24.6.07

TEU NOME

Daniel Filipe
Autor do inesquecível poema A INVENÇÃO DO AMOR, grito inconformista e libertário.
Recordo hoje o soneto que Mário Viegas dizia com tanta seriedade e ressonâncias de sentido na sua voz calma. Daniel Filipe deixou outros poemas muito belos. Os livros são fáceis de encontrar, na colecçãoForma da Ed. Presença.





Teu nome, teu disfarce, tua ausência
do círculo familiar, a tua viagem,
tua febre, tua recusa e anuência
teu estar connosco e, entanto, à nossa margem.

Teu corpo, teu sentido, tua luta,
teus olhos fundos, teu perfil estranho,
teu quarto, teu refúgio, cela, gruta,
teu gado fugidio, teu amanho.

Teu riso inesperado, teu mistério,
teu sereno dormir, tua lembrança,
teu não acreditar no Quinto Império,

teu vivo exemplo, tua confiança,
teu sílex interior, teu rosto sério,
teu modo de ensinar-nos a esperança.

Daniel Filipe


Em 1925 nasceu Daniel Damásio Ascensão Filipe na ilha da Boavista, em Cabo Verde. Ainda criança, veio para Portugal onde fez os estudos liceais. Poeta, foi colaborador nas revistas Seara Nova e Távola Redonda, entre outras publicações literárias. Combateu a ditadura salazarista, sendo perseguido e torturado pela PIDE. Num curto espaço de tempo, a sua poesia evoluiu desde a temática africana aos valores neo-realistas e a um intimismo original que versa o indivíduo e a cidade, o amor e a solidão. Faleceu em 1964 em Cabo Verde.

Jornalista e poeta. Co-director dos cadernos “Notícias do Bloqueio”, colaborou também assiduamente na revista “Távola Redonda” e realizou, na Emissora Nacional, o programa literário “Voz do Império”. Daniel Filipe iniciou a sua actividade literária em 1946 com Missiva, seguindo-se Marinheiro em Terra (1949), O Viageiro Solitário (1951), Recado para a Amiga Distante (1956), A Ilha e a Solidão (1957) – Prémio Camilo Pessanha; o romance O Manuscrito na Garrafa (1960), A Invenção do Amor (1961) e Pátria, Lugar de Exílio (1963). O amor e a solidão, o indivíduo e a cidade recortam-se nos seus versos com acentos originais, fluentes e por vezes inesquecíveis.

6 comentários:

avelaneiraflorida disse...

Recordo o saudoso Mário Viegas!!!
Ouvi-o muitas vezes e aprendi muito!!!
Chegava a "tentar imitá-lo" no dizer poesia...COMO SE ISSO FOSSE POSSÍVEL????

Daniel Filipe e Mário Viegas...um duo inesquecível!

zetrolha disse...

A invenção do amor...quero crer que ultimamente o laboratório está fechado!O ódio tem tido mais saída.

Joaquim Moedas Duarte disse...

Infelizmente, Zé!
Mas há muito amor escondido...Há muitas pessoas que tratam doentes, idosos, crianças.
Esses seguram o mundo!

Gasolina disse...

É bom começar o dia com estas palavras.

Obrigado.

Anónimo disse...

As palavras essenciais põem ordem no caos. Isso pode ser caminho de paz interior.
Obrigado pela visita.

Anónimo disse...

Thanks to the blog owner. What a blog! nice idea.