23.2.07

Zeca Afonso morreu há vinte anos.




Já passaram 20 anos! Recordo o funeral, em Setúbal, com uma enorme multidão e a nossa certeza de que o mundo iria ficar mais frio, mais pobre.

Com a devida vénia, transcrevo ( e subscrevo! ) as palavras de "O Jumento", sobre José Afonso:

Pelos seu sonhos e utopias porque vivemos tempos em que deixou de haver espaço para sonhar, as ideologias implodiram e a grandeza dos projectos políticos é medida pela reacção do PSI20. Talvez os tempos sejam outros, talvez a esquerda do Zeca tenha dado lugar a uma outra que é tanto melhor quanto mais eficaz for a aplicar o que a direita não conseguiria implementar, talvez o mundo já não seja o do Zeca Afonso, mas esse mesmo mundo está carente da generosidade, da ética, do desinteresse de muitos homens do tempo do Zeca, de muitos que estavam ao seu lado e de outros tantos que partilhando muitos dos seus valores estariam do outro lado.

Concorde-se ou não com as suas utopias, Zeca Afonso deixou-nos um legado de grandeza humana, de generosidade e de ética política que à medida que o país se dissolve na pequenez de muitos dos que se diz serem a classe política se agiganta cada vez mais. Para além de um grande poeta cantor, Zeca Afonso foi um dos grandes homens do seu tempo, um tempo em que havia homens grandes.

Tenho saudades do Zeca Afonso, da liberdade de sonhar, do prazer de se poder ter utopias, dum país onde os valores eram mais importantes que a percentagem do PIB que viaja no avião do primeiro-ministro e onde havia mais igualdade por maiores que fossem as desigualdades.

3 comentários:

avelaneiraflorida disse...

Aprendi a ouvir ZECA num enorme liceu feminino,antes de 74, num velho giradiscos, baixinho, não fosse alguém ouvir lá fora...
E passava-se isto tudo...NA AULA DE RELIGIÂO E MORAL!!!!
Obrigada,Professora!
Que saudades dessas aulas, das colegas... porque o ZECA, esse ficou para SEMPRE!

Anónimo disse...

O Portugal de hoje não é o do Zeca e da geração do Zeca. Essa na sua grande medida "vendeu-se" e esqueceu os grandes ideais de Abril. É o mundo no seu eterno girar.
No entanto para a minha geração, aquela que está a bater nos trinta, as palavras que me ocorrem para descrever o desânimo são dele: "Não me obriguem a ir para a rua gritar" , ou "Quando o pão que comes sabe a merda"

Joaquim Moedas Duarte disse...

Partilho essa visão. Consolo-me pensando que a História é como o mar: vive ao ritmo das marés, praia-mar... baixa-mar...

Estamos em maré de refluxo. Acredito - quero acreditar!! - no futuro.