19.4.07

LUGAR ONDE - Jornal BADALADAS - 20 ABRIL



Percurso de vida

António Ramos Rosa nasceu em Faro a 17 de Outubro de 1924. Publicou mais de 50 de volumes de poesia, para além de uma importantíssima reflexão crítica que entre artigos, recensões e prefácios ultrapassa largamente a centena, estudos imprescindíveis para o conhecimento da Arte e, ainda que de forma indirecta, da sua própria poesia. Acresce ainda a esta incomensurável produção a sua actividade incessante de tradutor. Foi fundador e director de revistas como a «Árvore» (1951-53), «Cassiopeia» (1955) ou os «Cadernos do Meio-dia» (1958), que se viram, as duas primeiras, a braços com a censura. Nestas revistas, norteadas pela fuga ao provincianismo – ou, se se preferir, a um certo “provincialismo presencista” (como diria Mourão Ferreira) - o eco das vanguardas na sua dimensão mais afirmativa foi uma meta procurada, convocando-se para as suas páginas vozes de dentro e de fora. A arte nunca teve fronteiras.Pelo mérito da sua obra e pelo seu perfil humano, António Ramos Rosa foi já objecto de importantíssimos prémios literários, nacionais e internacionais, como, por exemplo: Prémio de Tradução da Fondation de Hautvilliers (1976), Prémio do Centro Português da Associação de Críticos Literários e Prémio PEN Club de Poesia (1980), Prémio Pessoa (1988), Grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores (1991), Prémio da Bienal de Poesia de Liège (1991), Prémio de Poeta Europeu da Década (1991), Prémio Jean Malrieu (1992), bem como lhe foram concedidas várias comendas: Mestre da Ordem Militar de Santiago de Espada (1992) e a Grã Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (1997). ( Palavras da cerimónia de entrega a A. Ramos Rosa do doutoramento honoris causa pela Universidade do Algarve, 2003 )


POEMAS

Quando te vi senti um puro tremor de primavera
e a voluptuosa brancura de um perfume
No meu sangue vogavam levemente
anémonas estrelas barcarolas
O silêncio que te envolvia era um grande disco branco
e o teu rosto solar tinha a bondade de um barco
e a pureza do trigo e de suaves açucenas
Quando descobri o teu seio de luminosa lua
e vi o teu ventre largamente branco
senti que nunca tinha beijado a claridade da terra
nem acariciara jamais uma guitarra redonda
Quando toquei a trémula andorinha do teu sexo
a adolescência do mundo foi um relâmpago no meu corpo
E quando me deitei a teu lado foi como se todo o universo
se tornasse numa voluptuosa arca de veludo
Tão lentamente pura e suavemente sumptuosa
foi a tua entrega que eu renasci inteiro como um anjo do sol

António Ramos Rosa,
in "O teu rosto", 1994



Em qualquer parte um homem

Em qualquer parte um homem
discretamente morre.

Ergueu uma flor.
Levantou uma cidade.

Enquanto o sol perdura
ou uma nuvem passa
surge uma nova imagem.

Em qualquer parte um homem
abre o seu punho e ri.

António Ramos Rosa,
in "O grito claro", 1958



1 comentário:

biabisa disse...

Olá ! O ano passado por esta altura mais ou menos, fui, a convite da Associação Portuguesa de Escritores, à homenagem que a Câmara de Faro prestou a este Homem. Desde o local onde nasceu e foi criado, até a uma tertúlia maravilhosa, durante um fim de semana eu conheci bem a sua escrita, a sua vida e até o seu mau feitio. Gotei imenso.