O que se está a passar com o Estatuto da Carreira Docente é muito grave. O Ministério da Educação propõe a criação de dois tipos de professor dentro das escolas.
Se essa distinção correspondesse a conteúdos funcionais diferentes, entender-se-ia a proposta. ( Ex: Os professores de tipo A vão fazer as tarefas 1,2,3,4. Os de tipo B vão fazer as tarefas 5,6,7,8.)
Mas as escolas não funcionam (nem é possível que venham a funcionar!) assim. Porquê?
Porque todos os professores têm que realizar a tarefa nº 1: ministrar aulas. Se o não fizerem é porque não são professores. Um professor, por definição, dá aulas. Esse é o seu trabalho. Essa é parte de 60% do seu dia, sendo o restante a preparação e a avaliação dos alunos fora da aula.
Claro, há outras tarefas: ser Director de Turma (na minha escola há cerca de 90 professores e 27 turmas. Portanto só pode haver 27 Directores de Turma). Ser Coordenador de Departamento e de Grupos de trabalho ( em número variável, conforme o modo como a escola se organiza). Ser membro dos órgãos de gestão.
Ora parece justo que, sendo estas as tarefas supranumerárias em relação às aulas, a haver distinção entre professores, ela deve ser feita pagando tais tarefas quando e enquanto são cumpridas. Quando o não forem, não se pagam.
Isto já eu aceitava pois, de facto, há professores que trabalham muito dentro das escolas e outros nem tanto. Mas isso é assim porque há trabalhos diferentes a fazer, como exemplifiquei acima. E há rotatividade para não castigar sempre os mesmos.
Para as realizar, o professor tem de fazer formação? Que faça. Mas, à partida não se pode dizer que na escola tal há 27 Directores de Turma, (sempre os mesmos), e mais X Coordenadores, mais X na gestão, etc. Isso não faz sentido porque todas as tarefas são, por definição, rotativas, não há cargos vitalícios, eles fazem parte do ser professor, são extensões naturais da docência.
Claro que deve fazer-se a avaliação de todo este trabalho! Mas se ela não tem sido bem feitaaté agora é porque o Ministério da Educação nunca a regulamentou, tal como lhe era exigido pelo actual Estatuto da Carreira Docente.
Isto que parece evidente para quem trabalha na escola há 35 anos ( sim, sou professor há trinta e cinco anos!), não o é para o ME e 1º Ministro. Porquê?
Estou à espera desde o início que o Ministério da Educação apresente, juntamente com o "seu" ECD, o modelo correspondente de organização de escola. Essa era a sua obrigação, para percebermos a bondade da sua proposta para o sucesso escolar dos alunos. Mas não o faz. Porque sabe que esse ECD é impraticável. Deixa para um futuro Ministro de Educação a tarefa de realizar a quadratura do círculo.
Então aquela gente é destituída de inteligência?
Não o creio. São apenas obstinados que seguem cegamente a orientação do seu Primeiro que manda cortar despesas. E els cortam. Cegamente. Quem vier atrás há-de fechar a porta.
3 comentários:
Não só É GRAVE, como ULTRAJANTE!!!
32 anos de ensino, muitas coisas aprendidas, erros cometidos, frustações, momentos únicos, sei lá, toda a minha vida!!!!! EM EXCLUSIVO!!!!!
Quando me deixaram entrar na profissão, QUE EU ESCOLHI, disseram-me que teria de cumprir 36 anos!!!!!
Agora, dizem-me que,afinal, são SÒ MAIS 15!!!!!!!!!!!!
Faço das "Tripas coração" e tento não vomitar enquanto leio "propostas de ecd's" e coisas quejandas.... E juro que só volto cada manhã a entrar numa sala de aula porque estão lá uns rostos que me dizem que isso é IMPORTANTE!
"O bom professor é aquele que mostra alegria em dar aulas" - isto escreveu-me uma aluna num dia de avaliação mútua do meu trabalho e do deles.
O que esta equipa ministerial está a fazer é tirar-nos essa alegria. O teu caso, querida Avelã, é o de muitos colegas, no limite do desalento.
O trágico é que, quando sair esta equipa, virá outro governo com uma Manuela F. Leite de dentes caninos fora dos beiços, ainda mais sedenta que a actual.
Anos e anos de desgoverno e saque só podiam dar nisto: cortes naqueles que não podem defender-se.
O meu cepticismo moderado está a entrar em fase aguda. Emigrar para onde?
lol! ...e eu, quando entrei no ensino, que não atingiria nunca a reforma, e que passados uns tempitos me via reformada (por inteiro)cedo, tão jovem!... Agora, acho que já não estarei assim tão jovem. mas ainda consigo ser reformada (pelo inteiro qualquer que seja a percentagem da altura)... Tb acho que já não sou assim tão jovem, mas tenho capacidade de trabalho e alguma sabedoria acumulada que aliada a alguma inteligência e a muito amor (pelo que faço), me fariam sentir mal a usufruir da riqueza do trabalho de outros (jovens e a ganhar mal). O que me faz sentir mal, mesmo mal, é não ver avaliadas as reformas sucessivas a que o ensino tem sido submetido e ver toda uma classe vilipendiada na (c... - desculpa, ia sair cloaca) boca da ministra actual! Continuo apaixonada pela minha profissão!
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