7.5.07

Engenheiros...



Confesso que não pude resistir. Sim, eu sei: a tal história já satura. Mas deu-me vontade de rir quando hoje peguei casualmente neste livro.

Em muitos aspectos Fernando Pessoa foi um precursor. Sendo os heterónimos uma manifestação de pluripersonalidade, são igualmente um sinal premonitório do mal-estar contemporâneo, o "mal de vivre" do homem ocidental apartado da Natureza e alienado por solicitações impossíveis de atingir.

Fernando Pessoa teve uma vida sócio-profissional vulgaríssima e rotineira. Mas foi grande, foi ENORME na sua vida mental. Criou um universo único, que exprimiu através de uma obra literária espantosa.

A famosa arca dos seus inéditos continua a dar novidades aos muitos investigadores que nela mergulham as mãos e a curiosidade. Este livro até nem é recente, teve a sua primeira edição em 1990, revista na 2ª edição de 1992. Introdução, Organização, transcrição e Notas de Teresa Rita Lopes, reconhecida especialista da obra de Pessoa.

Como acontece a muito boa gente, Fernando Pessoa contava viver muitos mais anos. Tinha projectos a longo prazo para a obra literária, que ele via como o grande desígnio do seu destino. Mas era, como todos os sonhadores, um ser extremamente indisciplinado e desorganizado. A arca dos inéditos é a prova disso. Ele ia escrevendo, escrevendo, escrevendo, de acordo com a disposição do momento. E um dia mais tarde contava organizar aquilo tudo. A morte apanhou-o desprevenido. É certo que não se levava muito a sério e talvez fosse issso, a par do tédio e do desamparo afectivo, a principal causa da desorganização da papelada que deixou em herança.

De qualquer modo sabemos que ele tinha projectos. Teresa R. Lopes prova-o com esta recolha.

Transcrevo o primeiro parágrafo:
"Vida e Obras do engenheiro Álvaro de Campos"- sob este título projectava Pessoa reunir as obras e os apontamentos biográficos que, conjuntamente, constituiriam a ficção por excelência da sua produção heteronímica. É significativo que previsse no mesmo apontamento a publicação conjunta das obras de Alberto Caeiro, Ricardo Reis e António Mora, reunidas estas por um outro título e uma outra ficção: "Na Casa de Saude de Cascaes" (sic).

De vez em quando apetece-me saber notícias da arca de Pessoa...


Arca e estante de Fernando Pessoa

6 comentários:

avelaneiraflorida disse...

As ARCAS são sempre FANTÀSTICAS!!!!

Pode não ser a de Pessoa, especificamente, mas tantas outras!!!!!

Alíás, cada um de nós, pode ser uma delas!!!!

Joaquim Moedas Duarte disse...

Aquilino Ribeiro falou nas "Arcas Encoiradas". Esta designação, que se referia a um tipo de arca muito comum no século XIX, acabou por se estender a outra realidade mais prosaica e de carácter moral: significa o tipo de pessoa que esconde ressentimentos.
"Eu não sou de arcas encoiradas!" - era uma expressão vernácula para dizer que se era uma pessoa transparente.

Eu sei, Avelã, que não era nada disto que querias dizer. Referias-te à riqueza interior das pessoas, verdadeiras arcas do tesouro quando estamos na presença de certas pessoas...

avelaneiraflorida disse...

Isto só lá vai com um duelo!!!!!

Escolha as armas!!!! e os padrinhos, meu caro!!!!!

Nómada disse...

Proponho como armas de duelo uns bolinhos da avó Gama regados a chá de maçã e canela!
Em alternativa: um cozidinho à portuguesa no Manadinhas com tintinho da casa!
Escolha, caríssima senhora!

avelaneiraflorida disse...

Estas propostas são DESONESTAS!!!!!

Um duelo como deve ser: com "Prós" e "Contras"...

Nómada disse...

Amanhã conversamos, hoje já tenho sono. Se o duelo fosse à pistola acho que acertava nos meus atacadores...