, deu-lhe lições de música. Em Runa encontra-se ainda um órgão móvel do séc. XVIII, muitas vezes tocado pela Princesa. Mas não foi só na música: declamava e comentava poesia em diversas línguas, das quais o inglês, o espanhol, o francês e o italiano, que falava correctamente. Na pintura e no desenho deixou uma obra artística que, sendo académica, se reconhece como representativa do gosto da época, pois teve mestres de nomeada: o pintor Domingos Rosa, provavelmente Domingos de Sequeira e o gravador Joaquim Carneiro da Silva.
A peça de arte mais conhecida da Princesa é a famosa custódia, executada a partir de um desenho seu e que se pode admirar no museu de Runa.
Quem hoje for ao Panteão Real dos Braganças, junto à Igreja de S. Vicente de Fora, em Lisboa, encontrará as singelas arcas tumulares do Príncipe D. José e da Princesa D. Maria Francisca Benedita, uma sobre a outra, com os nomes gravados na pedra. Parece pouco para quem tanto viveu.
1 comentário:
Querido colega
Obrigada por nos teres acompanhado como um verdadeiro príncipe!
Enviar um comentário